Os capitães da areia contra o capitão do mato
Em meio à pandemia, a maioria da população desta terra arrasada amarga as chagas do esquecimento. Talvez os trinta mil mortos desejados há anos por Bolsonaro venham à tona sem precisar de sua propalada guerra civil. Só que o vírus, vale lembrar ao capataz, não escolhe opressores e oprimidos
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A situação brasileira vigente me faz rememorar a obra-prima de Jorge Amado. Com seu enredo enternecedor, tratando de crianças abandonadas roubando e lutando para sobreviver em Salvador, é estampada e revelada uma face obscura do Brasil que teima em se reproduzir diariamente: os herdeiros dos escravizados continuam à esmo nas ruas, nos centros das capitais, nos becos e vielas das favelas, “sobrevivendo no inferno”.
Já o capataz-mor, ou dele o herdeiro, o atual capitão do mato da fazenda Brasil – cujo proprietário se encontra no engenho White House -, mostra, incessantemente, que o desprezo por pretos-pobres-favelados é a marca registrada de sua despolítica. Em meio à pandemia, a maioria da população desta terra arrasada amarga as chagas do esquecimento. Talvez os trinta mil mortos desejados há anos por Bolsonaro venham à tona sem precisar de sua propalada guerra civil. Só que o vírus, vale lembrar ao capataz, não escolhe opressores e oprimidos.
O capitão, continuando a viagem metafórico-literária, é o retrato fidedigno da obediência e da sujeição que carregavam os capitães do mato em relação aos seus patrões: é, tragicomicamente, só mais um serviçal que aspira à aceitação e ao reconhecimento por parte do seu senhor de engenho. A aberração que tomou conta do Palácio do Planalto, nesse sentido, entrará para a história tão somente como um vassalo ignorante e submisso aos mandos do seu chefe do norte. Se é para delirar e anunciar a cura do vírus, por exemplo, fazendo um beautiful lobby para o atual dono da capitania hereditária Brasil, Mister Pato Donald Trump, que assim seja. O mote é a vassalagem e a esculhambação escancaradas.
De suma importância e urgência, portanto, extirpar o vírus e o verme simultaneamente. E para tanto, assim como foi compreendido por Pedro Bala, o líder dos Capitães da Areia do supracitado autor, é preciso que a consciência de classe se impregne, adentrando morros, palafitas e barracos, nos poros e mentes dos pobres e desassistidos, que eles saibam e compreendam o processo incessante de espoliação da qual são parte central há séculos.
Roubaram suas almas e lhes trituraram a dignidade. Em contrapartida, demora, em cada pobre brasileiro, um capitão da areia pronto para despertar. O morro, abarrotado de “irrequietas criaturas sobreviventes de chacinas e das leis do cão”, há de descer; Bolsonaro e sua corja, herdeiros dos algozes dos quilombos, hão de cair.
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