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Miguel Paiva

Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia

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Um país ao deus de ará

Como não podemos mais depositar nada ao Deus de Ará melhor seria dar a esse povo educação, instrução conhecimento e cultura, além da experiência de quem já viveu antes

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Por Miguel Paiva, para o Jornalistas pela Democracia - Se deixarmos um povo ao Deus de Ará (vocês pensavam que era Deus Dará, certo? Mas não, segundo meu amigo Glênio Guedes, o Deus de Ará é o deus do desleixo) esse mesmo povo não vai sair do lugar. Talvez, por instinto, aprenda a sobreviver e só. Vai se comunicar, transar, é claro e se reproduzir mas a cultura, o desenvolvimento, o crescimento social e intelectual só se dará com afinco e dedicação por parte dos governantes. Como não podemos mais depositar nada ao Deus de Ará melhor seria dar a esse povo educação, instrução conhecimento e cultura, além da experiência de quem já viveu antes. 

O que estamos vendo hoje no Brasil é um país largado, entregue aos seus mais impuros instintos e se afastando a cada dia de qualquer possibilidade de enriquecimento cultural. Claro, um povo largado é muito mais fácil de ser manipulado.

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Estamos chegando ao estado bruto da convivência. As pessoas não se suportam mais, se agridem, desconfiam umas das outras e chegam à violência física e verbal com absurda rapidez.

Claro que não cabe a mim culpar o povo. Vou sempre atrás das causas escondidas, do que está por detrás do comportamento coletivo. Um povo sem escola não sabe como conviver. como dividir, como respeitar o outro. Instintivamente luta pela sobrevivência, pelo seu espaço que cada dia diminui. Espaço no caso significa casa, comida, trabalho e saúde, sem que isso venha nesta ordem ou nesta consciência. Como está cada dia mais difícil sobreviver, a tensão da manutenção da vida acaba transformando o ambiente numa arena hostil e perigosa.

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Andar pelas ruas virou mais ou menos isso. O estado sumiu, a fiscalização não existe, a ordem é uma ideia autoritária que vem do alto e o coletivo é só aquele meio de transporte mal conservado que avança os sinais abandonados. As pessoas estacionam onde querem, do jeito que querem e não aceitam que você se meta em benefício da coletividade. A coletividade virou uma doença contagiosa, uma ameaça à sua vida pessoal. Vai cuidar do que é teu, dizem nas entrelinhas quando não transformam essa frase numa atitude agressiva concreta, puxar da arma e até atirar. Isso vale para todas as relações, principalmente as de homem e mulher. Como o "atrevimento" feminino desequilibrou a opressão masculina na relação qualquer coisa que ameace é passível de levar um tiro ou uma facada. Como o presidente se vangloria do aumento do número de registro de armas de fogo, isso vira aval para a criminalização das relações sem punições para os crimes.

Discutir, defendendo algum direito, nas ruas virou perigo de vida. Fazer algum espetáculo manifestando  sua expressão pessoal pode virar alvo da Nova Inquisição. Falar livremente em público, num bar ou num local de grande aglomeração pode ser sua sentença de morte. Os ânimos estão exaltados e liberados. Vale tudo nessa selva bolsonariana. O esmalte civilizatório está descascando e a tinta que surge embaixo é composta por ferrugem degradação, corrosão e abandono.

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Como um viaduto que cai por sua não manutenção a sociedade vai desabando por falta de cuidado. Se nada mudar seremos a última geração a perceber isso. Quem vem por aí, animado pela meritocracia e pelo vale tudo neoliberal vai conseguir, se tiver condições, seu espaço na guerra contra a justiça social, a redistribuição de renda e o desenvolvimento humano desse povo sofrido. 

O Brasil pode virar um enorme terreno baldio onde cultos religiosos serão realizados e a doutrina distribuída como pão e circo de um povo que não saberá mais o que existe além disso. Sei que é triste e grave essa minha previsão mas não dá para entrar no novo ano achando que hoje é um novo dia de um novo tempo. É um dia mais do que conhecido de um tempo antigo que insiste em permanecer. Se continuar esse vale-tudo, só os fortes sobreviverão. 

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