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Carla Teixeira

Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em História Membro do Conselho Editorial da Revista Temporalidades - Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

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Partido Militar fabrica mais uma crise

"Vencer o Partido Militar será o verdadeiro desafio da sociedade civil nas eleições de 2022", destaca a colunista Carla Teixeira

Militares (Foto: © Marcelo Camargo/Agência Brasil)
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O Partido Militar é hoje o mais atuante e poderoso do nosso campo político. Militares da reserva e da ativa sentem-se à vontade para emitir opiniões políticas, ocupar cargos na administração pública e, consequentemente, matar brasileiros impunemente. Muito disso é alimentado pelo passivo deixado por nossa redemocratização acomodada e conciliada. A Lei da Anistia perdoou sequestradores, torturadores, assassinos e ocultadores de cadáveres que mobilizaram os discursos de “Pátria”, “Deus” e “Família” para manterem-se no comando de uma ditadura militar que durou 21 anos. Cessado o arbítrio, a atuação dos milicos junto ao poder civil ficou na Constituição de 1988 através do ambíguo artigo 142. Seguiram impunes e à vontade para fazer política na Nova República.

Recentemente, oficiais da ativa e da reserva apoiaram, participaram e seguem participando do governo Bolsonaro. Jair é apenas a criatura. O monstro é o seu criador (o comando do Exército) que agora quer manter aparente distância do rebento que trouxe à vida para atormentar o país. Convenceram os quartéis e a sociedade brasileira de que o verme era um mito e colheram todas as vantagens dessa manobra política: benefícios salariais e previdenciários, fatia maior de verba do orçamento (retirada da saúde e da educação) que passou à Defesa (?), sem contar os inúmeros cargos ocupados no governo e nas estatais por meio de indicação.

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A verdade ululante que ecoa e alguns não querem ouvir diz que o Comando do Exército Brasileiro tem responsabilidade direta pelo genocídio em curso. Os generais permitiram que o governo se tornasse um poleiro de milicos oportunistas que ansiavam por poder e dinheiro. Ou alguém acha que o presidente da República passa na corporação e sai mobilizando oficiais para cargos civis sem a autorização do comando? Seria ingenuidade, para não dizer má fé, achar que uma instituição baseada na hierarquia, disciplina e obediência permite esse tipo de autonomia por parte dos seus integrantes.

A compra, produção e distribuição de cloroquina é só mais uma digital que o Exército deixa na sua parte de responsabilidade na atual tragédia. Ademais, é evidente que a nomeação do general Pazuello, da ativa, para o ministério da saúde contou com a aprovação dos seus superiores, aqueles que ensaiaram a farsesca crise militar de março de 2021. Naquela ocasião, a demissão do ministro da Defesa e dos três comandantes das forças armadas foi divulgada, pela mídia que apoiou a ditadura, como uma demonstração de que as forças armadas são instituições de estado, não de governo, portanto, estão comprometidas com a Constituição de 1988 e com a democracia (acredita quem quiser!).

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A manobra criou a narrativa que buscava afastar a corporação do capitão, interpretando os erros como atitudes individuais que nada tinham a ver com o comando. Uma grandessíssima farsa. Não à toa, ao deixar a pasta da saúde após centenas de milhares de mortos pela covid-19, o general Pazuello anunciou “missão cumprida”. Veja, o próprio general denuncia que estava ali em missão dada por superior. (Provavelmente se referia à missão de matar o povo brasileiro, única a qual se dispõe os militares brasileiros desde as longínquas e legítimas revoltas populares do período Regencial).

Depois do show de mentiras que protagonizou em seu depoimento à CPI do Genocídio, o “gordo favorito” apareceu na “motociata” promovida por bolsonaristas, no Rio de Janeiro. Ali tirou a máscara, aglomerou e discursou como quem está em campanha. Pronto. Combustível para mais uma “fake” crise militar. O atual candidato dos quartéis ao planalto, Santos Cruz, fez questão de censurar Pazuello enquanto o próprio vice-presidente sentiu-se à vontade para criticar a atitude do general, como se ele próprio, Mourão, não tivesse agido de modo semelhante quando era o responsável pelo Comando Militar do Sul - que soma um quarto de todo o efetivo do país. 

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À época, Mourão, general da ativa, fez duras críticas à presidenta Dilma Rousseff, endossou homenagem ao torturador e assassino Brilhante Ustra e, em 2017, chegou a declarar que uma intervenção militar poderia ser adotada se “o Judiciário não solucionar o problema político”, referindo-se à corrupção praticada por alguns políticos. Conduta nada profissional também adotada pelo próprio Comandante do Exército, general Villas Boas, que acossou o STF, pelo twitter, às vésperas do julgamento que definiria o direito de Habeas Corpus a Lula, em 2018.Como se vê e os fatos mostram, a atitude do general Pazuello condiz perfeitamente com as práticas dos seus superiores em outros momentos da nossa vida política. Para disfarçar, o Exército abriu um processo administrativo, mas é importante registrar que ir para a reserva ou assumir função burocrática não é punição, mas encenação para dissimular mais uma jogada política dos milicos. A sociedade civil, principalmente o jornalismo, precisa questionar as versões e “vazamentos” de informações oferecidas por oficiais que querem controlar a narrativa para direcionar a interpretação dos fatos políticos de acordo com seus interesses. Vale reiterar: o problema não é o capitão, mas os generais que o utilizam como poste. Jair Bolsonaro é marmita de milico. Vencer o Partido Militar será o verdadeiro desafio da sociedade civil nas eleições de 2022.

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