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José Reinaldo Carvalho

Jornalista, editor internacional do Brasil 247 e da página Resistência: http://www.resistencia.cc

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Renan, Cunha, as alianças e o projeto de golpe legislativo contra Dilma

Quanto aos chefes de turno das duas casas congressuais, deve falar mais alto a Constituição, que estabelece o presidencialismo como forma de governo

Quanto aos chefes de turno das duas casas congressuais, deve falar mais alto a Constituição, que estabelece o presidencialismo como forma de governo (Foto: José Reinaldo Carvalho)
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As forças da esquerda, depois de longo aprendizado com a própria experiência histórica, muitas vezes amarga, orientam-se no Brasil há muito tempo pelo princípio da acumulação de forças, no que joga papel decisivo uma bem formulada política de alianças com sentido estratégico e tático.

Esta foi a linha política e a metodologia que construíram a vitória em quatro sucessivas eleições presidenciais e o êxito dos três mandatos presidenciais, de 2003 até aqui.

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O simbolismo maior desta linha e deste método foi a aliança com forças do centro democrático. Lula teve a ousadia de compor a chapa presidencial com o grande empresário nacional José Alencar, que transitou de posições políticas em partidos de centro-direita para uma relação leal com a esquerda. O político e empresário mineiro foi um incansável batalhador contra a especulação financeira e a política de juros altos, que tanto afetava a produção nacional, tendo sido o maior aliado de Lula no empenho para contornar os malefícios do neoliberalismo na política macroeconômica, então conduzida por Antonio Palocci.

Veio mais tarde o grande acordo com o PMDB, cujo presidente, Michel Temer, malgrado ter sido um empenhado cabo eleitoral do PSDB na campanha que resultou na reeleição de Lula, em 2006, foi acolhido pela coligação liderada pelo PT e a então candidata Dilma Rousseff, de quem o político paulista foi candidato a vice. Vitoriosa a campanha em 2010, Temer cumpriu com zelo e lealdade sua função de vice-presidente, o que o credenciou a permanecer nessa mesma condição nas últimas eleições de 2014.

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Muito embora as naturais discrepâncias entre o PMDB, o PT e o conjunto das forças progressistas e de esquerda - porque o PMDB como partido centrista desde que aderiu à aliança governista sempre atuou em função de seus interesses próprios e muitas vezes como freio às reformas estruturais mais avançadas -, teve seus espaços sempre garantidos. Um dos seus maiores próceres, o senador Renan Calheiros, deve a posição que ocupa de presidente do Senado aos acordos selados e honrados pelo governo e seus principais aliados de esquerda. O mesmo ocorrera com o ex-presidente José Sarney a quem – faça-se justiça - na relação institucional com Lula e Dilma nunca faltou dignidade.

Destarte, não é justo que se debite a atual crise política e o divórcio entre o senador alagoano e o governo a "erros de condução" da presidenta Dilma, ao qual Renan, em parceria com o presidente da Casa vizinha, decidiu unilateral e intempestivamente fazer furibunda oposição. Corrijo-me, intempestivamente não, porquanto o surto oposicionista do presidente do Senado tem registro em horas, minutos, segundos e até décimos de segundos: o exato momento em que passou a figurar na lista de investigados da Operação Lava Jato, com o que inaugura um novo princípio dos cânones de vendeta – o "direito" de vingar-se de quem nunca lhe fez mal.

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As colunas políticas estão recheadas também de atribuições de culpa à presidenta Dilma e até da exigência de "autocrítica", por não ter concertado uma aliança com o deputado Eduardo Cunha, que venceu as eleições à presidência da Câmara dos Deputados. Ora, Dilma, o PT e qualquer outro partido digno de ser rotulado como de esquerda não poderiam, sequer por hipótese, apoiar o deputado peemedebista, pois isto equivaleria a dormir com o inimigo. Cunha é um conotado direitista, para ficarmos apenas na discussão ideológica. Defende o que há de mais retrógrado – política e culturalmente. Está dando sobejas demonstrações disso no exercício da presidência da principal casa legislativa. Sem cerimônia ataca diuturnamente o governo, faz aberta campanha oposicionista, no parlamento e nas ruas. Revela-se como furioso opositor da esquerda e os valores republicanos progressistas.

A mudança de posição de Renan Calheiros – de situacionista a oposicionista - e a vitória de Cunha na Câmara criaram uma situação nova na relação entre o governo e o legislativo. Seria exaustivo enumerar aqui a quantidade de ações deletérias que em poucas semanas a dupla cometeu contra o governo e os interesses nacionais. De tal maneira que resulta ingênuo considerá-los aliados que estão apenas demonstrando "insatisfação" a supostos ou reais maus tratos deste ou daquele senador, deputado ou ministro da base aliada. Não. Falemos claro, estão tentando chantagear o governo. Inglório empenho, conhecendo-se o caráter da principal mandatária do país, reeleita em outubro passado.

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Estas considerações não ignoram a gravidade da situação política nem divergem da opinião de que para superá-la é necessário recompor a base de sustentação do governo no parlamento. Com a palavra a presidenta Dilma e o vice-presidente Michel Temer no rearranjo dos laços com o PMDB. Quanto aos chefes de turno das duas casas congressuais, deve falar mais alto a Constituição, que estabelece o presidencialismo como forma de governo. Quem desejar o parlamentarismo tem a prerrogativa de propor uma revisão constitucional por meio de plebiscito. Fora desses ritos, o "parlamentarismo de facto" de Renan e Cunha não passa de projeto de golpe legislativo contra Dilma.

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