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Enio Verri

Deputado federal pelo PT-PR

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Superar tradições é avanço civilizatório

A sociedade não tolera mais o arbítrio como sistema de governo. Esse modelo serve apenas à classe dominante, que tem o poder, há séculos, de ser autoritária e cruenta. A sociedade tem espaços nos quais ela pode atuar e tem força para isso, se organizada

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Toda pessoa que nega o machismo e o racismo como duas atávicas e execráveis tradições da cultura brasileira está, inicialmente, equivocada. Seja por ignorância ou interesse de reproduzir o discurso e o comportamento de um modelo social desumano, o esclarecimento não pode faltar. Pode ser por meio de uma saudável conscientização e superação do erro, ou debaixo das varas do Código Penal. O machismo e o racismo são arraigados na sociedade, em todas as classes sociais e em todos os espaços. Desde as piadinhas mais comuns a decisões judiciais cegas para a realidade, quanto na imprensa, que confunde mais que esclarece, essas tradições são reproduzidas e afirmadas como comportamento social tolerável. O discurso das instituições corrobora a desconstrução dos pilares que sustentam o machismo e o racismo estrutural, contudo, quando não negam a história, não oferecem campanhas contundentes e periódicas de conscientização, estigmatizam mulheres e homens pretos e pobres, em programas televisivos desqualificados, quando não romantizam e falseiam condições de vida que: “parece brincadeira, mas não é” (Tumulto – Rappa).

O que permite a banalização da barbaridade dos assassinatos da candidata à Prefeitura de Curralinho, no Pará, Leila Arruda, e o do trabalhador aposentado, João Alberto Silveira Freitas, é uma série de códigos de um comportamento geral, interligados em casa, na rua, no trabalho, no lazer, na imprensa, em espaços onde a normalização do machismo e do racismo mostra o quanto ainda estamos distantes de interromper o massacre diário de mulheres e pretos. O Brasil é o quinto país do mundo que mais mata suas mulheres. Dos mais de 56% da população brasileira, os herdeiros da abolição que colocou milhões de brasileiros na rua, da noite para o dia, sem ter para onde ir, sem trabalho, sem meios de produção, os que têm de 14 a 29 anos são 75% dos mas 60 mil assassinados anuais. Os dados seriam o suficiente para chamar a atenção e fazer uma sociedade refletir sobre a desumanidade como a maior parte da população é tratada e o quanto isso diz do seu modo de organização social. No Brasil, isso não ocorre porque a normatização do machismo e do racismo é reforçada todos os dias, há séculos.

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Dessa forma, ainda serão assassinados muitas Leilas e muitos Joões, até que o cotidiano da barbárie não seja mais permitido. Porém, há um Judiciário, um Ministério Público Federal e diversos órgãos de fiscalização, controle e repressão ao crime, onde atendem servidores que não reconhecem a dívida histórica, tanto com as mulheres quanto com os afrodescendentes. Tem-se a medida da influência de ideologias coloniais sobre quem serve a uma república federativa democrática. Não é incomum algozes de vítimas de feminicídio e de racismo saírem de delegacias, instantes após a entrada, depois de pagar fiança. Tudo depende da força do Habeas Corpus. A história registra a emissão de dois, em 48 horas, em favor de um banqueiro acusado de corrupção e desvio de verbas públicas. A mesma força não teve o HC de um catador de material reciclável, condenado a 11 anos, mantido preso sete anos por carregar material de limpeza e menos de 10g de maconha.

Os governos é que determinam as políticas. Eles são os indutores do processo, no sentido de oferecer acessos minimamente semelhantes para que a inclusão ocorra. A escola e a famílias são os dois principais espaços desse enfrentamento. Políticas públicas são fundamentais para esse processo. Valorização do salário mínimo 77% acima da inflação; construção de habitações dignas para 3,5 milhões brasileiros; titulação das casas do MCMV preferencialmente em nome das mulheres; cerca de 80% dos estudantes das universidades públicas são, hoje, das classes D e E. Essas são algumas táticas para alcançar a estratégia de conduzir a nação a uma conjuntura de justiça, inclusão e isonomia de ocupação de espaços de decisão política e acesso às riquezas produzidas pela classe trabalhadora, cuja maioria é formada de pretos e pobres, eminentemente, mas, principalmente, da mulher preta, que na escala social brasileira, está em último lugar.

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Bolsonaro nega a escravidão e mede a massa dos afrodescendentes em arroubas. Ele nomeou para Presidência da Fundação Palmares um preto que nega a escravidão e a contribuição política, econômica, intelectual, científica, social, enfim, cultural, dos nossos irmãos africanos. O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, teve a desfaçatez de dizer que não existe racismo no Brasil. Essa negação da história é mais um desserviço patrocinado pelo desgoverno Bolsonaro, de disseminação de ignorância e reprodução do discurso da classe dominante. Ele relativiza o estupro e teve a capacidade de expor uma menina de 10 anos de idade, em rede social de internet, com uma sexista e abjeta piada de duplo sentido. Essa é a maneira desse governo agir. Está para morrer o pensamento colonial, segundo o qual, as minorias políticas, a grande maioria populacional, servem para não mais que ferramentas descartáveis.

A classe dominante não suporta a ideia de um país livre, democrático, avançado, moderno, inclusivo, justo e soberano. Ela quer o trabalhador à sua disposição, faminto e sem direito social algum. Infelizmente, ela encontrou um brasileiro disposto a servir a seus propósitos. Porém, a sociedade brasileira está atenta e já mandou o recado, pelas urnas, dia 15. A sociedade não tolera mais o arbítrio como sistema de governo. Esse modelo serve apenas à classe dominante, que tem o poder, há séculos, de ser autoritária e cruenta. A sociedade tem espaços nos quais ela pode atuar e tem força para isso, se organizada. O Judiciário, o MPF e a mídia, principalmente, podem e devem ser chamados para o debate. Pressionar as instituições e participar do processo pelo qual se luta é a politização necessária para que os assassinatos provocados pelo machismo e pelo racismo não sejam mais a ordem do dia. Enquanto essa ideologia imperar, o Brasil jamais deixará de andar em carro de boi, de estuprar e de matar pretos e pobres impunemente.

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