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Juca Simonard

Jornalista, tradutor e professor de francês. Trabalhou como redator e editor do Diário Causa Operária entre 2018 e 2019. Auxiliar na edição de revistas, panfletos e jornais impressos do PCO, e também do jornal A Luta Contra o Golpe (tabloide unificado dos comitês pela liberdade de Lula e pelo Fora Bolsonaro).

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Prisão de Witzel mostra que instituições golpistas não conseguirão deter Bolsonaro

A política de colocar Bolsonaro “na linha” não deu certo. A única solução é a mobilização dos trabalhadores nas ruas

Jair Bolsonaro e Wilson Witzel (Foto: Reuters)
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Por Juca Simonard

A prisão de Wilson Witzel aponta claramente para uma ofensiva de Jair Bolsonaro contra um setor da direita golpista. Não se trata de definir se isso é “bom” ou “ruim” de um ponto de vista moral, mas de compreender que existe uma intensa crise no bloco golpista, ao contrário do que muitos acreditaram com as últimas semanas de “moderação” de Bolsonaro.

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A crise política é a expressão da crise econômica

A instabilidade política dos golpistas, porém, tem uma base econômica. No início do ano, essa desagregação da direita ficou expressa muito claramente na com a chegada do coronavírus, que deu uma pancada na economia do País já debilitada pelo golpe. Antes disso, o ministro Paulo Guedes havia sido criticado pelo crescimento de apenas 1% no PIB brasileiro em 2019 - o que, em um país de economia capitalista atrasada como o Brasil, significa estagnação total da economia.

Os políticos burgueses, como Bolsonaro e Guedes, são meramente funcionários dos capitalistas e estão onde estão apenas para servir seus interesses. Em outras palavras, foram colocados no poder para resolver o problema econômico do ponto de vista das classes dominantes: manter a economia funcionando para garantir o lucro das grandes empresas ao mesmo tempo em que atacam profundamente os trabalhadores para alcançar este objetivo. 

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O atual governo não está conseguindo atender essas demandas, motivo pelo qual partidos tradicionais da burguesia, como o PSDB, estão criticando o governo por, por exemplo, não ser eficiente nas privatizações das estatais brasileiras. Além disso, justamente por estar ligado a setores específicos dos capitalistas, Bolsonaro não está conseguindo conciliar os mais diversos interesses das diferentes frações da grande burguesia, prejudicando, para exemplificar, um setor do agronegócio ao atacar os maiores importadores da carne brasileira no mundo árabe.

Assim, com apenas algumas expressões, percebe-se que Bolsonaro não está dando conta de agradar todo um setor da burguesia, impossibilitando uma união estável em torno de seu governo. Este é o motivo que explica por que diversos setores da direita brasileira passaram ao lado da “oposição” ao bolsonarismo. Não se trata, como a imprensa monopolista busca apresentar, de uma defesa da democracia contra o fascismo, e nem mesmo de oposição real ao governo. Os tucanos, o DEM e os demais partidos golpistas, já se declararam contra o impeachment de Bolsonaro. O que a “oposição” burguesa quer, na realidade, é colocar o governo “na linha”, consertá-lo, e ir desgastando para tentar conseguir tirá-lo por meio do processo eleitoral em 2022, possivelmente através da candidatura de João Doria (PSDB), que já demonstrou ser tão fascista quanto Bolsonaro, mas que tem a confiança dos setores mais tradicionais do imperialismo e da grande burguesia brasileira.

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O fracasso da tentativa de colocar Bolsonaro “na linha”

Neste panorama, a crise política se aprofunda. Bolsonaro tenta agradar sua base de extrema-direita, que por mais que tenha sido conveniente para o resto dos golpistas na época do golpe e continua sendo para atacar as organizações de esquerda, é muito inconveniente no governo, uma vez que buscam ocupar o espaço destinado aos políticos tradicionais. Assim, durante alguns meses estamos vendo o governo abrir mão de setores mais “ideológicos”, como o ex-ministro Abraham Weintraub, para negociar cargos no seu grupo ministerial com o Centrão.

Após a prisão do ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, envolvido em um esquema de lavagem de dinheiro que parece englobar toda a família, vimos que Bolsonaro deu uma guinada “conciliadora”, o que foi comemorado pela imprensa capitalista. Deu início à curta era do “Jairzinho paz e amor”, como alguns chamaram. O fascista parecia, com sua limitações mentais, um verdadeiro político burguês. Buscava moderar nas palavras, fazia acordos com os outros Poderes e assim por diante. Muito diferente do Bolsonaro do início de 2020.

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Em outra coluna, porém, ressaltei que isso era apenas uma tentativa artificial de colocar o cachorro louco “em seu lugar”, mas que tal medida não seria suficiente para controlá-lo pois não ia ao cerne da questão: a crise política e econômica. 

Agora, para agradar sua base, que ficou descontente como o “novo” Bolsonaro, a situação política catastrófica volta a aparecer. Os recentes ataques a jornalistas não são por acaso. Pelo contrário, são ações coordenadas do bolsonarismo para agradar sua base, no momento em que já conseguiu consolidar o apoio com um setor do Centrão, do grupo de Arthur Lira, Roberto Jefferson etc.

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A prisão de Witzel, comemorada pelos bolsonaristas, deve ser entendida da mesma maneira. A crise que atinge o Executivo e o Legislativo, também atinge o Judiciário. O governador carioca, agora afastado do cargo, foi alvo de uma operação do bolsonarismo por dentro da Justiça brasileira. Não agradou nem um pouco o governador de São Paulo, João Doria, que chamou a decisão de “monocrática”. A ação atacou um dos setores importantes da burguesia carioca, envolvendo o empresário Mário Peixoto, ligado aos governos anteriores do Rio de Janeiro, o pastor Everaldo (presidente do PSC) e Witzel.

Não se trata de definir a corruptibilidade de Witzel, mas de entender que, sendo fato ou não, foi uma ação política que mostra que a “moderação” de Bolsonaro não durou por muito tempo. Um curto reinado de Bolsonaro, o Conciliador - que voltou a ser Bolsonaro, o Terrível. Esta manobra ainda confirma as análises de que a extrema-direita não pretende frear seu projeto político por conta de algumas decisões judiciais tímidas, como a perseguição a militantes bolsonaristas e a prisão de Queiroz.

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Desta forma, o fato mostra mais uma vez para a esquerda que acredita nas instituições “democráticas” brasileiras, que nenhum golpista será capaz de deter o bolsonarismo, seja o golpista de toga ou o de terno e gravata. Até porque todas as medidas “contra” Bolsonaro até o momento foram calculadas para serem de pequena intensidade para não jogar lenha na fogueira da crise política, que pode estimular a mobilização popular contra o regime. Foram calculadas para constranger um pouco o governo e, desta forma, amarrá-lo ao programa da direita tradicional. Como vimos, não deu certo. Existe uma única solução: a mobilização independente das organizações dos trabalhadores nas ruas. 

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