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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Um mês e meio depois, vazamento ganha destaque na mídia, que aposta na origem venezuelana do óleo

A colunista Denise Assis afirma que a mídia demorou para dar a devida atenção ao desastre ambiental no litoral do Nordeste. Ela diz: "estranhamente, desde que Jair lançou a hipótese de o piche ter origem venezuelana, houve um reacender do tema que, agora sim, desde o dia 4 de outubro, está sendo esmiuçado com o vigor costumeiro"

Tartaruga coberta por óleo em praia de Alcântara (MA) (Foto: Julio Deranzani Bicudo/via REUTERS)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas Pela Democracia - No dia 2 de setembro moradores e pescadores da região Nordeste identificaram manchas de óleo pesado nas praias. No dia 3 o blog pernambucano especializado em meio ambiente, o OP9, denunciou o vazamento que chegava à orla, em Recife. A primeira notícia a ir para as páginas dos jornalões, salvo engano, veio do Estadão, no dia 26 de setembro, e revelava que a Marinha, embora já tivesse colhido amostras para análise, até aquela data (24 dias depois dos primeiros sinais) não havia divulgado o resultado. O jornal ouviu uma especialista da região, e ficou nisto.

O acidente foi veiculado neste período por dois ou três dias e sumiu do noticiário, ou entrou de maneira discreta e sem o costumeiro empenho dos veículos em aprofundar e investigar tais fatos. Não se viu também a movimentação dos órgãos ambientais, exceto o Ibama – aquele, atacado por Bolsonaro e que desde a campanha o traduz como “uma indústria de multas” – ou se houve mobilização de outro órgão, não chegou com destaque à mídia.

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Estranhamente, desde que Jair lançou a hipótese de o piche ter origem venezuelana, houve um reacender do tema que, agora sim, desde o dia 4 de outubro, está sendo esmiuçado com o vigor costumeiro. O que fizeram os caros colegas manter o assunto em banho-maria até o dia 4 de outubro, quando então passou a ganhar tratamento de “acidente ecológico”, com riscos à região, à vida marinha, aos moradores e aos negócios do turismo?

Isto, sem mencionar a até então a falta de interesse da Comunicação oficial. Desde o dia 4, porém, depois que Bolsonaro deixou escapar que o óleo poderia ser de Nicolás Maduro, vimos o ministro em coletiva, falar com estardalhaço do tema. Quase um mês e meio depois. Soou oportunista e grotesco. E, ao contrário do que considerou a Comunicação do governo, (certamente alguém avaliou que valia a pena) o efeito foi contrário, pois levou Ricardo Salles - o que só entende de agronegócios - a ter de admitir que houve lentidão nas providências. 

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O vazamento foi relegado a segundo (quiçá terceiro) plano e ninguém tem opinião formada sobre o que aconteceu, exceto ele e Bolsonaro, para quem está muito claro que o óleo é venezuelano. 

Talvez a aposta de que o óleo vazado poderia azeitar uma boa peleja, ou ampliar a crise com a Venezuela, a ponto de colocar o país na condição de “vilão” desta história, pode ter animado a mídia, que agora cava com afinco especialistas, ministros e ex-ministros para abordar o assunto. 

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Maduro já emitiu nota enérgica, em que rechaçou “categoricamente” a suspeição. Foi enfático, como é do seu estilo: “Condenamos estas afirmações tendenciosas que pretendem aprofundar as ações unilaterais de agressão e bloqueio contra nosso povo”. A Marinha do Brasil escalou um oficial para fazer mea culpa no horário nobre naquele canal poderoso e admitir que foram lentos. No ponto em que as coisas chegaram, ou o Brasil esclarece de quem é e de onde veio ou óleo, ou esclarece. Não existe plano B. Quanto à mídia, é hora de arregaçar as mangas e tentar recuperar os 24 dias perdidos. 

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