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Jacy Afonso

Presidente do PT-DF

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Taxar o capital e não o trabalho exige debate ideológico

No Brasil, a classe trabalhadora paga mais impostos do que os extremamente ricos

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Dois textos publicados no jornal Valor, na sexta-feira, 31 de julho, me motivaram a resgatar o artigo "Justiça tributária e redução das desigualdades", publicado no Brasil 247 em 26 de janeiro deste ano, quando se iniciava o atual mandato da Presidenta Dilma e principiavam arranjos econômicos que se aplicavam especialmente aos trabalhadores. Na ocasião escrevi sobre a necessidade de efetivamente se realizar um debate nacional sobre a incidência de ações que se refletem na classe média e os menos favorecidos, os efetivamente atingidos pelos ajustes fiscais e pela carga tributária.

Os artigos "Humilhação pedagógica", de José Luís Fiori, e "Jabuticabas tributárias e a desigualdade no Brasil", de Sérgio Gobetti e Rodrigo Orair, são esclarecedores; indispensáveis e claros mostram como tributação, ajustes econômicos e fiscais, atingem de maneira diferenciada pessoas e países.

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As informações utilizadas pelo segundo artigo se referenciam em dados publicados pela Receita Federal do Brasil e que colocam à luz as declarações de Imposto de Renda das pessoas físicas de 2008 a 2014. São ratificações da (não)distribuição de renda e da riqueza no país.

Dados apresentados pelos economistas e pesquisadores do Ipea, Gobetti e Orair, dão conta de que 2/3 da renda do estrato social do topo da pirâmide são isentos de impostos. Ou seja, R$ 196 bilhões não são tributados e, portanto, não contribuem para a melhoria das condições sociais e econômicas do país. Dos declarantes de Imposto de Renda, 0,3% detém 14% da renda total e 23% da riqueza em bens e ativos financeiros. O topo da pirâmide social no Brasil é formado por 71.440 pessoas, com renda mensal maior que 160 salários mínimos.

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Para que fique mais clara essa distorção, os dados nos mostram ainda que desses 71.440 cidadãos mega ricos, mais de 51.419 são ainda mais abastados, pois receberam dividendos e declararam, em 2013, uma renda que girou em torno de R$ 4,5 milhões. O imposto pago pelos privilegiados social e economicamente foi de 1,8% de sua própria renda. Esses dados reafirmam que no Brasil, a classe trabalhadora paga mais impostos do que os extremamente ricos.

O debate a ser novamente resgatado é que os brasileiros muito ricos possuem grandes rendimentos livres de imposto de renda. Por quê? A legislação tributária isenta os lucros e dividendos de acionistas. É isso mesmo: aqueles que possuem ações de empresas não pagam impostos sobre os lucros recebidos. E os que trabalham diariamente para fazer com que essas mesmas ações produzam dividendos pagam imposto sobre o seu salário.

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Nesse momento em que o ajuste fiscal implementado pelo governo ratifica as desigualdades, retira direitos de trabalhadoras e trabalhadores, aumenta juros, reafirmamos que as medidas que possam aproximar os extremos da pirâmide social brasileira são urgentes e exigem coragem ideológica para se tomar a decisão política de taxar o capital.

Por isso, resgato as medidas sugeridas anteriormente:

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1. A taxação deve incidir sobre o capital e não sobre o trabalho. Os rendimentos devem pagar uma alíquota maior e as faixas salariais menores devem ser isentas de qualquer tributação.

2. A correção da tabela do Imposto de Renda significa o resgate da valorização do trabalhador. Em tempos de inflação alta qualquer índice de reajuste conquistado pela classe trabalhadora acaba sendo engolido pelo IR, que precisa se tornar um tributo progressivo e abrangente.

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3. São os do topo que devem pagar mais impostos, pois são exatamente estes os beneficiados com o esforço daqueles que trabalham. Portanto, a taxação das grandes fortunas e das heranças precisa ser colocada em prática

4. Jatinhos, helicópteros, iates e barcos de luxo são veículos automotores. Portanto, devem pagar IPVA como quaisquer outros.

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5. Também é preciso trazer ao debate a Contribuição Provisória sobre a Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira, a CPMF. Esse tipo de imposto garante que as grandes transações financeiras sejam taxadas, auxiliando inclusive no combate à sonegação.

Reafirmamos, então, que a tributação que incida na renda e não na produção e no consumo é fundamental para a retomada do crescimento econômico e a continuidade de um projeto de desenvolvimento para todas e todos. A tributação sobre dividendos, conforme afirmam Gobetti e Orair, ajudaria a reduzir as desigualdades de renda no país e contribuiria muito com o ajuste fiscal, acrescentando cerca de R$ 50 bilhões de receita. Valor muito significativo se comparado à economia realizada com as novas regras de pagamento do salário desemprego, por exemplo.

Além do mais, apenas Brasil e Estônia isentam totalmente os dividendos de tributação.

A afirmação de José Luís Fiori de que "...é também importante que os (países) "não-europeus" aprendam com a história, porque as políticas de austeridade só funcionaram em casos excepcionais, dos países que contaram com desafios ou fatores externos favoráveis, e com um poder político coeso e com enorme capacidade de mobilização ideológica e social dos seus povos", precisa ser sabiamente considerada. Pois afinal, há que se ter coragem para enfrentar efetivamente as disparidades entre ricos e pobres no Brasil.

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