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Miguel Paiva

Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia

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Os nossos medos

"Tivemos medo quando Lula foi interrogado pelo suspeito Moro, quando o Villas- Boas fez aquela ameaça às vésperas do julgamento do HC no Supremo e quando Moro foi julgado suspeito. Tivemos medo e nada aconteceu. Os militares ficaram onde sempre devem ficar e lembramos que esse temor só acontece porque não trancamos definitivamente a porta e jogamos a chave fora depois da ditadura", escreve Miguel Paiva, do Jornalistas pela Democracia

(Foto: Miguel Paiva)
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Quando se faz terapia o que logo aprendemos é que o medo paralisa. Sentir medo mexe com nossos instintos mais arcaicos, mais animais e a luta pela vida, constante, nos faz paralisar tudo que estamos fazendo. Às vezes a adrenalina sobe e camufla esse medo com outro sentimento que é o oposto, mas circula na mesma área, o risco de vida. Está tudo ligado. Os tiranos, fascistas, recentes ou não, sempre usaram o medo como arma para manter a população quieta. Os exércitos, as polícias, as milícias vivem do medo dos outros.

No dia em que a suspeição do Sergio Moro e a instalação da CPI da Covid está sendo julgada no plenário do STF é bom que se lembra que antes das eleições de 2002 Lula afirmava que a esperança tinha que vencer o medo. E de fato venceu, mas o medo continuou sendo munição da direita. Apesar de Lula ter feito dois governos absolutamente pacíficos, ter incluído os pobres no orçamento e ter colocado o Brasil no cenário mundial, a oposição a ele alimentava sobretudo o discurso do medo. Como o medo nesse caso era um fantasma não adiantava argumentos realísticos. A fantasia se auto alimentava e a grande imprensa selava sua posição dando força a esse sentimento. Não foi só aqui. O mundo virou à direita sobretudo por conta das notícias falsas que colocavam o medo em primeiro lugar no imaginário do eleitorado. As redes sociais viram o grande propulsor dessa ferramenta

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É fácil mexer com esses sentimentos. Eles são atávicos. Estão lá no fundo das nossas almas e guardados num quarto escuro com a chave na porta. Cada vez que vacilamos a porta se abre e eles ocupam nossa arena de sobrevivência diária.

O medo da transformação é o mais popular. Todo mundo tem, de uma forma ou de outra, medo do futuro e a transformação é o futuro se manifestando. Mesmo que estejamos numa situação ruim temos medo que a transformação nos coloque numa situação ainda pior. Isso é resultado também de um individualismo que só nos enfraquece enquanto grupo social.” O povo unido jamais será vencido” não é uma frase banal. Faz todo o sentido. Quanto mais unidos ficamos menos fantasias como essa do medo da transformação vamos ter. Se a transformação é coletiva, melhor ainda. Mas as pessoas preferem ambicionar o degrau de cima da escada do que se juntar ao vizinho e contornar ou derrubar essa escada. 

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O medo é o alimento da solidão. Na política é a ferramenta, ou no caso, a arma mais eficaz dos tiranos. Os reis vivem alimentando o medo dos súditos e cobrando impostos sobre o alimento deles. Se não pagar, morre. É simples. 

Aqui no Brasil o medo elegeu o Bolsonaro. O antipetismo virou um medo daquilo que podia transformar de fato nossas vidas. Os erros cometidos pelo PT acabaram crescendo, fermentados pelas notícias falsas, pelo lavajatismo e outras ferramentas culinárias e viraram o bolo que nos trouxe essa indigestão politica. Golpes foram dados, presidenta foi deposta e por ai vamos até a confirmação da grande merda que o país se tornou.

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Tivemos medo quando Lula foi interrogado pelo suspeito Sergio Moro, quando ele foi preso e não resistiu, quando o General Villas- Boas fez aquela ameaça velada às vésperas do julgamento do HC no Supremo, quando o Lula foi solto e quando Moro foi julgado suspeito. Tivemos medo e nada aconteceu. Os militares ficaram onde sempre devem ficar e lembramos mais uma vez que esse temor- fantasma só acontece porque não trancamos definitivamente a porta do medo e jogamos a chave fora depois da ditadura. Os fantasmas daí escapam.

Tudo é resultado do medo. Precisamos desfazer esse fantasma. Precisamos transformar esse medo que sentimos na confirmação de que juntos somos mais fortes e não há o que temer nessa luta. Precisamos conhecer para transformar e transformar para sermos felizes. Melhor buscar algo novo do que morrer de velho. Assim como todo fantasma, o medo, se você não estiver com uma arma apontada para a sua cabeça, é superável. Basta coloca-lo em dúvida. Nessa, até a arma pode ser de brinquedo. É sempre bom verificar.

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