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Aldo Fornazieri

Professor da Fundação Escola de Sociologia e Política e autor de "Liderança e Poder"

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Putin sairá derrotado

"Ao invadir a Ucrânia e desestabilizar a região, Putin contribui para fortalecer a OTAN e reforçar o argumento de sua necessidade", avalia Aldo Fornazieri

(Foto: Reuters)
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Ao invadir a Ucrânia com grande força militar, Putin transformou o Estado russo de demandante legítimo em Estado agressor. Mesmo que os russos dominem totalmente a Ucrânia, derrotem seu exército, derrubem seu governo, no final das contas Putin sairá derrotado. Pode demorar dias, semanas, anos, décadas. Mas Putin não tem como vencer em definitivo esta guerra e nem contará com o beneplácito da história. 

Putin cometeu o mesmo erro que os norte-americanos cometeram contra o Iraque, contra o Afeganistão e que haviam cometido contra o Vietnã. Os russos já haviam cometido esse erro contra o mesmo Afeganistão. Os americanos derrotaram militarmente Saddam Hussein, mas depois de 20 anos saíram com o gosto amargo na boca e com uma condenação da História por todos os tempos. No Afeganistão o resultado foi ainda pior. 

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Essas vitórias militares imediatas se transformam em derrotas políticas, morais e em condenações históricas por alguns motivos, destacando-se apenas alguns aqui. O primeiro é que os Estados agressores quebram a regra de Maquiavel: as guerras não podem ser de ocupação territorial, por duas razões. Primeira: porque acarretam de altos custos e arruínam o Estado; segunda, porque suscitam o ódio prolongado, para não dizer perpétuo, dos povos agredidos e ocupados. 

A partir do fim da Segunda Guerra Mundial, e este é o segundo motivo, já se sabia que as guerras de ocupação como função econômica de vantagem haviam acabado. Dados do projeto Costs of War, da Brown Universty, mostram que os Estados Unidos gastaram com a chamada Guerra ao Terror (Iraque, Afeganistão, Al-Qaeda), nada menos do que US$ 8 trilhões em 20 anos, com vários itens. Esses gastos aumentarão ainda mais até 2050, com juros de títulos, indenizações, pensões, funções militares etc. A Rússia sofrerá prejuízos pesados com os custos do ataque, com as sanções, com o breque no crescimento econômico e assim por diante.

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A Rússia era um demandante legítimo porque a expansão da OTAN é injustificável e a própria OTAN, a rigor, não tem razão de existir. A intensão da Ucrânia de aderir à OTAN e até de readquirir capacidade nuclear é algo irresponsável e injustificável. A Ucrânia foi ainda irresponsável ao não implementar o Protocolo de Minsk que garantia autonomia às repúblicas de Donetsk e de Luganks. O Ocidente também tem culpa nisso, pois nada fez para garantir a implementação do acordo.

Putin estava fazendo o jogo certo a desencadear uma série de pressões, exigindo garantias. Deu um enorme passo em falso ao tornar-se um agressor da Ucrânia. Mesmo com todas essas demandas legítimas, a agressão é injustificável. No limite, poderia até ter ocupado militarmente Donetsk e Luganks e ainda teria argumentos políticos e morais para sustentar sua posição. 

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Mas ao agredir a Ucrânia deixou claro que as suas pretensões vão para além das demandas e que quer transformar a Rússia num império expansionista e dominador de outros povos, acabando com a soberania de outros Estados, violando os tratados e os princípios da ONU. 

Putin se tornou um pária global. Está recebendo o repúdio de todos os povos que têm liberdade de e manifestar. Não tem o apoio de boa parte do próprio povo russo: já são quase seis mil presos por se manifestarem contra a guerra. Jogou a Rússia num isolamento brutal. Além de sacrificar o povo da Ucrânia sacrifica seu próprio povo para atender seus apetites de poder e os da máfia de oligarcas bilionários que o cercam e que roubaram os bens do Estado e do povo russo.

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Putin deveria aproveitar o que ainda resta da bonança da energia baseada em combustíveis fósseis para modernizar e diversificar a economia da Rússia. Ao apostar na guerra, apostou contra o futuro da Rússia e acelerará o seu declínio. Ele ainda pode evitar o pior se parar a guerra imediatamente e buscar uma solução negociada. 

A irresponsabilidade de Putin chegou às raias de ameaçar o uso de armas nucleares. Isto não se deve fazer nem por blefe e nem efetivamente. A guerra está desestabilizando política, econômica e militarmente o mundo num momento em que ainda não se saiu da pandemia. 

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Ao anunciar a invasão da Ucrânia, Putin criticou Lênin, atribuindo-lhe a  reponsabilidade pela independência do país vizinho. De fato, com o fim da guerra russo-polaca em 1921, Lênin, com a chamada Política das Nacionalidades, estimulou que as repúblicas independentes da região estimulassem seus valores, suas línguas e suas culturas. Opôs-se à política de Stálin que queria dissolver a autonomia dessas repúblicas na Rússia. Classificou essa pretensão de “chauvinismo grão-russo”. Contrariamente a Lênin, que respeitava a autodeterminação dos povos, Putin quer impor a política imperial czarista-stalinista contra as repúblicas vizinhas. Semeia ressentimentos e colhe ódio às custas da supressão de liberdades e de direitos. 

Condenar a agressão de Putin não significa negar as demandas legítimas do Estado russo por segurança e contra a expansão da OTAN. O fim da expansão da OTAN, o seu recuo para os antigos países do Tratado, a criação de uma zona de países neutros e desmilitarizados entre e Europa e a Rússia é a condição necessária para que haja paz na região. 

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Ao invadir a Ucrânia e desestabilizar a região, Putin contribui para fortalecer a OTAN e reforçar o argumento de sua necessidade. Os socialistas e democratas devem exigir o fim da guerra, a retirada das forças russas da Ucrânia e o atendimento das demandas legítimas da Rússia. Quem defende de forma efetiva os meios pacíficos para a solução de conflitos e a autodeterminação dos povos não pode não condenar a invasão.

Aloizio Mercadante e Celso Amorim agiram corretamente ao assinarem a nota do Grupo de Puebla condenado a invasão da Ucrânia. A direção do PT deveria seguir o exemplo e sair de sua posição “tucana”, manifesta em nota que, no fundo, é a mesma posição de neutralidade de Bolsonaro em relação à invasão e à guerra. 

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