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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

203 artigos

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Um gosto de humanidade

(Foto: Divulgação)
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A catástrofe de São Sebastião, no litoral paulista, traduziu, até certo ponto, muito do que nos transformamos em termos de sociedade. Logo viemos a saber que dois repórteres do jornal Estado de São Paulo, procurando cobrir os eventos, sofreram ameaças e agressões de moradores de um condomínio rico. Na ânsia de ofendê-los, acusaram o órgão de imprensa no qual trabalham de “comunista”, sem receio de ferir o absurdo. Depois, tentaram tomar a máquina do fotógrafo Thiago Queiroz e, em seguida, no caso de Renata Cafardo, empurraram-na na lama, com o desejo de lhe confiscar o celular. Ouvindo o depoimento do Prefeito Felipe Augusto, no segundo mandato à testa da cidade, tomamos conhecimento de que moradores abastados, em assembleia, não permitiram a construção de casas populares nas proximidades. Queriam o trabalho dos pobres, mas não a sua visão física morando por ali. Cercada por mata atlântica protegida por lei, o lugar dispõe de poucas áreas planas para ocupação de moradias. Com isso, inviabilizou-se o projeto e as pessoas buscaram refúgio nas encostas. Os desastres estavam anunciados. 

O presidente da República viajou para a região e se solidarizou com o Governador e o Prefeito, independentemente de seus partidos. Ofereceu apoio e recursos, justo o oposto do que costumava fazer o antecessor. É uma situação contrastante que evoca Um gosto de mel, de 1962, filme dirigido pelo inglês Tony Richardson. Nele uma jovem, abandonada pela mãe, após um relacionamento com um homem que também a deixou, encontra refúgio no amigo Geoffrey, um colega de trabalho. É como se, no meio da confusão, um valor mais alto, a amizade, se erguesse proporcionando força e amparo. 

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Situações de violência no país saltam aos olhos. O ódio militante que se espalhou, com vítimas fatais e adeptos loucos pela oportunidade do belicismo, degradou os costumes e quebrou, em muitos sentidos, importantes laços de solidariedade. Por isso, mais do que amor, precisamos de sentimentos de empatia. Em semelhante panorama, é importante que o governo se apresente, para corrigir distorções do passado, longínquo ou recente, com rastros de genocídio. Humanidade, cabe recordar, constitui o elo de diferença que estabelecemos com o espaço imaterial, hoje demasiado importante a ponto de cegar para a crueldade e soltá-la sem rédeas contra tudo e contra todos. Felizmente, reviravoltas puseram em ação princípios que pareciam caducos. Lula sabe que um governante deve demonstrar afeto pelas pessoas. Não hesita em exibi-lo. No caso de São Sebastião, interrompeu dias de descanso e foi para lá testemunhar pessoalmente as ocorrências. Pretendeu trazer um exemplo pessoal de que gestos também representam figuras políticas. 

Odiar é fácil. Amar, nem tanto. Não espanta que tenhamos vivido em quantidades excessivas a oportunidade da indiferença durante a epidemia de Covid e mais tarde. Alguém precisava dar um basta em tal cenário ou correríamos o risco de, em pouco tempo, nos transformarmos em lobos do homem, num pesadelo hobbesiano revivido. A própria população despertou do sono letárgico e manifestou seu desejo através das urnas. Foi o bastante para que, apesar do fel dos derrotados, voltássemos a nos entender como seres humanos e não mais como demônios exercitando tiros e espalhando a morte. Pois que viva a vida!

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