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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Qual é a boa, general?

A jornalista Denise Assis escreve sobre o pedido do general Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, que quer ver "boas notícias" sobre a crise do coronavírus da imprensa e traça um paralelo com o que fez o governo Médici na crise da meningite no início dos anos 1970

(Foto: Marcos Corrêa - PR)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia - O general Luiz Eduardo Ramos, ministro-chefe da Secretaria de Governo, quer ver na mídia boas notícias. Pois então, trate de produzi-las, pois a que eu tenho para ele é a pior possível. Não há boas notícias a serem dadas. Com o país tentando escapar como pode e quase que “de moto-próprio” de uma pandemia, é o que temos pra hoje, general.

Sua postura traz de volta o fantasma da censura ao melhor estilo Médici. Para quem não se lembra, o surto de meningite ocorrido em São Paulo no período do ditador (1969/1974), de acordo com dados do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP), produziu uma situação de letalidade que, de 1970 a 1972 variou entre 12% e 14% dos casos. A partir de 1973 declinou acentuadamente, atingindo o valor mais baixo (7%) em 1974. 

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O maior número de óbitos, segundo o Conselho foi observado em 1975, quando foram registrados 411, média de 1,15 ao dia. Tudo isto sob o silêncio absoluto dos meios de Comunicação que tiveram, não só de omitir o surto, como alardear, já no final, as campanhas de vacinação promovidas pelo ditador de plantão. Um “ato de benevolência” e “preocupação com a saúde” dos seus comandados, aos olhos da população desinformada da existência da doença e sua letalidade.

Na página do CREMESP intitulada “Histórias da Medicina”, há um relato pormenorizado do que aconteceu após a sucessão de Garrastazu Médici por Ernesto Geisel, em 1974. Vale a pena rememorar:

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“Em julho de 1974 foi criada a Comissão Nacional de Controle da Meningite, encarregada de traçar a política de vigilância epidemiológica. O número de casos registrados em janeiro de 1975 foi seis vezes maior do que o mesmo mês de 1974. Ironicamente, a meningite que tem o início de sua história na contaminação de soldados em postos militares, parecia não querer dar tréguas ao regime.

Em março de 1975 foi elaborado o plano básico de operações para garantir a vacinação de 10 milhões de pessoas em apenas quatro dias. A parte operacional da campanha esteve a cargo do exército. O esquema adotado durante a campanha não permitiu que fosse fornecido qualquer comprovante às pessoas vacinadas, nem o registro do número de vacinados. O número de casos continuou muito acima do registrado no ano anterior até abril, quando foi realizada a campanha de vacinação. 

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Para conhecer a proporção de vacinados, o IBGE realizou um inquérito por amostragem domiciliar. A cobertura foi estimada em cerca de 93% na cidade. Após a campanha os casos diminuíram, mas só retornaram a valores endêmicos dois anos depois. Até julho de 1977 ainda eram registradas incidências acima do esperado. A partir desse ano, os casos provocados pelo sorogrupo A deixaram de ser identificados; enquanto os produzidos pelo sorogrupo C retornaram ao nível endêmico. São Paulo retornou à rotina.”

Enquanto de Norte a Sul do país os brasileiros batem cabeça com o desencontro de informações, desmentidos e o vazio em que se mergulhou com a troca de ministros da pasta da Saúde - que deveria estar nos informando com transparência e números confiáveis -, o que Eduardo Ramos parece querer sugerir à mídia, é que ela acompanhe e mostre apenas as carreatas em verde e amarelo. Essas, que fazem barulho na porta dos hospitais onde a população agoniza e morre afogada no seco, por falta de respiradores suficientes para tantos infectados. 

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Isto, graças a uma política externa reacionária e obtusa, feita por todos os “Zeros” filhos e o chanceler Ernesto Araújo. Ele resolveu carimbar no coronavírus o rótulo de “comunista” e protestar contra a China, que no entender de Trump – a quem o diplomata macaqueia – disseminou o Covid-19, propositalmente pelo mundo. Com isto, a má vontade dos chineses (se estiver ocorrendo) para com os nossos pedidos é plenamente justificável.

Pelos números que se dispõe, o Brasil tem 45.757 casos confirmados e 2.906 mortos por covid-19. A boa, general, é que esta gente brasileira resolveu mostrar o seu valor. Temos excelentes médicos, enfermeiras, pesquisadores e infectologistas que largaram tudo para tratar do nosso povo. A ruim é que estamos apenas começando a enfrentar o pico de contágio. Abram as buzinas que o coronavírus pede passagem.

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