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Cynara Menezes

Baiana de Ipiaú, formou-se em jornalismo pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e já percorreu as redações de vários veículos de imprensa, como Jornal da Bahia, Jornal de Brasília, Folha de S.Paulo, Estadão, revistas IstoÉ/Senhor, Veja, Vip, Carta Capital e Caros Amigos. Editora do site Socialista Morena. Autora dos livros Zen Socialismo, O Que É Ser Arquiteto e O Que É Ser Geógrafo

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São Jair, o santo padroeiro dos produtores de fake news

"Ao se alinhar a produtores de fake news ao mesmo tempo em que acusa a imprensa comercial de produzir notícias falsas contra seu governo, Bolsonaro comprova que nunca teve interesse algum na verdade dos fatos ou na 'liberdade de expressão' da qual se diz defensor", escreve a jornalista Cynara Menezes

(Foto: Reprodução)
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Por Cynara Menezes, para o Jornalistas pela Democracia 

Se alguém ainda tinha dúvidas da ligação de Jair Bolsonaro com as fake news, elas se desmancharam neste sábado, 25 de julho. O presidente colocou a Advocacia Geral da União, ou seja, usou a estrutura do Estado para sair em defesa dos produtores de fake news que tiveram seus perfis bloqueados nas redes sociais por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal). A AGU protocolou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo pedindo a suspensão da decisão.

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No dia anterior, 16 perfis bolsonaristas haviam saído do ar no facebook e no twitter, todos citados no inquérito das fake news, entre eles Allan dos Santos, do site Terça Livre, flagrado diversas vezes publicando notícias falsas contra adversários do governo, o ex-deputado Roberto Jefferson, o empresário Luciano Hang, a ativista Sara Winter e o youtuber Bernardo Küster, já condenado na Justiça por inventar que o teólogo Leonardo Boff havia recebido milhões em dinheiro público.

O presidente se comporta como o santo padroeiro dos que utilizam as redes sociais para caluniar e difamar, em vez de informar. E tudo isso utilizando a estrutura do  governo, dinheiro do povo. Cadê o Ministério Público numa hora dessas?

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De acordo com o ministro Alexandre de Moraes, o pedido de suspensão foi feito para evitar que os perfis continuassem a ser utilizados “como instrumento do cometimento de possíveis condutas criminosas”. As investigações, escreveu o ministro, “indicam possível existência de uso organizado de ferramentas de informática, notadamente contas em redes sociais, para criar, divulgar e disseminar informações falsas ou aptas a lesar as instituições do Estado de Direito, notadamente o Supremo”.

Ao acionar a máquina do Estado em favor do grupo, Bolsonaro assina embaixo da suspeita de que usa as fake news como arma contra opositores e de que os perfis suspensos estão a seu serviço. O presidente se comporta como o santo padroeiro dos que utilizam as redes sociais para caluniar e difamar, em vez de informar. E tudo isso utilizando a estrutura do governo, dinheiro do povo, ferindo mais uma vez o princípio da impessoalidade. Cadê o Ministério Público?

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O mesmo Bolsonaro que sai em defesa de pseudojornalistas fez 53 “ataques sistemáticos” à imprensa apenas no primeiro semestre deste ano, segundo os Repórteres Sem Fronteiras. Foram centenas de ataques de membros do governo a jornalistas

Desde a campanha presidencial que o bolsonarismo tem demonstrado que não sobrevive sem o expediente das fake news. A farsa do kit gay que nunca existiu foi disseminada para atingir seu principal rival na eleição, Fernando Haddad, que na reta final chegou a ser acusado de estar envolvido numa tentativa de estupro. Nem vou mencionar o esdrúxulo boato da “mamadeira de piroca”, que segundo as mentes deturpadas dos aliados do então candidato seria distribuída nas creches se o PT ganhasse.

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Detalhe: além do advogado-geral da União, José Levi, o próprio Jair Bolsonaro assina a ação protocolada no Supremo em defesa dos blogueiros das fake news. “O bloqueio ou a suspensão de perfil em rede social priva o cidadão de que sua opinião possa chegar ao grande público, ecoando sua voz de modo abrangente. Nos dias atuais, na prática, é como privar o cidadão de falar”, justificou a AGU.

É assombroso constatar que o mesmo Bolsonaro que sai em defesa de pseudojornalistas fez 53 “ataques sistemáticos” à imprensa apenas no primeiro semestre deste ano, segundo levantamento dos Repórteres Sem Fronteiras. Foram centenas de ataques de membros do governo a jornalistas, partindo sobretudo do presidente, seus filhos e do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub. O vereador Carlos disparou 43 ataques contra a imprensa; o senador Flávio, 47; o deputado federal Eduardo, 63; e Weintraub, 17.

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Bolsonaro defende os blogueiros amigos alegando “censura” e defesa da liberdade de expressão, ao mesmo tempo que aciona a LSN contra “inimigos”. Que liberdade de expressão é esta que só vale para quem está do lado do governo inventando notícias falsas?

“O trio trabalhou como um verdadeiro braço armado do sistema, ampliando as agressões a jornalistas considerados incômodos demais para a família e para o governo”, diz o relatório. “Ministros alinhados ideologicamente com o presidente, como Abraham Weintraub e Damares Alves também foram peças-chave no movimento de minar a credibilidade dos principais meios de comunicação do país, reforçando um imaginário coletivo, que vem ganhando espaço na sociedade brasileira, de que a imprensa é um inimigo comum.”

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A misoginia é um traço dos ataques do bolsonarismo à imprensa: 15 deles foram feitos diretamente contra jornalistas mulheres, como a repórter da Folha de S.Paulo Patricia Campos Mello, que denunciou o disparo de mensagens de whatsapp em massa durante a eleição. Bolsonaro está sendo processado por Patricia por fazer insinuações de cunho sexual em relação a ela. “A repórter deu o furo”, disse o presidente diante da habitual claque de bolsominions no Palácio da Alvorada.

Bolsonaro já havia atacado nas redes sociais outra repórter, Constança Rezende, do Estadão, com uma citação falsa em um áudio divulgado justamente pelo Terça Livre, o site de seu protegido Allan. Ele atacou dois jornalistas de uma só vez num mesmo tweet: não só expôs a imagem de Constança à sanha dos odiadores como citou nominalmente seu pai, o repórter Chico Otavio.

O presidente também mandou uma repórter calar a boca para todo o mundo ver.

Nada mais contraditório do que ver Bolsonaro se insurgir contra a decisão do Supremo de suspender os perfis amigos alegando “censura” ou a defesa intransigente da liberdade de expressão, quando se sabe que ele acionou a Lei de Segurança Nacional contra jornalistas “inimigos” do regime: o chargista Renato Aroeira, do Brasil 247, o jornalista Ricardo Noblat, da Veja, e o colunista Helio Schwartsman, da Folha de S.Paulo estão sendo investigados pela Polícia Federal por criticar o presidente. Que liberdade de expressão é esta que só vale para quem está do lado do governo e, pior, inventando notícias falsas?

Ao se alinhar a produtores de fake news ao mesmo tempo em que acusa a imprensa comercial de produzir notícias falsas contra seu governo, Bolsonaro comprova que nunca teve interesse algum na verdade dos fatos ou na “liberdade de expressão” da qual se diz defensor –logo ele, um fã declarado da ditadura militar que tantas vozes calou, pela tortura, assassinato ou exílio forçado.

Pelo contrário: o compromisso do presidente com a mentira está agora mais escancarado do que nunca.

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