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Maura Montella

Professora de Economia da UFRJ com 10 livros publicados, sendo o mais recente "Era só para envolver o Lula na Zelotes". Mestra em Economia Política, Doutora em Engenharia de Produção e Pós-doutora em Linguística

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Roteiro de um filme (que poderia ser real)

Estrelando: Marcius Garcia como Sérgio Mouco (o Russo) Luana Giovanni como Rosana Mouco (a Conja)

Sergio Moro e Deltan Dallagnol (Foto: Reprodução/Twitter)
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Estrelando:

Marcius Garcia como Sérgio Mouco (o Russo);

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Luana Giovanni como Rosana Mouco (a Conja)

 

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CENA 1. ESCRITÓRIO SÉRGIO MOUCO. MASSACHUSETTS-EUA - DIA

Escritório luxuoso e modernista. Na parede, há uma grande placa estilizada com o nome da empresa: "DESFRUTEZ & TAL", e, com letras menores, a atividade da empresa: "Corporate renewal". Sentado atrás de uma mesa sofisticada com tampo de vidro escuro, SÉRGIO MOUCO, 50, de terno preto, camisa preta, gravata preta, responde ao telefone, um tanto apreensivo. Enquanto fala, Mouco brinca com as peças de um tabuleiro de xadrez à sua frente.

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SÉRGIO MOUCO: Como negaram a busca e apreensão na casa do investigado?? O TRF-4 não estava fechado com a gente?

DALTON ROUXIGNOL (pelo telefone): Pois é, Excelência. Ainda não vi a decisão, mas deve ter sido de algum substituto aliado do PT.

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SÉRGIO MOUCO: O que eles alegaram?

DALTON ROUXIGNOL (pelo telefone): Que não tem provas pra mandar prender.

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SÉRGIO MOUCO: E não tem?

DALTON ROUXIGNOL (pelo telefone): Errr... Não temos provas, Excelência, mas temos convicção.

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SÉRGIO MOUCO: Veja bem, meu rapaz, vim pra Machachutes em missão oficial, mas ainda sou o comandante da Compra A Jato. Vou dar uma palestra hoje à noite e não tenho tempo pra perder com esses bandidos fora da lei. Me manda agora a petição que eu assino digitalmente. 

 

CORTA PARA:

CENA 2. SALA FORÇA-TAREFA. CURITIBA - DIA

DALTON ROUXIGNOL, 42, com bochechas rosadas e semblante infantil, fecha a porta do gabinete às suas costas. Na porta, há uma pequena placa indicativa: "SALA FORÇA-TAREFA - CHEFIA". Dalton se atrapalha para colocar a folha de papel A-4 dentro da pasta ao mesmo tempo em que pega o celular. Abre o aplicativo Telegram e procura o grupo "AMIGOS DA PF". Digita: "O Russo autorizou! Aha, Uhu, o juiz é nosso!". Envia. Logo em seguida, soa um barulho de notificação e aparece uma mensagem de Tamagoshi, que se autodenomina "Descortês da Federal": "Copiado". Dalton digita: "Saindo agora. Chego em 15 min". Dalton guarda o celular no bolso do paletó a la Mário Fofoca e sai com um sorriso no rosto.

 

CENA 3: APARTAMENTO SÉRGIO MOUCO. CURITIBA-PR. QUARTO CASAL - ALVORECER

No espaçoso e muitíssimo maldecorado quarto do casal, ROSANA MOUCO, 45, dorme sozinha, com uma camisola de seda sobre um lençol de cetim. No espaço ao seu lado tem outro travesseiro, mas não é ocupado por ninguém. O antiquado rádio-relógio na mesinha de cabeceira marca "06:00". Alguém esmurra a porta do apartamento. O som é cada vez mais alto e urgente. Rosana acorda num sobressalto. Coloca o penhoar e sai apressada do quarto.

 

CORTA PARA:

CENA 4: APARTAMENTO SÉRGIO MOUCO. CURITIBA. SALA - DIA

Rosana olha pelo olho-mágico da porta. Consegue contar cerca de 10 agentes de polícia, vestidos de preto, portando armamento ultrapesado e capitaneados por Tamagoshi, o Descortês da Federal. Espremido entre eles estava o franzino porteiro, SR. WILSON, tão pálido a ponto de desfalecer.

ROSANA (baixinho): Meu Deus!

TAMAGOSHI: Abre porque temos ordem para invadir.

Rosana, tremendo, obedece. Rosana mal abre a porta e o pelotão invade o apartamento. Sr. Wilson é quase pisoteado.

SR. WILSON: Dona Rosana... perdão... eu tentei impedir...

TAMAGOSHI: Vaza, velhote! Temos um mandado de prisão. Você não tem nada que fazer aqui.

Sr. Wilson sai do apartamento, quase se arrastando, porque lhe faltam as pernas. Rosana tenta tomar as rédeas da situação.

ROSANA: O que está acontecendo, posso saber?

TAMAGOSHI: Temos um mandado de prisão contra o seu marido.

ROSANA: Você sabe com quem está falando???

TAMAGOSHI: Com uma madame feia pra garai que se acha.

ROSANA: Eu vou ligar pro meu marido. Isso não pode estar acontecendo.

Rosana começa a digitar um número no celular, mas o aparelho lhe é brutalmente arrancado das mãos.

TAMAGOSHI: Sintra, pega o celular dela! (Para os demais) Vocês! Não fiquem parados aí. Temos um mandado de busca e apreensão. Vasculhem toda a casa. Encontrem o meliante.

ROSANA: Meu marido não é meliante!!

TAMAGOSHI: Vai ter que dizer isso diante do juiz.

ROSANA: Mas o meu marido é j/

TAMAGOSHI: Minha senhora, seu marido está sendo investigado por formação de quadrilha, corrupção ativa e evasão de divisas. Tá bom ou quer mais?

ROSANA: Mas não pode ser...

Rosana está transtornada. Seus FILHOS, uma menina de dez anos e um menino de seis, correm assustados em direção à mãe e agarram as suas pernas.

FILHA: Mãe, mãe, quem são eles?

FILHO: Pegaram o meu tablet...

FILHA: E amassaram os meus cadernos da escola...

Os filhos choram e Rosana tenta acalmá-los.

ROSANA: Calma, calma, daqui a pouco mamãe fala com o papai... Ele não vai deixar isso ficar assim.

TAMAGOSHI: Vão parando com esse xororô aí. Filhim de bandido, bandido é.

As crianças choram mais ainda, agarradas à mãe.

ROSANA (para os filhos): Vão lá pra dentro, a mamãe já vai ficar com vocês.

As crianças saem acuadas, de mãos dadas e chorando. O agente SINTRA volta para a sala.

SINTRA: Chefe, nem sinal do meliante.

Tamagoshi, o Descortês, olha com lascívia para Rosana.

TAMAGOSHI: Maridinho dormiu fora de casa, foi?

ROSANA: Ele está nos Estados Unidos a trabalho.

TAMAGOSHI: Tá nos States? Tomara que ele aproveite bastante, porque em Pinhais não tem Disneylândia, não!

ROSANA (gritando de nervoso): Meu marido está tra-ba-lhan-do! Ele é j/

Ouve-se um barulho de piano desafinado.

ROSANA: Meu piano? Estão tocando meu piano?!

TAMAGOSHI: Não, madame, meus homens estão tra-ba-lhan-do.

Tamagoshi solta uma gargalhada. Ele é puro sarcasmo. Rosana desespera, sem saber o que fazer.

TAMAGOSHI: Em que cidade ele está?

ROSANA: Eu não tenho que dizer. Sou advogada, sei muito bem dos meus direit/

TAMAGOSHI: Sintra, me põe na linha com a Interpol.  (Para Rosana) Se o bandido do seu marido não aparecer até amanhã de manhã quem vai pro xilindró é a madame.

ROSANA: Você não pode fazer isso.

TAMAGOSHI: Ah, posso! Não só posso como faço questão de vir buscar a senhora, euzinho mesmo!

ROSANA: Eu tenho filhos pequenos.

TAMAGOSHI: A gente manda prum orfanato. Tem errada, não.

Rosana sente que vai desmaiar, mas antes respira fundo e fala com bastante calma, numa última tentativa de resolver aquele imbróglio.

ROSANA: Senhor Tama/

Rosana aperta os olhos para conseguir ler o nome do agente bordado em seu uniforme.

Tamagoshi pronuncia pausadamente o seu nome.

ROSANA: Então, senhor Tamagoshi, eu não sei o que está acontecendo... Meu marido é um homem honesto, de reputação ilibada, sempre atuou dentro da lei...

TAMAGOSHI: Impossível, minha senhora. O juiz que autorizou a prisão do seu marido nunca erra em suas convicções.

ROSANA: Posso ver o mandado? Deve ter algum engano.

TAMAGOSHI: Sintra! Mostra pra madame o passaporte pro xadrez.

Sintra abre o papel na altura dos olhos de Rosana. Ela lê a assinatura do marido e tudo a sua volta fica escuro. Rosana desmaia.

FADE OUT

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