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Alex Solnik

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

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Querem fazer com Lula o que fizeram com Getúlio

"Todos os presidentes brasileiros populares e nacionalistas dos últimos 60 anos foram destruídos, de uma forma ou de outra, por forças hegemônicas lideradas por setores reacionários da imprensa, às quais não conseguiram resistir", escreve o colunista Alex Solnik, ao citar os presidentes Getúlio Vargas, Janio Quadros, João Goulart e Juscelino Kubistschek; "A caça aos políticos populares e, por consequência, nacionalistas, porque o povo é nacionalista é o esporte favorito das elites brasileiras. Lula não é o primeiro nem será o último", diz Solnik

getulio lula (Foto: Alex Solnik)
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   Todos os presidentes brasileiros populares e nacionalistas dos últimos 60 anos foram destruídos, de uma forma ou de outra, por forças hegemônicas lideradas por setores reacionários da imprensa, às quais não conseguiram resistir.

   Em 54, logo depois de aumentar o salário mínimo em 100% e se tornar mais popular ainda, ele que já era o político brasileiro mais popular da história, Getúlio foi vítima de uma insidiosa e infame campanha comandada pelos jornais “O Globo” e “Tribuna da Imprensa”, esta última pertencente a Carlos Lacerda, conhecido como “o corvo”.

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   Começaram fulminando o empréstimo que o jornalista Samuel Wainer recebeu do Banco do Brasil para fundar a “Última Hora”, preocupados, é óbvio, não só por ele ser getulista, mas por ser um forte concorrente, dada a qualidade do jornal.

   Passaram a atacar o irmão e o filho de Getúlio, mas o auge da campanha começou a 4 de agosto de 1954. Nessa noite, Lacerda foi ferido na perna e o major Rubem Vaz morto, sem que ninguém tenha visto os pistoleiros, mas no dia seguinte Lacerda acusou Getúlio pelo crime, jogando a Aeronáutica contra o presidente na primeira página da “Tribuna”:

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   “Há neste país quem não saiba que a corrupção do governo Vargas gera o terror do seu bando? Hoje, que mais posso dizer? A visão de Rubem Vaz na rua, com duas balas à queima-roupa; a viagem interminável que fiz com ele até o hospital, vendo-o morrer nos meus braços, impede-me de analisar a frio, neste momento, a hedionda emboscada desta noite. Mas, perante Deus acuso um só homem como responsável por esse crime. É o protetor dos ladrões, cuja impunidade lhes dá audácia para atos como o desta noite. Esse homem chama-se Getúlio Vargas”.

   Um inquérito foi instaurado pela Aeronáutica para provar a tese de Lacerda, entusiasticamente aplaudido pelos jornais já citados, embora houvesse dúvidas e muitas. Uma delas: se os tiros no major foram à queima-roupa o alvo era ele e não Lacerda, que só recebeu um tiro de raspão. Outra: Lacerda tinha um caso mal resolvido com um coronel da Aeronáutica que o processava e vice-versa.

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   Apesar de todos os poréns, prevaleceram as narrativas da “Tribuna” e de “O Globo”. A pressão ficou irresistível, mesmo para um político calejado como Vargas. Acusaram-no de preparar um golpe de estado. Até que vinte dias depois, a 24 de agosto, pressionado pelos chefes militares a renunciar, ele se matou com um tiro no coração.

   O popularíssimo Jânio Quadros teve de renunciar, em 1961, também sob ataque cerrado da “Tribuna da Imprensa” e de “O Globo”, com Lacerda à frente, com apenas oito meses de mandato, ao iniciar aproximação com os inimigos declarados dos Estados Unidos: União Soviética, China e Cuba. Depois de ser acusado por Lacerda de planejar um golpe de estado, deixou uma carta-renúncia (e não uma carta testamento) e exilou-se na Europa, como era praxe durante o Estado Novo, que se havia encerrado em 1946.

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   Jango já estava sob marcação cerrada de “O Globo” desde 1955, quando se elegeu vice-presidente da República. No ano anterior, foi ele, então ministro do Trabalho quem determinou o aumento do salário mínimo. Manchetes de outubro desse ano propalavam um suposto escândalo embutido num documento que entrou para a história: a carta Brandi. “Eis as provas da traição de Jango” bradava “O Globo”, referindo-se à denúncia de um deputado argentino de que Perón forneceria armas para Jango. Em poucos dias constatou-se que a carta fora fabricada por dois falsários, que confessaram, mas jamais se soube a mando de quem as fabricaram.

   Seis anos depois, “O Globo” e “A Tribuna” novamente investiram contra Jango – e sobretudo contra a democracia – defendendo, em 1961, o seu impedimento à sucessão de Jânio depois da renúncia, embora fosse o seu vice.  

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   Jango só assumiu porque aceitou um arranjo casuístico, o parlamentarismo, que foi bom enquanto durou, mas passou os três piores anos de sua vida na presidência da República, fulminado diariamente pelas baterias de “O Globo” e “A Tribuna”, até cometer seu último desatino “populista” ao anunciar que terras às margens de rios, açudes e rodovias seriam confiscadas para serem distribuídos aos sem-terra, no comício da Central, a 13 de março de 1964.  

   No dia 1º. de abril foi deposto pelos políticos da UDN, que articulavam um impeachment, acusando-o de planejar um golpe de estado e por um grupo de governadores e de generais do Exército, que passaram a dividir o poder com os chefes da Marinha e da Aeronáutica, mas sob sua liderança.

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   O extermínio de lideranças populares prosseguiu durante a ditadura, atingindo, sem distinção partidária, o governador de São Paulo Adhemar de Barros (cassado), o ex-governador do Rio Carlos Lacerda (cassado), o ex-presidente Jânio Quadros (confinado), o ex-presidente Juscelino Kubitschek (preso e cassado).

   A caça aos políticos populares e, por consequência, nacionalistas, porque o povo é nacionalista é o esporte favorito das elites brasileiras.

   Lula não é o primeiro nem será o último.

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