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Urariano Mota

Autor de “Soledad no Recife”, recriação dos últimos dias de Soledad Barrett, mulher do Cabo Anselmo, entregue pelo traidor à ditadura. Escreveu ainda “O filho renegado de Deus”, Prêmio Guavira de Literatura 2014, e “A mais longa duração da juventude”, romance da geração rebelde do Brasil

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Uma dimensão do terror na ditadura

Nesta semana, ao pesquisar sobre história brasileira, descobri o que eu não buscava. É natural, isso acontece com todo o mundo. Mas ocorrem, às vezes, descobertas sobre as quais possuíamos apenas uma intuição, e não tínhamos a certeza. E pude ver em palavras vivas de outra pessoa o que sabia e não provava

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Nesta semana, ao pesquisar sobre história brasileira, descobri o que eu não buscava. É natural, isso acontece com todo o mundo. Mas ocorrem, às vezes, descobertas sobre as quais possuíamos apenas uma intuição, e não tínhamos a certeza. E pude ver em palavras vivas de outra pessoa o que sabia e não provava. 

Isso me vem a propósito do depoimento do advogado Glauco Gonçalves, ex-preso político, na Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara. Em determinado ponto, ele fala do que gostaria de esquecer, ou do que pensava ter esquecido sobre o terror na ditadura: 

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“É bom a gente conversar assim, porque eu não tive, de lá pra cá, de 73 pra cá, essa conversa com ninguém.  É porque é um assunto que a pessoa procura deixar na caixinha”. 

Então, entre muitos pontos fundamentais sobre a repressão política, ele se refere ao terrorismo que atingia pessoas além da esquerda, mas que ainda assim foram machucadas pelos torturadores da ditadura. São casos que distendem a dimensão do terror até a margem do tragicômico. 

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Assim fala Glauco Gonçalves sobre o que viu na sua prisão em 1973:

“Fizeram um interrogatório perto dum quarto, uma cafua pra lá, eram móveis velhos, eu fiquei em pé o dia todo e vendado. Eu passei uma noite toda vendado. Aí, depois eu me encostei num móvel, e quando fui lá pro interrogatório, tinha uma moça que era funcionária do antigo Banco Econômico, mas ela não tinha nada com a coisa, ela dizia: 

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- Olhe, a minha atividade é só fumar maconha!. 

Ela só fumava maconha. Mas não tinha nada desse movimento e a moça foi torturada por causa disso. Depois, eu não sei se foi nessa mesma noite ou foi na noite seguinte... 

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Eu passei dois dias pra ser interrogado. Então chegou um homossexual. Ele gritava: ‘Eu não sou comunista, não, eu sou veado’. Agora sabe o que aconteceu? O infeliz... Eu fui interrogado por Fleury no segundo dia. Eu ouvi de noite o interrogatório do homossexual, ele gritava:

- Eu não sou comunista não. Eu sou veado! Eu não sabia. Eu achei lindo o soldado e tirei uma fotografia!

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O coitado tirou uma fotografia do sentinela porque achou o sentinela bonito. Inocente. Foi tirar uma fotografia do soldado. Esse rapaz foi barbarizado lá. 

A repressão fazia o que queria”

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Acredito que não é preciso ser mais eloquente. Não é preciso circular essa memória com a moldura de um comentário. O trecho acima do depoimento de Glauco Gonçalves fala melhor sobre o terror geral da ditadura. 

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