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Leonardo Attuch

Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247.

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Por que Bolsonaro ataca Mourão e os militares?

A revelação de que Jair Bolsonaro incentiva aliados atacar o vice Hamilton Mourão comprova que há uma guerra não declarada entre o presidente e os militares, diz o jornalista Leonardo Attuch, editor do 247. Segundo ele, desta vez, é o presidente quem conspira contra seu vice porque os generais representam um obstáculo ao processo de entrega completa do Brasil aos Estados Unidos. Ele lembra ainda que Mourão os militares contiveram o risco de guerra contra a Venezuela e movimentos contrários à China e aos países árabes

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A notícia mais importante deste domingo de Páscoa foi publicada pelo colunista Lauro Jardim, no Globo, que recebeu áudios em que o presidente Jair Bolsonaro incentiva seus aliados a atacar o vice-presidente Hamilton Mourão (saiba mais aqui). Já parecia óbvio e ululante, como diria Nelson Rodrigues, que os ataques do "guru" Olavo de Carvalho ao vice e também a outros militares não ocorriam sem o aval de Bolsonaro. No entanto, os áudios agora fornecem uma prova material de que o presidente conspira contra seu vice – o que, de certa forma, contraria a lógica. "Normal", na tradição brasileira, é que vices conspirem contra seus chefes e o exemplo maior de traição na nossa história foi recentemente protagonizado por Michel Temer. Bolsonaro, no entanto, subverte a lógica.

Se não bastassem os ataques do "guru" da Virgínia, Bolsonaro também incentivou o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) a pedir o impeachment de Mourão. Ao decidir não puni-lo pela iniciativa, Bolsonaro também deixou claro que aprova suas ações. Não por acaso, o "pastor" Feliciano aproveitou o sábado de Aleluia para malhar seu Judas particular e foi ao twitter para rotular Mourão como "traidor" (saiba mais aqui).

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Há, no entanto, alguma evidência de que Mourão esteja mesmo traindo Bolsonaro? Até agora, não. O que existe, objetivamente, é uma tentativa da ala militar do governo de conter movimentos de Bolsonaro que representam uma traição à pátria. Sim, porque embora diga "Brasil acima de tudo", Bolsonaro bate continência para a bandeira dos Estados Unidos e tenta promover uma política de ataque aos interesses nacionais. Mais do que isso, ele próprio já declarou que chegou para destruir – e não para construir absolutamente nada.

Se dependesse unicamente de Bolsonaro, o Brasil já teria se metido em diversas enrascadas, que atenderiam apenas aos interesses geopolíticos dos Estados Unidos e de Israel. Nosso chanceler trumpista Ernesto Araújo chegou a oferecer um corredor de passagem para tropas estadunidentes, numa eventual guerra contra a Venezuela. Graças a uma viagem de Mourão à Colômbia, no entanto, o risco de guerra no continente foi afastado. Foram também os militares que impediram a insanidade da transferência da embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém. A solução salomônica encontrada – de um escritório de negócios – foi ruim, mas menos grave do que a transferência da embaixada em si. E foi também Mourão quem fez movimentos de aproximação com países árabes e com a China, que vêm sendo alvo de ataques pela política externa de Araújo – um chanceler que segue a cartilha de Washington.

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O que Feliciano classifica como traição, portanto, é a defesa dos interesses econômicos da burguesia nacional, assunto que certamente passa longe das preocupações da bancada evangélica, que mobiliza fiéis pelo Brasil com a promessa de que Jesus Cristo retornará quando o povo de Israel se converter ao cristianismo – uma das maiores fake news já propagadas. Aliás, no que depender dos israelenses, onde o cristianismo é uma religião inexpressiva, Jesus Cristo jamais retornará.

Na sua guerra contra os militares de alta patente, Bolsonaro utiliza diversos instrumentos. De um lado, reforça sua associação com o baixo oficialato. Notícia publicada neste domingo pela Folha de S. Paulo indica que o Brasil ampliou gastos com pessoal militar, mas reduziu investimentos em defesa – ou seja, mais salários e menos proteção (leia mais aqui). Por outro lado, o "guru" Olavo, que já atacou tanto Mourão como o general Santos Cruz, diz que os militares devem se contentar com os cargos que receberam na máquina pública. A mensagem é clara: não ousem querem impedir o processo de entrega do Brasil aos Estados Unidos. Em paralelo, os filhos de Bolsonaro também mobilizam suas redes sociais contra os "traidores" de farda.

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Há, portanto, uma guerra não declarada em Brasília entre o bolsonarismo e as Forças Armadas. Os generais imaginavam que conseguiriam cavalgar Bolsonaro, mas o presidente reage. Ocorre que nenhuma de suas ações terá êxito se ele não conseguir entregar o essencial: empregos, crescimento econômico e paz social. E até agora nada indica que a política econômica de Paulo Guedes e a política externa de Ernesto  Araújo tenham qualquer capacidade de fazer o Brasil voltar a crescer. Ou seja: por mais que conspire contra seu vice, Bolsonaro será fatalmente inviabilizado se não conseguir apresentar respostas concretas aos problemas da população que o elegeu.

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