CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
Carlos Fraga avatar

Carlos Fraga

Jornalista e mestre em Educação

7 artigos

blog

Tentativa de boicote à convenção do PL é alerta para a frente democrática

O boicote espontâneo que bombou nas redes sociais é um sinal de alerta. A única arma que Bolsonaro não tem nessa eleição mas sonha ter é a da vitimização

Ato Fora Bolsonaro (Foto: Oliven Rai/Mídia Ninja)
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

A ação espontânea por parte de opositores de Bolsonaro para boicotar a convenção de seu partido, o PL, que o escolherá como candidato a presidente da República não possui nenhum caráter violento, não contém ameaça a quem quer que seja e não é portadora de qualquer risco à integridade física ou à vida de ninguém. Mas é uma trollagem que visa à alteração artificial de um evento político. Não proponho aqui uma discussão sobre a legitimidade desse ato espontâneo que ganhou proporções importantes nas redes sociais. Pretendo apenas refletir sobre a eficácia eleitoral da ação.

Bolsonaro é o grande vilão do país e do processo eleitoral em curso. É ele quem porta a arma e a aponta para o povo brasileiro todos os dias. É dessa arma que saem tiros como a volta da fome e da miséria a níveis alarmantes, o alto desemprego, a inflação insuportável, a transferência de renda dos pobres para os muito ricos, as centenas de milhares de mortes evitáveis na pandemia de covid-19, o projeto de extermínio dos povos indígenas, a entrega de nossas riquezas a corporações estrangeiras, a destruição da Amazônia, as bombas de fezes em Uberlândia e na Cinelândia e a motivação para os disparos que tiraram a vida de Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu. 

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

A vilania de Bolsonaro é real e é ela, em contraposição a quem representa as suas vítimas, que pode derrotá-lo nas eleições de outubro. A campanha não será um mar de rosas para a candidatura Lula. A disposição golpista do presidente, a convocação de seus seguidores para atos truculentos com o objetivo de intimidar e interditar o campo democrático já fazem desta eleição uma das mais violentas da nossa história, com consequências ainda imprevisíveis. Mas, no âmbito da disputa estritamente política, tudo caminha para uma vitória do ex-presidente Lula, ainda que com margem menor do que apontam as pesquisas realizadas até agora, em razão dos possíveis impactos positivos, para o presidente beligerante, da PEC inconstitucional do desespero, com as “bondades” válidas apenas até o final do ano.

A vilania real e visceral de Bolsonaro, portanto, não é capaz de torná-lo vencedor em nenhum pleito majoritário. Mesmo em 2018, não era. Bolsonaro não passava do teto de cerca de 18% das intenções de voto até um mês antes do primeiro turno. Foi um desastre completo nos debates de que participou. Exalava agressividade e não conseguia formular uma frase capaz de cativar eleitores fora da bolha de fascistas enrustidos. Tudo mudou, porém, no dia 6 de setembro, com o episódio da fakeada. A partir daquele momento, Bolsonaro obteve duas armas que o levariam à vitória: uma justificativa legítima para fugir dos debates e a condição de vítima, que se encaixou perfeitamente em sua tentativa, malsucedida até aquele momento, de se apresentar como outsider, antipolítico e antissistema, apesar de uma carreira parlamentar de 27 anos dominada pelo fisiologismo.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Bolsonaro tem dois planos para esta eleição que correm paralelamente. Um é conseguir diminuir sua rejeição e conquistar eleitores acima de seu teto atual de 30% com as medidas eleitoreiras recentemente aprovadas no Congresso. O outro é anular ou até impedir a realização das eleições com o golpe anunciado, caso seja tomado pela certeza da derrota. Mas há um fator com o qual nem mesmo Bolsonaro conta a essa altura: a encarnação do papel de vítima novamente. 

O boicote à convenção do PL é um erro porque inverte, pelo menos simbolicamente, os papéis desempenhados até aqui. O agressor passa a ser o agredido e vice-versa. Isso não quer dizer que Bolsonaro não possa ser atacado. Protestos contra tudo o que ele tem feito de ruim com o povo e o país não o colocam na posição de vítima nem nos coloca no papel de vilões. Ao contrário, denunciar o presidente por todos os crimes que tem cometido e todas as maldades políticas, econômicas e sociais contra o povo reforça a sua condição de vilão, sua parceria com a morte, sua perversidade, sua desumanidade. 

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Mas um ardil para produzir um resultado artificial que o prejudique pode ter efeito inverso. A artificialidade da ação associada ao revés que ela causa gera piedade. É capaz de fazer com que muitas pessoas se projetem no alvo da ação e passem a se identificar com ele. A narrativa construída a partir de um episódio como o do boicote à convenção do PL, com a amplitude e capilaridade das redes bolsonaristas, pode dar a Bolsonaro um fôlego extra. 

E não se pode descartar o risco de que ele se aproveite do fato de seus críticos terem adquirido ingressos para a convenção de seu partido para, numa espécie de fakeada 2, inventar uma confusão durante o evento, capaz até de produzir feridos, e acusar petistas e a campanha de Lula de atos violentos, neutralizando a percepção atual, generalizada e real, de que apenas ele personifica a violência e encarna o papel de mensageiro da morte.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

O boicote espontâneo que bombou nas redes sociais pode não ter potencial para trajar Bolsonaro com o disfarce de cordeiro, mas é um sinal de alerta para todos nós que lutamos para derrotá-lo. A única arma que Bolsonaro não tem nessa eleição mas sonha ter é a da vitimização.

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Carregando os comentários...
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO