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Lais Gouveia

Mineira, jornalista e ativista da mídia livre

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Um breve diálogo com os refugiados que atracaram no mar meditarrâneo há quatro dias

Refugiados vindos da África vagam pela praia de San Salvador. Sobreviveram a uma das travessias mais perigosas do mundo. Eis o diálogo que tive com um grupo

(Foto: Laís Gouveia)
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Vindo de diversos países da África, um grupo com centenas de refugiados atracou na praia de San Salvador, na Espanha, mar mediterrâneo, há quatro dias. 

Num domingo frio de manhã do inverno europeu, tentei abordá-los na praia para uma conversa. Antes vazia e com alguns cães e seus donos, a orla agora parece um domingo em Copacabana. No local, muitos refugiados olham o  horizonte com semblante incerto. Outros improvisam um futebol (bom, por sinal). Espanhóis olham a cena como se uma nave tivesse pousado com ETS. Atônitos. 

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Tentei uma aproximação com um grupo. 

“Olá, bom dia. Falam português, espanhol ou inglês?”.

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“Não. Francês”. 

Estavam muito ressabiados. Um em especial, menos. Nele me ancorei para tentar uma aproximação. 

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Improvisei um google tradutor. 

“Olá, me chamo Laís, sou jornalista e ativista dos direitos humanos. Defendo o direito de vocês estarem aqui na Europa e serem tratados com dignidade”. 

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Pronto, a partir dali, recebi um sorriso largo. A conversa fluiu um pouco. 

“Onde estão alojados?”, questionei. Eles me disseram “Europe”. (pesquisando mais, descobri que o hotel , o imenso hotel Europe, fechado em toda a temporada de inverno, abriga emergencialmente os refugiados). 

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Com a resposta positiva para abrigo, perguntei se estavam alimentados, se precisavam de algo. “Temos comida”. 

Me disseram na sequência que estavam em centenas de pessoas, vindas de diversos países africanos. Listaram Guiné, Nigéria, Senegal, Congo, Argélia, Tunísia e Mali.

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Perguntei se eles contavam com ajuda de alguma organização ou órgão de estado. Disseram apenas que sim. 

Dali para frente, senti que eles já estavam se sentindo um pouco invadidos com tantas perguntas. Decidi parar. Desejei que encontrassem um emprego logo, que conseguissem uma vida digna na Europa. Agradeceram. 

Pedi uma foto para ilustrar o artigo: “no foto, no foto”, por motivos óbvios. 

Nesta semana, irei ao hotel em que eles estão alojados para buscar mais informações. Saber se estão amparados com as condições estabelecidas pela ONU. 

Quando terminei o diálogo, percebi uma plateia de espanhóis atrás de mim. Ficaram ali ouvindo meu diálogo. Se aprovavam ou desaprovaram a cena, não sei. 

Saí dali com os olhos marejados. Centenas de jovens, com no máximo 20 anos, jogados à sua própria sorte. Tiveram a faceta de não morrerem no mar e agora tentam, com um brilho nos olhos, a tão sonhada permanência na Europa. 

Mais de 2 mil imigrantes desapareceram no Mar Mediterrâneo em 2023 tentando chegar à Europa. Segundo a Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira, mais de 176 mil imigrantes tentaram entrar na Europa nos sete primeiros meses de 2023 - 13% a mais do que o mesmo período de 2022. A maioria entra pelo Mediterrâneo Central, a rota mais perigosa do mundo. Segundo a Organização Internacional para as Migrações, mais de 20 mil pessoas já morreram na região desde 2014. 

Uma moradora daqui me disse que é comum cadáveres pelas orlas da praia. Um bebê foi encontrado recentemente boiando em Tarragona, na Costa Dourada. Em breve, trarei mais atualizações sobre os refugiados que estão por aqui.

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