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Victor Assis

Dirigente dos comitês de luta contra o golpe em Pernambuco e editor do Diário Causa Operária

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Uma depuração necessária

O movimento Fora Bolsonaro inaugura nova etapa, em que a experiência da "frente ampla" precisa ser enterrada

Bloco vermelho (Foto: Reprodução)
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Victor Assis, DCO

O grito de “Fora Bolsonaro” não surgiu de uma reunião mafiosa organizada por Renan Calheiros, nem de uma aula sobre a “decolonização” ministrada por Guilherme Boulos em uma ONG da CIA. Muito menos teria saído da sauna onde Jones Manoel define sua política ou da fábrica de mentiras da Folha de S.Paulo. Saiu — e não podia sair de outro lugar — do movimento operário, da boca daqueles que estão sofrendo na pele a ofensiva da burguesia.

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Há menos de três anos, todos os digníssimos citados estavam, uns mais descarados, outros mais enrustidos, dizendo a mesma coisa: “não sou pai dessa criança, mas, já que ela foi eleita pelo povo burro, vendido e despolitizado que acredita em fake news, vamos reconhecer o seu mandato”. E ficaram nessa ladainha por mais de um ano, até que finalmente o Vaticano da esquerda pequeno-burguesa, a Globo, tirou o “Fora Bolsonaro” de seu Index Prohibitorum.

E mesmo quando começaram a tuitar o “Fora Bolsonaro”, nunca de fato levaram a sério o que falavam. Afinal de contas, o “Fora Bolsonaro” nada tinha a ver com a necessidade das massas de barrar os ataques, mas sim com o slogan que usariam na campanha eleitoral. Um criminoso como João Doria, que matou mais de cem mil pessoas na pandemia, rapidamente se apresentou como “científico” para se promover. Pura balela.

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Pela “esquerda”, Guilherme Boulos e os grupinhos e cabos eleitorais que conseguiu agrupar sob seu guarda-chuva cumpriram o mesmo papel: falavam dia e noite em “genocídio”, mas se colocavam abertamente contra sair às ruas para derrubar o governo.

Muito longe de um golpe eleitoral, o “Fora Bolsonaro” é o resultado de uma experiência concreta do movimento operário e popular. A palavra de ordem exigindo a queda do fascista que ocupa hoje o Palácio do Planalto é um clamor dos miseráveis. É a forma mais simples de dizer: “vocês, que acabaram com o Bolsa Família, que tiraram meu emprego, que deram carta-branca para a polícia matar meu filho, que estão deixando minha geladeira cada vez mais vazia, saiam já daí! Vocês, que derrubaram o governo que nós elegemos, que prenderam a nossa principal liderança, fujam para Miami e deixem o País para nós”!

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Ninguém “inventou” o Fora Bolsonaro: ele já existe desde o momento em que os direitos políticos de Lula foram cassados e a burguesia deu sinal verde para que Bolsonaro fosse o sucessor de Michel Temer. Ele é apenas a forma momentânea que uma luta muito mais profunda assumiu. Isto é, trata-se da maneira mais simples, mais direta, de mobilizar os trabalhadores que estão, há oito anos, se chocando com os seus algozes. É a luta contra o golpe, a luta da esmagadora maioria do povo pobre e sofrido contra os picaretas que querem devastar o País para que meia dúzia de banqueiros continue engordando.

Como essa luta não é obra de um livro ou de uma maquete social, ela não tem como acontecer sem contradições. A luta contra a política assassina do imperialismo não pode ser outra que não a luta dos que estão sendo atacados contra o grupo que ataca. Em outras palavras, a luta contra o golpe — diga-se, todos os golpes — deve ser, necessariamente, a luta de uma classe contra outra. E é por se tratar de uma luta dessa natureza que ela exige, necessariamente, um processo: para que aqueles que estão no chão se insurjam, é preciso que tomem consciência dos motivos que levam a seu estado e, portanto, encontrem os meios para enfrentar seus inimigos.

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Essa consciência só pode vir da experiência. Quanto mais a classe operária se lançar na tarefa de lutar por sua sobrevivência, mais vai ver falir o reformismo e todas as alternativas que não sejam o enfrentamento com a burguesia. As condições objetivas levam a um enfrentamento entre as classes; é, portanto, para isso que a consciência se encaminha.

Em 2014, a forma mais aparente que teve a luta contra o golpe era a disputa eleitoral entre a candidatura do PT e a candidatura do PSDB. Para os menos experientes, a coisa aparecia da seguinte forma: a direita estava prendendo as lideranças petistas e em campanha contra Dilma Rousseff na imprensa simplesmente porque queria eleger um outro candidato. Nessa formulação muito incipiente, o ativista poderia acreditar que o MDB, de Michel Temer, por exemplo, estaria ao seu lado, uma vez que formou a chapa com a presidenta petista.

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Em 2016, a situação já se tornou muito mais clara. A luta assumiu a forma da luta da esquerda contra os “golpistas”, sendo os “golpistas” a maioria dos partidos burgueses, o Judiciário e a imprensa. A oposição entre o povo e a direita se aprofundou ainda mais quando praticamente o mesmo grupo que derrubou Dilma Rousseff apoiou a prisão do ex-presidente Lula.

A prisão de Lula, inclusive, foi um importante marco na radicalização do movimento operário e popular. Quando sua prisão foi decretada, milhares de trabalhadores cercaram o Sindicato dos Metalúrgicos e enfrentaram, durante mais de um dia, a Polícia Federal e toda a pressão da burguesia. A situação continuou evoluindo, com caravanas até Curitiba em apoio ao ex-presidente, de modo que a Direção do PT, conhecida por suas vacilações, chegou a registrar a candidatura presidencial de Lula, mesmo ele estando preso.

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Durante o ano de 2018, a radicalização fez com que os trabalhadores passassem não só a se chocar com a direita, mas com setores da esquerda que se prestaram ao papel de colaborar com a direita. Elementos mais direitistas, como Jaques Wagner, que chegaram a defender a candidatura de Ciro Gomes (PDT), ficaram bastante desmoralizados, a base do PT de Pernambuco se rebelou contra o senador Humberto Costa que entregou o governo do Estado para o golpista PSB e a cúpula do maior partido de esquerda da América Latina encontrou muita dificuldade para conseguir aprovar o “plano B”.

Veio 2019, e os conflitos só aumentaram. Durante todo aquele ano, pipocaram, em todo o País, milhares de casos em que o povo, espontaneamente, gritava “Fora Bolsonaro” ou “ei, Bolsonaro, vai tomar no c*”, desobedecendo as ordens expressas das direções. No mesmo ano, explodiam manifestações no Chile que passavam totalmente à revelia dos partidos do regime e o movimento pela liberdade de Lula foi tomando uma dimensão gigantesca. Ali, a luta se definia ainda mais: o povo estava contra o Judiciário, o Congresso, a Polícia, a direita e até mesmo contra quem da esquerda quisesse entregar o movimento para os inimigos.

Em 2020, por uma série de circunstâncias, as direções conseguiram impor todos os picaretas que tanto atacaram os trabalhadores no período anterior. Mas não era mais 2014, quando o clima já não era de festa. Insistiram, insistiram, insistiram, até que finalmente o povo foi obrigado a ensinar para suas direções que não quer marchar com golpistas. As vaias a Ciro Gomes, Paulinho da Força e todos os direitistas que apareceram no ato de 2 de outubro foi uma espécie de lição final: se alguém ainda tinha dúvidas do que o povo quer quando pede “Fora Bolsonaro”, agora a experiência deixou claro. O que o povo quer é acabar com a raça da corja que lhe assalta todo dia.

A burguesia notícia as hostilidades como se fosse um velório. Que seja o seu velório! O movimento de luta contra o golpe, por outro lado, está mais vivo do que nunca. As vaias aos direitistas foram uma bela demonstração de força do movimento: os trabalhadores aprenderam tanto com sua experiência que conseguem impor sua vontade até mesmo quando suas direções não ajudam. Afinal, foram os trabalhadores que colocaram os atos nas ruas — não devem absolutamente nada a ninguém.

As ameaças da coordenação de acabar com os atos apenas comprovam que as direções são incapazes de compreender o movimento. No entanto, revelam que o movimento tem plenas condições de realizar uma necessária depuração: se o movimento é capaz de expulsar seus inimigos dos atos, é capaz de se livrar de todo o peso morto que estava impedindo-o de crescer. É hora de cortar pela raiz tudo aquilo que não unifica a classe operária: a direita golpista e o carreirismo doentio da pequena burguesia.

Após expulsar Ciro Gomes da Avenida Paulista, agora é hora de o movimento tomar de vez a dianteira dos atos. É hora de reunir todos os ativistas para passar por cima dos inimigos do movimento e ditar que a rua é do povo, e que sairá do povo os dias dos próximos atos, quem será chamado para os atos e com qual programa sairemos às ruas.

Rumo à plenária nacional aberta do Bloco Vermelho, por Fora Bolsonaro e Lula presidente!

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