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Jean Menezes de Aguiar

Advogado, professor da pós-graduação da FGV, jornalista e músico profissional

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Que venha a intolerância e o futuro que se dane

Não adiantaram defesas, lógicas, provas, demonstrações, inteligências. O impeachment virou 'crença' e Dilma virou o Diabo para os impichadores. Até quase-terreiro-de-exorcismo houve naquela cena patética ocorrida na USP

Brasília - A presidenta Dilma Rousseff sanciona o novo Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação. A proposta aproxima as universidades das empresas (Marcelo Camargo/Agência Brasil) (Foto: Jean Menezes de Aguiar)
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Acabou a fase política de o Partido dos Trabalhadores e o governo ficarem pedindo 'diálogo', 'união', 'reconstrução' do país. Aquele implora-implora já tinha dado. Pode ser que agora se convençam que seus adversários são adversários. Não tem isso de querer discutir futuro ou o país. A turma do impeachment só quer saber de impeachment.

Não adiantaram defesas, lógicas, provas, demonstrações, inteligências. O impeachment virou 'crença' e Dilma virou o Diabo para os impichadores. Até quase-terreiro-de-exorcismo houve naquela cena patética ocorrida na USP.

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Políticos, muitos desconhecidos do mundo, com seus ganhos de cinquentinha por mês fizeram o habitual faz-de-contas na comissão do impeachment. Sabiam que estavam aparecendo na TV.

O triunfo da intolerância já existia na sociedade do consumo, da urgência, da pressa. Não é invenção da oposição do governo. Por que não haveria de ser a regra também na política?

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Se, como diz o filósofo, 'o monstro somos nós', nossos melhores monstros estão em Brasília, nadando nas águas mornas da regalia.

Mesmo que suas intenções sejam obscenas, espúrias, safadas, investigadas, lavajatadas e o que mais se supuser. Não há verdades ali, só retorsões; nem crenças sonháticas, só um teatro amador, bufo que depois termina em uísque na substituta atual da churrascaria Porcão.

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Mas não surpreende. Sempre foi assim. Paulo Maluf esta semana abriu o jogo e não se viu ninguém da classe política dizer que ele estava errado, ou senil. Disse com todas as letras que finge que trabalha, uns poucos dias da semana e que basta seu nome para um povo paulistano excitado elegê-lo automaticamente. Esta, em grande medida, é a sociedade que quer impichar Dilma. Precisamente esta.

A verdade malufiana, ultracínica, mas ao mesmo tempo alvissareiramente anárquica, até redime o ídolo de São Paulo perante alguma intelectualidade que ainda se importava em ver nele o dejeto da ética. Pobres intelectuais querendo entender. Ou pior, explicar.

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Será que a classe política é o subproduto da sociedade brasileira ou é o seu inverso? Mas dane-se. Ninguém quer saber disso agora. O importante é tirar Dilma. Mesmo que para um híbrido como Temer, um verdadeiro salto no claro, não no escuro. Claro demais, a ponto de ofuscar a vista. Claro em elitismos, restrições a direitos e ilegitimidade. Que saudade de Itamar Franco e sua fraqueza pelas peludas da Sapucaí.

O inferno astral do PT, seja isso que diabo for, será bom para esse partido. E para a esquerda como um todo. O modo automático que ela entrou, surfando num Lula-mito precisa ser revisto. Antes que toda a ideia de esquerda no Brasil seja assassinada por uma juventude reacionária, platinum, com seus ternos-justinhos-mamãe-quero-dar e, invariavelmente, careta, no pior sentido ideológico do termo.

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O PT está pagando seu preço. Puristas do próprio partido dizem que a traição interna, aos próprios ideais é o juro da conta. O vencimento da fatura talvez esteja próximo. Mas ainda não venceu.

A advertência lúcida de Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal de que no dia seguinte à saída de Dilma pode haver uma impactação social, inclusive com necessidade de Forças Armadas é uma triste realidade para quem estuda História.

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Para muitos haveria uma mudança de lado da intolerância. Para outros uma reação intestina social incontrolável, mas gigantesca. Seja o que houver, vai haver mudança e ela será pior ainda.

Heloisa Maria Murgel Starlind, em profundo estudo sobre o golpe de 1964, na obra Os senhores das gerais, tem um capítulo atualíssimo para os dias atuais intitulado 'O cenário de um confronto'. Mostra que 'os primeiros anos da década de sessenta correspondem ao que talvez tenha sido a mais intensa fermentação ideológica e política da história de um país que então se politizava.' Muito dali se aplica nesta atualidade. Mas uma outra parte é bem pior no tempo presente.

A esquerda foi 'formada' num processo lento, atualmente o PT já dispõe de uma militância aguerrida, imensa e 'aparelhada'. A comunicação ainda dependia de fios, cabos físicos e edições 'extras' de jornais, atualmente as convocações são em rede mundial, no minuto.

É claro que não seria um 'medo' de uma reação do PT que afastaria o impeachment de Dilma Rousseff. Ele em si se basta como instituto constitucional e ostenta uma soberania própria, desde que cabível. Mas se é para falar na quadra 'política, economia, história e sociedade', há sempre que se avaliar os impactos do resultado.

De qualquer forma o país já foi enfiado em um túnel estreito de escuridão e gravidade. Não haverá solução 'feliz' ou menos pior. A quebra ou ruptura, estima-se, costuma ser historicamente pior para um país. Mas com esta sociedade do grito, quem quer saber do fator histórico. O histórico foi ontem e daqui a 5 minutos já é o futuro.

PS. E Cunha, não vai acontecer nada com ele?

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