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Armínio Westermann

Analista político

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Uma nova carta ao povo brasileiro

Para garantir a vitória e salvar o Brasil do abismo, Lula precisa oferecer garantias a parcelas significativas da sociedade que ainda veem no PT um risco

Lula discursa a apoiadores após votação no domingo 02/10/2022 (Foto: REUTERS/Mariana Greif)
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Para garantir a vitória e salvar o Brasil do abismo, Lula precisa oferecer garantias a parcelas significativas da sociedade que ainda veem no PT um risco.

Esse risco, atualmente, nada tem a ver com gestão macroeconômica. O eleitor do interior paulista não está preocupado com âncora fiscal, teto de gastos ou meta de inflação.

Tampouco há qualquer preocupação real com Cuba ou Venezuela.

O “fantasma do comunismo”, ainda ativo, embora tão surrado, é uma mera cortina de fumaça. Trata-se na verdade de um código, utilizado para sugerir o que não já não se pode dizer abertamente.

O eleitor que ainda resiste ao PT, apesar do descontentando com Bolsonaro, resiste ao PT pelo temor de que uma vez no poder o partido implemente tentativas agressivas de “reforma cultural”.

Teme-se, em termos concretos, a ampliação das hipóteses de aborto legal e a introdução nas escolas de políticas de incentivo à diversidade de opções sexuais, sob pretexto de defesa da tolerância ou dos direitos humanos.

Isso é o que impede o PT de vencer eleições com 70% dos votos ou mais, como de outra forma seria natural.

O eleitor médio está de acordo com a forte presença do estado na economia e com investimentos pesados em saúde e edução públicas, mas é radicalmente contrário à idéia de que o estado possa ditar regras em matéria de família.

O liberalismo econômico não tem voto. O bolsonarismo apoia-se quase integralmente no conservadorismo em matéria de sexualidade e família.

Note-se bem: o brasileiro médio não é necessariamente contrário à homosexualidade e tende, de fato, a tratar com respeito casos concretos de homosexualidade, como assunto pertence à esfera privada.

A objeção que se faz à “esquerda”, em reuniões de família, em comícios bolsonaristas, bem como em cultos religiosos, tem relação com o temor de que o PT instale no poder figuras como Damares porém com o sinal trocado (Damares de cabelo azul, por assim dizer).

Teme-se, em outras palavras, que o estado, no âmbito escolar, exponha crianças e adolescentes a materiais e discursos que relativizem o entendimento comum, consagrado, sobre família, casamento e sexualidade.

O eleitor médio vê hoje no estado, bem como na grande mídia, um inimigo, no que diz respeito à educação de seus filhos e filhas.

O eleitor médio vê hoje a escola como um espaço de alto risco, temendo que a educação dada em casa a duras penas seja reduzida a pó dentro do ambiente escolar, sob o pretexto de "educação para diversidade".

O eleitor médio sente-se traído pelo estado e desespera-se ao imaginar que seus filhos e filhas possam ser transformado em cobaias e submetidos a tentativas de experimentalismo cultural.

Bolsonaro, nesse contexto, é uma remédio aceito muitas vezes a contragosto. O eleitor médio sofre com o retorno da inflação e da pobreza e não é necessariamente favorável a um golpe militar. Tamanho, no entanto, é o pavor despertado pela idéia de que o estado tente assumir a educação moral de crianças e adolescentes que quaisquer outras questões, ainda que vitais, tendem a ser tratadas como secundárias.

Opta-se pela pobreza, para a preservação de filhos e filhas. Aceita-se a esculhambação das instituições, em nome da autonomia moral na esfera doméstica. Isso é o que está em jogo. Isso é o que faz da suposta “imbrochabilidade" uma bandeira política.

Para dissipar receios legítimos das classes médias e baixas, hoje assoladas não pelo temor do comunismo, mas pelo temor do vanguardismo cultural, é necessário que o PT assuma o compromisso inequívoco de resgatar a educação escolar tradicional, centrada no estudo das ciências, da história, da geografia e da matemática.

O povo clama por educação, mas pede para ser deixado em paz no que diz respeito a questões relacionadas a casamento e sexualidade.

Está um curso uma guerra religiosa no Brasil que pode ser encerrada hoje com uma simples declaração — feita em pedra — de que o estado, sob a gestão do PT, não competirá com as famílias no que diz respeito à educação de crianças e adolescentes em questões de casamento e sexualidade.

Se o PT, confiando no bom senso e na decência do povo brasileiro, assumir o compromisso de respeitar a esfera privada, governará o Brasil pelos próximos 20 anos ou 30 anos, levando o Brasil a um patamar de bem-estar social equivalente ao existente hoje na Europa.

Esse é o ponto fundamental, ao qual dois outros deverão ser somados: rejeição do aborto, como já mencionado, exceto nos casos extremos já previstos em lei e rejeição à liberação das drogas.

A sociedade está ciente dos problemas causados pelo tráfico de drogas, mas vê na liberação do uso de drogas um problema maior. É preciso que o estado leve isso em conta e continue trabalhando na repressão do consumo e do tráfico, seja o custo qual for.

Com relação ao aborto, não é preciso dizer muito: não cabe o estado decidir sobre questões de vida e morte, exceto em tempo de guerra, dentro de condições excepcionais e estritamente reguladas. O estado não pode autorizar mortes assim como não pode o próprio estado matar. Questões de vida e morte simplesmente fogem à competência do estado. Trata-se de uma lição básica e incontroversa do direito natural. De qualquer forma, no contexto da guerra religiosa atualmente em curso, é necessário que Lula declare, solenemente, que trabalhará para defender a sacralidade da vida.

A nova carta ao povo brasileiro precisará conter, em resumo, três pontos, que poderiam ser resumidos num juramento:

“Comprometo-me a defender o direito à educação, com respeito à autonomia das famílias; comprometo-me a respeitar e defender a sacralidade da vida, desde a concepção até a morte; comprometo-me a proteger e promover a saúde pública, assumindo o compromisso de trabalhar contra e se necessário vetar qualquer tentativa de liberação do consumo de drogas em território nacional”.

Isso é o que separa o Brasil da independência e do desenvolvimento. Essas são as bandeiras às quais as elites se agarram, hipocritamente, para continuar a promover a espoliação do povo brasileiro. Lula, como grande líder nacional, para além de grande líder partidário, é quem poderá resgatar a unidade do povo brasileiro, garantindo à população que o PT respeitará a autonomia das famílias em matéria de educação moral, sexualidade e casamento. O Brasil clama pelo PT e necessita do PT. É preciso que o PT faça a sua parte e saiba exercer com grandeza e clareza o seu papel histórico.

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