Um Goulash para espantar o frio, os amigos em volta: a vida pode ser boa
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Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho e para o Jornalistas pela Democracia
Domingo, 7 de julho de 2019.
Faz já um bom tempo que eu não me sentia tão feliz.
Reunir mais de 50 amigos do peito num sabadão gelado, em torno de um prato de comida e bom vinho, não é muito fácil nem tão comum hoje em dia.
Não era aniversário de ninguém, não havia motivo de festa, nem era boca livre: cada um pagou sua conta, e ninguém reclamou.
A ideia foi do nosso mestre de cerimônias Beto Ranieri, dono da taberna do mesmo nome.
Com o inverno chegando, ele me convocou semanas atrás para preparar um goulash (cozidão de origem húngara, com músculo, pimentão, tomate, cebola e muita páprica), que aprendi a fazer com minha mãe alemã, a dona Beth.
Comi muito este prato em cumbucas fumegantes, servidas com um pedaço de pão nos carrinhos das ruas de Bonn, antiga capital alemã, quando trabalhei lá nos anos 70 como correspondente do Jornal do Brasil.
Tarde da noite, quando terminava de mandar minha matéria para o Brasil, era a salvação da lavoura: farto, robusto e barato, o goulash quebrava o gelo e aquecia a alma.
Por uma feliz coincidência, o almoço foi marcado para o dia mais frio do ano, e o pessoal veio chegando com muita fome.
Na pequena casa de eventos do amigo Pernet, já estava tudo pronto: dois caldeirões de goulash borbulhante, travessas de spätzle (um pequeno e delicado nhoque), pão caseiro e salada verde.
A jovem brigada do chef Guilherme cuidou de tudo, seguiu à risca a receita familiar que lhe passei, e só me coube dar uns poucos palpites no acerto dos temperos e do molho espesso.
Estava tudo tão bom que nem sobrou espaço para discussões políticas, comuns entre pessoas de origens e ocupações tão diferentes, cada um com seus problemas.
Com crianças pequenas circulando pelo salão, os comensais rindo e falando alto, pedindo mais uma garrafa de vinho ou de cerveja, mais parecia festa de família numa cantina italiana.
Entre eles, havia até um grande médico, mas não foi preciso recorrer aos seus préstimos.
Apesar da fartança de comes e bebes, para minha felicidade, ninguém passou mal.
Já com a tarde caindo, as conversas continuavam animadas, Pernet e Beto circulando felizes de mesa em mesa, já pensando no próximo encontro da confraria.
Nem parecia que a gente estava no Brasil. Ali todos só queriam celebrar a amizade.
A vida também pode ser boa.
Vida que segue.
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