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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

203 artigos

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Tiros no Jacarezinho

Há espaço para a inteligência. E ela se move, não tem como parar. Uma crítica de costumes porá no seu devido lugar as comemorações em favor da morte. Sabemos que seus defensores trabalham para conquistar aliados. Mas não passarão. No banquete fascista, como aconteceu na II Grande Guerra, as máscaras terminam por cair

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Em 20 de abril de 1999, uma dupla de garotos entrou em Columbine, uma escola no Colorado, nos Estados Unidos, matou quinze pessoas e se suicidou. Michael Moore, cineasta norte-americano, com seu filme, obteve o Oscar no gênero documentário. Ele pesquisava o gosto, quase mania dos seus conterrâneos pelas armas. As crianças se haviam municiado em casa, onde encontraram tudo o que necessitavam para o extermínio. É um país no qual se difundiu a ideia da conveniência de se armar para se defender. Aqui, na favela do Jacarezinho, a polícia civil também entrou matando. De sua ação resultou um saldo de 28 mortos, sendo um policial. O massacre, posto nos jornais, contou com a atenção do mundo inteiro. Custava-se a crer que um estado de direito impusesse uma lei informal, já que nunca se tratou de justiça. Mesmo assim, logrou apoios por parte de autoridades. O vice-presidente Hamilton Mourão, referindo-se ao fato, declarou, minimizando as baixas: “Tudo bandido” -, como se o argumento falasse por si e justificasse a execução. Esqueceu-se de que uma autoridade da República não pode defender a pena de morte, ilegal no Brasil, a nenhum pretexto, muito menos o assassinato coletivo sem prisão, julgamento e condenação. 

O encarregado da polícia civil Rodrigo Oliveira, reagiu se forma semelhante: “Eu tô pouco preocupado. A ação da polícia vai continuar”. Ao contrário do que possa parecer a um desavisado, não estamos vivendo num país novo. É o mesmo de antes, apenas com mais arrogância, a certeza da impunidade com relação às medidas inconstitucionais. Afinal, o próprio Presidente sempre recorreu à imagem de um fuzil metralhadora como um logotipo, orgulhoso de suas opiniões. O atual governador, cujo nome ainda não se inscreveu em nossa memória, aparentemente consultou “os de cima”, antes de assumir a medida. É um integrante da escola da indiferença, para se afligir com as fotografias de gente morta no meio do abandono e da miséria. Este conjunto de pessoas devia ser arrolado entre os verdadeiros criminosos, uma vez que condenaram à morte e executaram cidadãos sem culpa formada, pegos de surpresa e indefessos. É caso para um Tribunal Internacional estudar e julgar em nome de uma magistratura civilizada. Infelizmente, estamos diante de uma cadeia de conivência marcada pela garantia da impunidade. A imprensa, com sua cobertura, não pôde deixar de difundir, com escândalo, o ocorrido. O fez apesar de duas ou três autoridades que, em vez de repúdio, aplaudiram, alegres pela extensão do massacre. Na comunidade, ouviu-se, agudo, o grito da indignação. Não houve quem não se solidarizasse com as vítimas. São pobres ou negros e não se habituam (quem se habitua?) à violência da opressão. 

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Mesmo assim, há espaço para a inteligência. E ela se move, não tem como parar. Uma crítica de costumes porá no seu devido lugar as comemorações em favor da morte. Sabemos que seus defensores trabalham para conquistar aliados. Mas não passarão. No banquete fascista, como aconteceu na II Grande Guerra, as máscaras terminam por cair.

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