CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
Carlos Alberto Mattos avatar

Carlos Alberto Mattos

Crítico, curador e pesquisador de cinema. Publica também no blog carmattos

256 artigos

blog

Um Filme para Beatrice

O festival de documentários É Tudo Verdade abriu anteontem (3/4) no Rio com um belo filme que pensa o feminino a partir da obra de Helena Solberg

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

É da natureza dos bons filmes-ensaio partirem de uma ou várias perguntas. E que também façam (e se façam) muitas perguntas, mesmo que nem todas sejam respondidas.

Um Filme para Beatrice se enquadra nessa nobre categoria do documentário a partir de uma pergunta feita pela jornalista italiana Beatrice Andreose à cineasta brasileira Helena Solberg: “Como vão as mulheres no Brasil?”

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Alegadamente movida por essa indagação, Helena pôs-se a recordar sua carreira de filmes voltados para a situação da mulher no Brasil e na América Latina. Recordar talvez também no sentido de “to record again”, gravar de novo, uma vez que esse novo filme se volta não só para o passado, mas também para um presente que anuncia fortes futuros. 

Helena entrou no métier em tempos de Cinema Novo. A Entrevista, curta pioneiro de 1966, sondava e encenava o pensamento das moças de classe média a respeito de sexo e casamento. Assim Helena elaborava uma crítica a sua própria formação burguesa católica. Desde então, trabalhando principalmente no exterior, ela inventariou questões femininas também em países como EUA, México, Peru, Nicarágua, Argentina, Bolívia e Venezuela.
Esse é o fio que conduz Um Filme para Beatrice. A mulher como força de trabalho, o direito ao aborto, a tomada de consciência de mulheres em comunidades opressoras e movimentos coletivos e individuais de liberação feminina fertilizam documentários como The Emerging Woman (1974), A Dupla Jornada (1975), From the Ashes: Nicaragua Today (1982), Meu Corpo, Minha Vida (2017) e a ficção Vida de Menina (2003).
Enquanto o retrospecto da carreira enseja a reflexão pessoal da cineasta, seus encontros com algumas pensadoras atualizam os temas e aprofundam os questionamentos. Heloísa Teixeira (ex-Buarque de Hollanda) e Guilherme Terreri Lima Pereira (mais conhecido como Rita von Hunty) têm conversas deliciosas com Helena sobre os papéis de gênero e os modelos femininos em voga ontem e hoje. Heloísa chuta o pau da barraca ao associar identitarismo a neoliberalismo, enquanto Guilherme pergunta-se sobre o determinismo dos órgãos genitais. Vale lembrar que, em Carmen Miranda: Bananas is My Business, Helena já havia embaralhado os conceitos colocando um ator transformista no papel da Brazilian Bombshell.
Um Filme para Beatrice chega em boa hora ao eleger Marielle Franco como inspiradora de uma fértil discussão com Anielle Franco sobre feminismo negro dentro da perspectiva de um debate envolvendo gênero, raça, classe e ideologia. Sem ninguém se arriscar na futurologia, chega-se a alguns bons palpites sobre como estaremos em futuro próximo.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Helena Solberg diz que conheceu o Brasil estando fora. Com esse filme, certamente entre os seus melhores, ela nos dá um retrato das nossas melhores aspirações do ponto de vista feminino e propõe excelentes perguntas a nossa imaginação.    

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Carregando os comentários...
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO