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Patrícia Valim

Professora de História do Brasil Colonial da Universidade Federal da Bahia. Conselheira do Centro de Pesquisa e Documentação da Fundação Perseu Abramo

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Todos juntos, porém diferentes

Patrícia Valim entra no debate sobre os manifestos publicados nos últimos dias e defende a presença da esquerda em todos os espaços onde haja espaço para a defesa da democracia e oportunidade para explicitar os interesses dos trabalhadores e trabalhadoras

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Nos últimos dois dias, o assunto mais comentado na esquerda brasileira foi o pronunciamento do ex presidente Lula em uma reunião do Diretório Nacional do PT sobre a necessidade de cautela em relação aos conteúdos dos manifestos pela democracia e o passado recente de seus signatários - alguns protagonistas do Golpe de 2016 e da eleição de Jair Bolsonaro por meio de fake news. Esse pronunciamento fez muita gente se questionar sobre a possibilidade de as lideranças do PT cometerem outro erro histórico como ocorreu quando o partido dos trabalhadores não assinou a CF/1988 porque considerou a Constituição Cidadã o resultado de um pacto pelo alto no processo de transição da ditadura militar para a democracia. 

O erro se revelou quando uma década depois alguns políticos do alto estavam na base de sustentação dos governos petistas - José Sarney, Paulo Maluf e Delfim Neto são as figuras mais emblemáticas desse processo. Por isso, muita gente tem se questionado qual é a dificuldade de uma liderança de esquerda assinar o manifesto #TodosJuntos pela democracia, pela vida e em memória de quase 32 mil pessoas mortas pelo descaso do atual governo de Jair Bolsonaro? Qual é a dificuldade de, após a assinatura, essa mesma liderança de esquerda convocar uma coletiva de imprensa para denunciar o Golpe de 2016 com o impeachment da ex presidente Dilma Rousseff, o impacto das fake news nas eleições de 2018 e a inconsequência política com o antipetismo militante de boa parte da imprensa e de alguns que hoje assinam o referido manifesto que nem toca no nome de Jair Bolsonaro? 

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Qual é a dificuldade de estar virtual ou pessoalmente em um evento público em defesa da Democracia e por Direitos com pessoas que apoiaram explicitamente o impeachment e depois o bolsonarismo com suas reformas e questioná-los publicamente sobre os direitos tirados da classe trabalhadora? Por que não indagá-los sobre a Reforma da Previdência e o desmonte do Estado pela política pauloguedista? Por que não criar um fato político com o arrependimento e a inconsequência dessa turma e mostrar a importância do voto em uma eleição?

Sem ingenuidade e sem cinismo: as pessoas não podem se arrepender? Quem votou no bolsonarismo genocida nunca mais vai poder votar na esquerda, muito menos no PT? O critério purista de não se juntar com golpistas arrependidos também será extensivo para as coligações estaduais e municipais? Liberais eram bem vindos nos governos petistas, mas agora com mais de mil mortes por dia não são mais? As rimas são infames, eu sei, mas não é o momento de pedir cautela para assinar um manifesto porque não se fala em classe trabalhadora: pois vamos disputar a esfera pública e gritar pela e para a classe trabalhadora, oras.  

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De que cautela estamos falando quando a própria classe trabalhadora correu risco de morte e foi às ruas de várias capitais do país para lutar pela democracia e contra o fascismo? De que classe trabalhadora estamos falando quando os dados subnotificados do Ministério da Saúde revelam que a quantidade de pessoas negras que morrem por Covid-19 no Brasil quintuplicou. Em duas semanas, de 11 a 26 de abril, mortes de pacientes negros foram de pouco mais de 180 para mais de 930. No mesmo período, mortes de pacientes brancos foram triplicadas.

De acordo com a Agência Pública, a explosão de casos de negros que são hospitalizados ou morrem por Covid-19 tem escancarado as desigualdades raciais no Brasil: entre negros, há uma morte a cada três hospitalizados por SRAG causada pelo coronavírus; já entre brancos, há uma morte a cada 4,4 hospitalizações. Ou seja: é a classe trabalhadora que está morrendo aos milhares. Não é por outra razão que nesse momento a esquerda brasileira, com compromisso histórico e ético pela vida e pela diminuição das desigualdades, deve deixar de lado qualquer diferença e ficar ombro a ombro com todos e todas que lutam pela democracia e pelo #ForaBolsonaro

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É pela morte cruel e desassistida da classe trabalhadora nessa pandemia que se espera que o ex-presidente Lula não fique apenas nas lives diárias como o Felipe Neto e ocupe seu histórico lugar como a única liderança política mundial capaz de articular uma aliança interna e externa contra o fascismo e o genocídio de pobres e negros pelo descaso de Jair Bolsonaro, e lutar em defesa da classe trabalhadora, por mais direitos, por um Estado forte capaz de dinamizar a economia e amparar os desvalidos nessa pandemia e, principalmente, pela retomada da normalidade democrática no país para a disputa de projetos de nação. Deixemos a cautela para dias piores. Nessa pandemia, precisamos de coragem à altura do desafio e #TodosJuntos para evitar a tragédia prevista pela OMS para o mês de julho no Brasil: serão milhões de pessoas infectadas e quase dez vezes o número de óbitos.

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