Sindicância militar atesta extrema violência de terroristas do 8 de janeiro

Os documentos entregues pelo Exército a CPMI não eximem totalmente os militares de suas responsabilidades, sobretudo de ordem tática

Atos Golpistas de 8 de janeiro de 2023
Atos Golpistas de 8 de janeiro de 2023 (Foto: Joedson Alves/Agência Brasil)


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(Publicado no site O Cafezinho

Documentos sigilosos do Exército, obtidos com exclusividade pelo Cafezinho, desmentem cabalmente as narrativas bolsonaristas de que os “manifestantes” do 8 de janeiro seriam, em sua maioria, pacíficos, e que havia um pequeno grupo violento.

Uma série de sindicâncias determinadas pelo Comando do Exército, sobre os acontecimentos do 8 de janeiro, realizadas ainda naquele mês, foi enviada a CPMI em curso que investiga esses fatos.

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Uma das sindicâncias, ou na verdade, um conjunto delas, investiga o comportamento de oficiais e praças do Batalhão da Guarda Presidencial. Foram recolhidos vários depoimentos de militares que conseguiram chegar ao local ainda antes da invasão dos prédios.

Todos os relatos atestam a extrema violência e periculosidade dos “manifestantes”, que arremassavam pedras e extintores de incêndio, inclusive de cima dos prédios invadidos.

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Os depoimentos deixam claro que as acusações da oposição, de que a Guarda Presidencial teria se omitido são injustas.

Houve omissão sim, mas por parte da Secretaria de Segurança do Distrito Federal, comandada então por Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro.

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Quando os “manifestantes ultrapassaram as barreiras que bloqueavam o acesso à praça dos Três Poderes, o estrago já estava feito.

O grande número de pessoas, e sobretudo o alto grau de violência com que agiam, deixam as tropas da Guarda Presidencial inteiramente imobilizadas.

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As sindicâncias apontam vários erros táticos dos diversos pelotões militares que acorreram ao local. Mas não houve dolo. Os chefes dos batalhões optaram por recuos estratégicos de maneira a evitar confronto físico que os obrigaria ao uso de armas de foto contra os manifestantes, além de pôr em risco a integridade dos próprios militares.

Abaixo, trechos de alguns depoimentos. Juntei trechos de três depoimentos de militares da Guarda Presidencial.

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Volto em seguida para uma conclusão.

(…)

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O 3º Pelotão da 5ª Companhia de Guarda (3° Pel/5a Cia Gd) entrou em confronto com cerca de 50 manifestantes que ultrapassaram a cerca. Utilizaram munição lacrimogênea e balas de borracha até receberem a ordem do 1º Tenente Rosty para recuar até a retaguarda do espelho d’água, posicionando-se em direção ao Noroeste.

Na extremidade Noroeste do Palácio do Planalto, o mesmo pelotão continuou o embate com os manifestantes, usando apenas balas de borracha e gás lacrimogêneo, sem contato físico entre a linha de escudos da tropa e os manifestantes. Por ordem do comandante do 3º Pelotão, a tropa recuou até se juntar com a linha de escudos da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), permanecendo nessa posição por cerca de 40 minutos.

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(…)

Os manifestantes atiravam pedras e objetos, como extintores e cadeiras, e começaram a aparecer também na frente Leste do Palácio. A PMDF e o 3º Pelotão recuaram até um ponto onde se posicionaram em direção ao Leste, contendo os manifestantes no extremo Sudeste do Palácio do Planalto. Após os enfrentamentos, recuaram para fora do perímetro e mantiveram posição até a chegada da 5ª Companhia de Guarda, sob o comando do 1º Tenente Thiago Oliveira.

Quando questionado sobre quem deu a ordem de retrair, foi informado que a ordem partiu do Tenente Rosty. A ordem de retraimento foi executada até o espelho d’água localizado na parte lateral do Palácio do Planalto. Não houve coordenação específica durante o retraimento, e a tropa recuou como pôde devido ao grande número de manifestantes atirando pedras.

(…)

Em relação à reorganização no local, a tropa se posicionou sob o comando do Tenente Rosty, formando uma linha de frente para os manifestantes. Houve contato físico e um grande consumo de munição não letal. O Tenente Rosty determinou um novo recuo devido ao grande número de manifestantes na retaguarda da tropa.

Outro aspecto relevante, segundo o parecer do encarregado, foi a tomada de posição no acesso oeste do Palácio. A prioridade do comandante do 3º Pelotão foi “proteger a tropa dos arremessos de pedras dos invasores”, o que contraria o item 6.3.3 da “Manobra” do Caderno de Instrução EB70-CI-11.434, que ressalta a importância do “mínimo de danos à população e ao patrimônio”.

Conclusão

Em outro documento, também obtido exclusivamente pelo Cafezinho, o general Gustavo Dutra de Menezes, comandante militar do Planalto, ou seja, chefe do quartel diante do qual se reuniam os “manifestantes” em Brasília, dá informações que ajudam a explicar o 8 de janeiro.

Menezes afirma que nunca foi simpático às manifestações diante do quartel, mas que entendia que não deveria se envolver sem que houvesse, antes, alguma manifestação judicial, o que jamais houve.

O comandante afirma ainda que a secretaria de segurança pública do DF, então comandada por Anderson Torres, tentou emplacar uma narrativa inverídica, ao vender à imprensa que a polícia do DF havia tentando remover os manifestantes no dia 29 de dezembro e teria sido impedida pelo Exército.

Segundo Menezes, a história não é essa. A Secretaria havia combinado de fazer uma “varredura” minuciosa no acampamento naquele dia, mas não uma remoção. A mudança de planos foi informada ao exército no mesmo dia, e o comandante entendeu não ser prudente uma operação dessa natureza sem planejamento.

O mais grave vem a seguir.

Menezes informa que a secretaria de segurança do DF prestou assistência logística aos “manifestantes” dispostos a participar do 8 de janeiro, ao determinar, sem consulta prévia ao Comando Militar do Planalto, que o acampamento seria o “local de encontro” de todos que desejavam fazer atos no 8 de janeiro. A secretaria determinou ainda que fosse reservado, no local, espaço de estacionamento para os ônibus que chegassem com os manifestantes.

Os documentos entregues pelo Exército a CPMI não eximem totalmente os militares de suas responsabilidades, sobretudo de ordem tática.

O maior responsável pelo 8 de janeiro, porém, continua sendo o ex-ministro de Bolsonaro, o então secretário de segurança do DF, Anderson Torres. Mas isso do ponto-de-vista apenas logístico, porque é óbvio que o responsável político maior pelos ataques terroristas do 8 de janeiro foi o ex-presidente Jair Bolsonaro.

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