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Os Estados Unidos não são a democracia que o mundo pensa que são

O sistema político dos Estados Unidos é dos mais excludentes do mundo e favorece distorções como a que ocorreu em 2016, quando, apesar da maioria dos eleitores haver votado na democrata Hillary Clinton, quem venceu foi o republicano Donald Trump

U.S. President-elect Donald Trump greets supporters during his election night rally in Manhattan, New York, U.S., November 9, 2016. REUTERS/Mike Segar (Foto: Paulinho Oliveira)
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Muitos incautos veem os Estados Unidos como modelo de democracia mundial. Vários órgãos de imprensa no Brasil, em clara posição de subserviência à mega-potência norte-americana, reproduzem tal conceito elogioso da democracia de lá. Mas, longe de ser perfeito, o sistema político dos Estados Unidos é dos mais excludentes do mundo e favorece distorções como a que ocorreu em 2016, quando, apesar da maioria dos eleitores haver votado na democrata Hillary Clinton, quem venceu foi o republicano Donald Trump.

Não vou, neste artigo, entrar no mérito do que significa a vitória de Trump para o mundo e para o Brasil, pois o tema aqui é outro. O objetivo é tentar traçar uma diferenciação entre o sistema eleitoral de lá e o daqui. Podem muitos achar absurdo o que vou dizer, mas o Brasil, mesmo com suas imperfeições, está à frente dos Estados Unidos no quesito eleições e democracia.

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O sistema eleitoral americano segue uma regra elaborada ainda no Século XVIII, ou seja, de entregar os destinos da população ao chamado Colégio Eleitoral, cujos delegados, na prática, acabam votando de acordo com o que seus respectivos estados decidiram. Assim, o voto popular acaba ficando em segundo plano, o que fez com que Trump vencesse as eleições, mesmo tendo perdido no voto popular para Hillary por 47,7% para esta contra 47,5% para aquele. Em número de delegados, Trump teve 308, contra 228 de Clinton.

Muitos não sabem, mas o sistema político norte-americano não é bipartidário. Não se resume aos partidos Democrata e Republicano. Nas eleições de 2016, concorreram a presidente, além de Hillary e Trump, Jill Stein, do Partido Verde, e Gary Johnson, do Partido Libertário, além de outros candidatos independentes. No entanto, nenhum dos postulantes de fora dos partidos Democrata e Republicano têm reais chances de vencer, pois, para os dois grandes partidos, circula o maior volume de recursos financeiros que abastecem suas respectivas candidaturas.

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Ou seja, para um cidadão norte-americano realmente ter chance de exercer a política com chances de fazer uma carreira vitoriosa, ainda que seja um idealista, é preciso ter dinheiro. Caso contrário, viverá sempre no ocaso, desconhecido. Ou alguém já ouviu falar de Gary Johnson ou Jill Stein, a não ser pesquisando a fundo sobre as eleições norte-americanas? A depender do que a mídia conservadora divulga, as eleições só tiveram Clinton e Trump, e nada mais.

Imaginemos então um pobre norte-americano (sim, eles existem, são 45 milhões de cidadãos que vivem abaixo da linha da pobreza por lá) que queira mudar para melhor a vida de seu povo, reduzir a desigualdade, combater o racismo, dar a todos acesso pleno à saúde e à educação. Teria esse pobre acesso às estruturas de poder dos partidos Democrata e Republicano para ter chances de disputar o poder em seu país? Não é o que revela a história, quando se sabe que a força do dinheiro, ou seja, a proximidade do pretenso presidente com quem financia o capitalismo internacional, é o que, de fato, determina quem pode e quem não pode ser presidente dos Estados Unidos da América.

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O mais grave, e que também não é revelado pela mídia subserviente de países como o Brasil (talvez pelo complexo de vira-latas), é que há locais de votação que impõem inúmeros obstáculos àqueles que querem exercer o direito de voto (que, nos Estados Unidos, não é obrigatório). Restrições a condenados (mesmo depois de cumpridas suas penas), a negros, a pobres, a trabalhadores são frequentes em vários estados do país. Além disso, a obrigatoriedade de se apresentar documento com foto é empecilho para muitos pobres que não têm como pagar para a obtenção de tais documentos, que não são gratuitos nos Estados Unidos. Coincidentemente, segundo pesquisas históricas daquele país, a maior parte dos eleitores impedidos tende a votar no partido Democrata. Foi assim, impedindo o voto desses eleitores por métodos questionáveis, que George W. Bush ganhou a eleição de 2000. Assim também Donald Trump venceu o pleito de 2016. Em ambos os casos, com menos votos populares que seus mais diretos adversários (Al Gore e Hillary Clinton, respectivamente).

Ou seja, a política brasileira pode ter lá suas mazelas, e são muitas. Mas, em termos de sistema eleitoral, não resta dúvida de que o Brasil propicia maior acesso à sua população e mais universalidade no exercício do voto (que, por aqui, ainda é obrigatório). Pobres e ricos podem comparecer às urnas para depositar seu voto - e nem me venham com a história de que muitos votos são comprados (o que é verdade, claro) como álibi para desqualificar o sistema eleitoral brasileiro, pois há também coação e até, como dito acima, mecanismos que dificultam o voto dos mais pobres nos Estados Unidos. O sistema de urnas eletrônicas é, sim, confiável - nunca foi provada qualquer fraude nos processos eleitorais brasileiros, apesar dos arroubos histéricos daqueles que, como Aécio Neves (o mau perdedor de 2014), pedem o voto em papel subsidiário ao digitado na maquineta. O resultado é conhecido horas depois de uma votação como a presidencial de 2014, com índice de confiabilidade inquestionável.

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Finalmente, alguém imaginaria a possibilidade de a eleição presidencial de 2014 no Brasil não ser decidida em dois turnos, sendo que Dilma Rousseff, do PT, não alcançou a maioria absoluta no primeiro turno? O segundo turno serve para legitimar a democracia em países de dimensões continentais como o Brasil - o fato de Aécio Neves não ter respeitado o resultado da eleição e começado a conspiração que resultou no golpe de 31 de agosto de 2016 é outra conversa. Dilma foi eleita em processo legítimo, limpo e amplamente democrático. Já Trump venceu em um país de dimensões também continentais, mas com menos votos do que Clinton - graças ao sistema de delegados que privilegiou Trump. Fosse no Brasil, ou em qualquer democracia que se preze, Trump e Hillary fariam um acirradíssimo segundo turno, que, este sim, serviria para dar ao vencedor a legitimidade inquestionável. Seria um ganho para a democracia norte-americana e para o povo daquele país.

Os conservadores estadunidenses, porém, sequer cogitam modificar esse sistema falho, que propicia tão graves distorções, talvez porque pensem estar em um país que se vê como o "guia da humanidade", incapaz de assumir seus mais comezinhos erros - que dirá os enormes. O resultado disso são distorções como Trump, que será o presidente da maior potência econômica e militar do planeta, sem o aval da maioria de seu povo.

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