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Paulo Henrique Arantes

Jornalista há quase quatro décadas, é autor de “Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil”

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Schopenhauer e Bolsonaro

Impressiona a mordacidade com que o pensador alemão se refere a idiotas e hipócritas, cuja predominância neste Século XXI torna a obra dele atualíssima

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Arthur Schopenhauer (1788-1860) é instigante. O pensador alemão é considerado o pai de um tal “pessimismo filosófico”. Claro, é bem mais que isso. Impressiona a mordacidade com que se refere a idiotas e hipócritas, cuja predominância neste Século XXI torna a obra dele atualíssima. Também impressiona a precisão de seus diagnósticos sociais.

Assim escreveu Schopenhauer num pequeno livro, intitulado “A Arte de Escrever”: “O ignorância degrada os homens somente quando se encontra associada à riqueza. O pobre é sujeitado por sua pobreza e necessidade; no seu caso, os trabalhos substituem o saber e ocupam o pensamento. Em contrapartida, os ricos que são ignorantes vivem apenas em função de seus prazeres e se assemelham ao gado, como se pode verificar diariamente. Além disso, ainda devem ser repreendidos por não usarem sua riqueza e ócio para aquilo que lhes conferiria o maior valor”.

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O filósofo do Século XIX chamava os ricos de gado que vive exclusivamente para ruminar seus prazeres. Já os desabastados seriam vítimas das obrigações laborais, as quais os impediriam de qualquer progresso intelectual. A identificação com a realidade brasileira em tempos de Jair Bolsonaro é óbvia.

Em “A Arte de Escrever”, Schopenhauer faz ácida crítica aos escritores despossuídos de ideias próprias, aqueles que nada fazem além de reproduzir pensamentos de terceiros. Transpondo-se tal princípio para os dias atuais, encontra-se semelhança com o que fazem resenhistas políticos com largo espaço na mídia, que se limitam a ecoar concepções que balizam interesses específicos.

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Assim escreve o filósofo: “No fundo, apenas os pensamentos próprios são verdadeiros e têm vida, pois somente eles são entendidos de modo autêntico e completo. Pensamentos alheios, lidos, são como as sobras da refeição de outra pessoa, ou como as roupas deixadas por um hóspede em casa”. 

O capitão descerebrado que hoje governo o Brasil, e seus repetidores da mídia, exalta o patriotismo como virtude máxima. Já se disse e repisou que o patriotismo é o último refugio do canalha. Schopenhauer trata disso com profundidade: “O patriotismo, quando tem a pretensão de se fazer valer no reino das ciências, não passa de um acompanhante indecente, do qual é preciso se livrar. Quando se trata de questões puras e gerais da humanidade e quando a verdade, a clareza e a beleza devem ser os únicos critérios, o que pode ser mais impertinente do que a tentativa de por na balança a preferência pela nação à qual certa pessoa pertence e, em nome desse privilégio, ou cometer uma violência contra a verdade, ou uma injustiça contra os grandes espíritos de nações estrangeiras para destacar espíritos inferiores da própria nação?”

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Quando a praga bolsonarista começa a ser erradicada, como apontam as pesquisas de opinião, emergem na mídia escritos que vendem um inexistente consenso acerca da necessidade de uma via diferente da única verdadeiramente oposta àquela representada pelo capitão. O que se lê em defesa da “terceira via” é de um contorcionismo retórico impressionante. 

Parece que esse movimento falsificador da realidade também foi vislumbrado por Schopenhauer: “Aqueles que elaboram discursos difíceis, obscuros, dubitativos e ambíguos com certeza não sabem direito o que querem dizer, mas têm uma consciência nebulosa do assunto e lutam para chegar a formular um pensamento. No entanto, com frequência, essas pessoas querem esconder de si mesmas e dos outros o fato de que na verdade não têm nada a dizer”.

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