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Milton Blay

Formado em Direito e Jornalismo, já passou por veículos como Jovem Pan, Jornal da Tarde, revista Visão, Folha de S.Paulo, rádios Capital, Excelsior (futura CBN), Eldorado, Bandeirantes e TV Democracia, além da Radio France Internationale

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Os falsos atentados de Mitterrand

"O pseudo-atentado que mais se aproxima da facada de Bolsonaro entrou para a história sob o nome 'attentat de l’Observatoire', um ato simulado visando François Mitterrand na noite de 15 para 16 de outubro de 1956, em Paris", descreve o jornalista Milton Blay

François Mitterrand (Foto: Divulgação)
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O documentário do jornalista Joaquim de Carvalho, apresentado dias atrás no Brasil 247, deixou evidente o que todos nós duvidávamos: o episódio da facada ou suposta facada em Juiz de Fora, decisivo na eleição de 2018, tem muitas lacunas, inúmeras perguntas sem resposta, mentiras e uma versão oficial que só interessa a vítima ou pseudo-vítima, o então candidato Jair Bolsonaro. As investigações da Polícia Federal não levaram em conta a pergunta que deve ser feita em todas as ocasiões: - A quem interessa o crime? Ora, o próprio interessado respondeu, ao admitir que devia a sua eleição ao atentado, um dos mais obscuros da história do Brasil. Ainda na cama do Hospital Albert Einstein, comentou: - Não preciso fazer mais nada, estou eleito. 

O trabalho do jornalista evidenciou que as investigações foram mal feitas, orientadas desde o início, desprezando todas as pistas que não levassem à conclusão, talvez pré-determinada, que a facada foi um ato de autoria de um lobo solitário– Adélio Bispo, paranoico, ex-militante do PSOL.

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Mostrou também, entre outras coisas, que Carlos Bolsonaro é um elemento-chave dessa história e que precisa ser investigado. 

Apesar das várias pistas, em nenhum momento se aventou a hipótese de uma falsa facada, ou melhor, de um auto-atentado. 

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Impossível? Absurdo? O documentário mostra que não. 

Em setembro de 1931, o Japão acusou a China como responsável do atentado praticado pelo próprio império nipônico, que serviu de pretexto à invasão da Manchuria; em 27 de fevereiro de 1933, o Parlamento alemão foi incendiado. Os nazistas acusaram um jovem militante comunista e aproveitaram para suspender as liberdades individuais. Em 2006 houve falsos atentados em Bogotá; em 2017 videos fakes de terrorismo no Iraque.

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Na Europa, onde moro, há vários exemplos de uso do terrorismo para fins de política partidária. O Partido Popular, de centro-direita, que dominou a vida política espanhola, aproveitou-se dos atos violentos dos separatistas bascos da ETA e chegou a forjar alguns atentados. 

François Mitterrand foi personagem central em ao menos duas manipulações do gênero:

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Em outubro de 1983, após uma série de atos terroristas cometidos em Paris pelo grupo argelino GIA, o Palácio do Eliseu anunciou com grande alarde a prisão de três “perigosíssimos” personagens, que marcaria o início do fim do terrorismo internacional no país. Eles estariam preparando um mega-atentado na cidade luz. Mas dias depois, quando se revelou a identidade dos suspeitos, a decepção foi enorme. Tratava-se de três irlandeses sem documentos que nunca pertenceram a um movimento terrorista nem haviam cometido qualquer ato violento. A hipótese mais provável é que o presidente da República, François Mitterrand, tenha aproveitado essas prisões para tentar ganhar alguns pontos de popularidade, já que as pesquisas apontavam queda significativa devido ao terrorismo e à reviravolta na política econômica do governo. Dois anos após sua eleição, Mitterrand abandonou a busca de maior justiça social.

No entanto, o pseudo-atentado que mais se aproxima da facada de Bolsonaro entrou para a história sob o nome “attentat de l’Observatoire”, um ato simulado visando o próprio François Mitterrand na noite de 15 para 16 de outubro de 1956, em Paris.

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Após ter jantado na famosa Brasserie Lipp, por volta da meia-noite e meia, o carro do então senador, um Peugeot 403, foi crivado de sete balas. François Mitterrand saiu ileso, tendo fugido através dos jardins do Observatório. Os tiros só danificaram duas esculturas neogregas.

Inicialmente, as investigações suspeitaram dos militantes da Argélia francesa, indignados com as suas declarações de que “l’Algérie c’est la France”.

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Uma investigação foi imediatamente aberta pela Justiça, mas logo esta hipótese caiu por terra. 

Seis dias depois, em 21 de outubro, o jornal fascista Rivarol publicava uma confissão do deputado de extrema-direita Robert Pesquet segundo a qual tudo não passava de um falso atentado. Pesquet apresentava-se como cúmplice de Mitterrand, que esperava assim ganhar os favores da opinião pública. De acordo com essa primeira versão, o futuro presidente da França teria planificado a operação nos seus mínimos detalhes.

Anos mais tarde, porém, Pesquet declarou que foi ele o verdadeiro cérebro do falso atentado, preparado como uma manipulação destinada a desacreditar François Mtterrand. 

Indignado, Mitterrand entrou com queixa contra Robert Pesquet por difamação. No curso das investigações ficou evidente que o falso atentado tivera a participação de inúmeras personalidades de direita próximas do general De Gaulle.

De processo em processo, o caso foi se arrastando, até que o advogado Roland Dumas, ex-ministro das relações exteriores e grande amigo do presidente, entrou em ação e graças a uma chantagem contra o juiz André Braunschweig o caso foi arquivado.

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