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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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Os ventos do fascismo andino confirmam: o centro sumiu

Julio Maria Sanguinetti, José Mujica, Luiz Inácio Lula da Silva e Luis Alberto Lacalle Pou (Foto: Reprodução/Youtube)
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Este texto, sobre o avanço da extrema direita no Chile, inspira-se na foto acima, tirada na posse de Lula, em janeiro. É a imagem de uma ilha que veio ao Brasil.

A foto reúne o presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou, e dois ex-presidentes, José Mujica e Julio Maria Sanguinetti. É como se os três uruguaios formassem elos em torno de Lula.

Sanguinetti foi presidente por duas vezes, pelo partido Colorado, de centro-esquerda.

Mujica foi presidente pela Frente Ampla, de esquerda. E Lacalle Pou é presidente pelo partido Blanco, ou Nacional, de centro-direita.

Não está na foto, até porque nunca foi presidente, o líder da extrema direita uruguaia, Guido Manini Rios. É improvável que um dia venha a aparecer num grupo como esse.

Essa imagem estática tem muita informação, mas não diz tudo. A foto só existe porque, depois de cumprimentar Lula, Mujica acena e chama Sanguinetti, que havia passado pouco antes.

E Sanguinetti chama Lacalle Pou para a pose. E todos se entrelaçam, com Lula pegando o atual presidente uruguaio com força pela mão.

Não aconteceu outra cena semelhante, com líderes de outros países, na posse de Lula. Essa foto seria impossível com políticos de outras nações latinas, mesmo que tentassem montar a cena.

Só no Uruguai o centro, a direita e a esquerda podem aparecer na mesma foto, enquanto direita e centro são engolidos pela extrema direita no Chile e na Argentina, como já foram engolidos no Brasil.

A vitória do fascismo na eleição dos delegados à nova Constituinte chilena é o imponderável provando que a extrema direita é um lagarto capaz de recompor não só o rabo, mas tronco e cabeça.

Podem dizer que o presidente Gabriel Boric foi derrotado, dependendo do ponto de vista, pelas sequelas da radicalização do movimento iniciado nas ruas de Santiago em outubro de 2019.

Boric teria sido soterrado pelo outubrismo que contaminou a primeira Constituinte, de 2021, e o que poderia ter sido a nova Constituição, rejeitada em plebiscito no ano passado.

Mas podem dizer também, como andam dizendo, que Boric alargou demais as concessões ao centro e ao liberalismo, e foi frouxo para impor as pautas de esquerda. Hoje, ele não sabe direito o que é.

Mujica, Sanguinetti e Lacalle Pou sabem o que foram e o que são. Lula tenta dizer que será desta vez o que não foi, mais à esquerda, nos dois mandatos anteriores, mesmo que hoje as concessões sejam feitas a uma direita ainda mais voraz e impositiva.

O inevitável é que a eleição no Paraguai, a Constituinte chilena e a eleição de outubro na Argentina podem comprovar o que o Brasil já experimentou de forma trágica: a direita e um centro que se disfarçava até de esquerda no Chile sumiram mesmo do mapa político na região e se entregou à extrema direita.

Os velhos centro e direita correram para os braços de José Antonio Kast, do Partido Republicano, que havia sido derrotado há apenas um ano e quatro meses pelas esquerdas, na eleição de Boric, depois de ter sido massacrado há exatos dois anos na escolha da Constituinte.

Centro e direita buscaram a proteção do extremismo, como haviam feito no Brasil em 2018 e repetiram em 2022.

É provável que mais adiante Kast no Chile e Javier Milei na Argentina tentem representar na região o que Bolsonaro não conseguiu por ser medíocre e por excesso de fascismo.

E Lula no meio disso tudo? Lula deve tentar calibrar, com sua intuição poderosa, como andar para esquerda e direita sem virar um Boric.

Não existe mais, colocada ao centro, uma rede barata e segura de proteção ao avanço da extrema direita.

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