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Paulo Moreira Leite

Colunista e comentarista na TV 247

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Samuel Pinheiro Guimarães deixa a coragem como herança

"Dono de uma erudição respeitável, a firmeza de Samuel ficará como lição de vida num país de história difícil como o nosso", escreve Paulo Moreira Leite

Samuel Pinheiro Guimarães (Foto: Felipe L. Gonçalves/Brasil247)

A morte de Samuel Pinheiro Guimarães Neto (1939-2024) priva a diplomacia brasileira de um cidadão dotado por uma forma particular de coragem.

Ele não apenas fazia questão de exibir com clareza e lealdade os traços de um pensamento independente nos postos em que serviu, mas também produziu uma obra teórica rara utilidade no debate sobre obstáculos enfrentados pelo Brasil e pelos brasileiros na busca por um lugar no mundo.

Formado às vésperas do golpe de abril de 1964, acabou exonerado de uma diretoria da Sudene em função da resistência frente às iniciativas da diplomacia dos Estados Unidos para interferir -- sempre de modo imperial -- nas decisões do governo brasileiro.

Duas décadas depois, Samuel ocupava o posto de vice-presidente da Embrafilme, a estatal brasileira de cinema, quando se produziu o filme "Prá Frente, Brasil," que descrevia com cores inéditas a máquina de tortura de presos políticos militar nos porões do regime de 64.

Mais tarde, Samuel entrou em choque com o governo Fernando Henrique Cardoso, ao denunciar o ingresso do Brasil na Alca, o projeto de Washington destinado a unificar as economias do Continente sob hegemonia norte-americana, decisão que ele classificava como um golpe mortal nas aspirações de um desenvolvimento autônomo do país.

Samuel Pinheiro Guimarães teve uma rápida passagem pelo Partido Comunista nos anos de juventude, foi fiel a Lula e ao Partido dos Trabalhadores enquanto viveu mas, acima de tudo, foi leal a sua consciência de cidadão progressista. Publicou seis livros, dos quais li dois e gostei de ambos:"Quinhentos anos de Periferia" e "Desafios brasileiros na Era dos Gigantes".

Dono de uma erudição respeitável, a firmeza de Samuel ficará como lição de vida num país de história difícil como o nosso.

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* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.