Pablo Neruda foi envenenado
"A poesia é uma poderosa arma simbólica contra a violência autoritária", escreve Marcia Tiburi

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Pablo Neruda foi envenenado. É o que ficamos sabendo 50 anos após a sua morte em setembro de 1973.
Neruda ficou conhecido mundialmente por sua poesia, principalmente por seu « Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada » (1924) e « Canto Geral » (1950). Em 1971 ele recebeu o Prêmio Nobel, sendo um dos poucos autores latino-americanos a receberem a honoraria. A chilena Gabriela Mistral, que foi uma forte influência na poesia de Neruda, recebeu o prêmio antes dele.
Porém, enquanto por décadas, ele era amado pelo mundo, o General Pinochet o odiava. Não apenas porque os fascistas e autoritários em geral odeiam a poesia, mas porque a poesia de Neruda era política, falava do mundo real e da dor do povo diante de poderosos capitalistas abusadores. A poesia se transformava, assim, em poderosa arma simbólica contra a violência autoritária. Pinochet, ditador responsável pelo assassinato de uma geração de críticos e pessoas que desejavam mudar o mundo para melhor, livrando-o da miséria e da exploração, é o provável responsável por seu envenenamento. Um médico injetou-lhe a bactéria do botulismo quando ele precisou se hospitalizar em 1973. A ditadura no Chile tinha começado há pouco, em 11 de setembro. Seu amigo Allende havia sido morto pelos militares golpistas na mesma data.
Em suas memórias publicadas postumamente, ele escreveu:
“A vida política veio como uma tempestade para me tirar do meu trabalho. Voltei mais uma vez para a multidão. A multidão humana tem sido para mim a lição da minha vida. Posso chegar a ele com a timidez inerente do poeta, com o medo do tímido, mas, uma vez no seu seio, sinto-me transfigurado. Eu faço parte da maioria essencial, sou mais uma folha na grande árvore humana. Solidão e multidão continuarão a ser deveres elementares do poeta do nosso tempo. Em solidão, a minha vida foi enriquecida pela batalha das ondas na costa chilena. Fiquei intrigado e apaixonado pelas águas de combate e pelas rochas em combate, pela multiplicação da vida oceânica, pela formação impecável das "aves errantes", pelo esplendor da espuma do mar. Mas aprendi muito mais com a grande maré das vidas, com a ternura vista em milhares de olhos que me olhavam ao mesmo tempo. Esta mensagem pode não ser possível a todos os poetas, mas quem quer que a tenha sentido guardá-la-á no seu coração, desenvolvê-la-á no seu trabalho. É memorável e desolador para o poeta ter encarnado para muitos homens, por um minuto, a esperança.”
Se após 50 anos, descobre-se a verdade sobre o envenenamento do poeta, por que não deveríamos continuar perguntando “Quem mandou matar Marielle e Anderson?”. A resposta a essa pergunta precisa vir à tona no governo democrático atual.
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