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Pedro Maciel

Advogado, sócio da Maciel Neto Advocacia, autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito”, Ed. Komedi, 2007

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"Vamos fuzilar a petralhada"

O país é vítima de guerra cultural - regada a ódio e temperada com a doutrina da segurança nacional -, promovida pelo bolsonarismo

Jair Bolsonaro (Foto: REUTERS/Paulo Whitaker)
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Acordei cansado. Cansei de ouvir bobagens como “o Brasil está polarizado”, como a dita por uma famosa atriz que criticou “delírios comunistas da extrema esquerda” e a “arrogância da extrema direita”, e cansei das críticas ao STF e seus ministros “que não deixam o presidente governar”.

O país é vítima de guerra cultural - regada a ódio e temperada com a doutrina da segurança nacional -, promovida pelo bolsonarismo. 

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Estou errado? Basta que lembremos que na campanha eleitoral, o então candidato Jair Bolsonaro usou um tripé de câmara imitando um fuzilamento enquanto gritava histérico: “vamos fuzilar a petralhada”, ou quando, já presidente, afirmou que iria “acabar com o cocô no Brasil”, que, segundo ele, são pessoas corruptas ou comunistas. 

Aos senhores dessa guerra faltam todas as virtudes: amizade, justiça, generosidade, temperança, tolerância, respeito e, principalmente, amor. 

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Pode parecer piegas, não me importo que pensem ou digam isso, mas acredito em Deus, na Santíssima Trindade e no poder criador e criativo do amor, pois, como disse o Papa Francisco, “O amor de Deus é infinito e não tem limites”, ele nos lembra ainda o mandamento fundamental: “o amor de Deus e o amor ao próximo”.

Francisco fala do verdadeiro amor, aquele que transcende, purifica, cura, perdoa, constrói, sorri, acolhe, ouve, compreende e respeita, afinal “Deus é amor”, e nos lembra da Primeira Carta de São João: “amemo-nos uns aos outros; porque o amor é de Deus; ...”.

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Portanto, se “Deus é amor” aquele que usa o ódio como instrumento, não é de Deus; o bolsonarismo não é de Deus, pois, na sua paranoica “guerra cultural”, o método é o ódio, verdadeira homilia do ódio.

As “Guerras culturais” são disputas narrativas sobre a definição dos valores que orientam família, arte, educação, lei e política. 

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No Brasil do bolsonarismo a administração está entregue ao centrão e a militares potencialmente corruptos, o Estado deixou de formular e executar políticas públicas para o desenvolvimento humano e econômico, e foi aparelhado para realizar essa guerra, impondo posição revisionista, que nega os crimes da ditadura militar, além de buscar atualização da mofada e indesejada Doutrina de Segurança Nacional, cujo objetivo é a eliminação do inimigo interno, isso é gravíssimo.

Essa “guerra cultural” revela um projeto autoritário, e se não a compreendermos, a democracia estará comprometida, o país e nossas vidas estarão sob o jugo da intolerância e do arbítrio. 

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Todos que acreditam que “Deus é amor” devem se opor à homilia do ódio, assim como todos que se opõe à violência, à destruição das instituições, e à Doutrina de Segurança Nacional. 

A “retórica do ódio” é método, cujo objetivo é eliminar simbolicamente todo adversário, através da “desqualificação nulificadora” do outro, e da “hipérbole descaracterizadora” dos próprios atributos. 

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Segundo João Cezar de Castro Rocha, Professor Titular UERJ, e autor de “Guerra Cultural Bolsonarista – A Retórica do Ódio, através da “desqualificação nulificadora” o “inimigo” é tornado invisível pelo uso de palavrões, e “após presentear alguém com um colar de palavrões, por que levar essa pessoa a sério?”. Quem se opõe à seita é ridicularizado, rotulado de “petralha”, comunista, vagabundo, corrupto, “calça apertada”, “nove dedos”, é ofendido e exposto de várias formas, além de vítima das referências sexuais monomaníacas.

A “Hipérbole descaracterizadora” da retórica do ódio impede análise crítica das palavras do líder, estimulando sua adoração de nítido caráter paranoico, e a adesão cega às narrativas delirantes de teorias conspiratórias, à negação de dados objetivos e da própria realidade. 

As milícias digitais bolsonaristas, levam a retórica do ódio a um patamar nunca visto na história, pois destroem reputações sem qualquer constrangimento, criam e difundem mentiras. É assustador como essa horda de paranoicos e criminosos se excita com isso. 

Em síntese, “o bolsonarismo é o primeiro movimento de massas da política brasileira cujo eixo é uma incitação permanente ao ódio como forma de ação”, segundo o Professor Castro Rocha. 

O resultado da guerra cultural e da retórica do ódio será o colapso da gestão pública e o esgarçamento do tecido social. 

As perspectivas para o país não são boas, vivemos o momento de maior risco à democracia desde o golpe militar de 1964, e um país sem democracia, torna o povo irrelevante; apenas quem não se vê “como povo” aplaude a ruptura com a democracia.

A retórica do ódio do bolsonarismo gera uma quantidade enorme de notícias falsas, com o provável uso de robôs para manipulação dos bolsonaristas, e negação da realidade; o uso da linguagem está cada vez mais violenta, basta que lembremos do conteúdo das frequentes ameaças que marginais do bolsonarismo fazem às instituições. 

A guerra cultural do bolsonarismo é “irresponsabilidade cívica inédita na história republicana, pois estamos no olho do furacão de uma crise mundial de saúde. Os vídeos que negam a existência de mortes causadas pelo Covid-19 são de uma torpeza sem limites e passarão para a História como um dos momentos mais vis da cultura brasileira”, e tudo pode ficar pior, pois o bolsonarismo adapta os princípios da Doutrina de Segurança Nacional, que preconiza a eliminação física do inimigo interno. Eliminar significa matar; lembremos que para o bolsonarismo “inimigos são todos os que não são caninamente fiéis ao Messias Bolsonaro”, se você não é fiel ao messias, você é inimigo e pode ser eliminado.

Ou as instituições e a sociedade apoiam o STF, que enfrenta corajosamente os crimes que vêm sendo praticados pelo bolsonarismo, ou caminhamos para um regime autoritário e para a normalização da idiotia, da estupidez e do mal.

Chegou a hora de pensarmos no país, além das nossas “tribos”, chegou finalmente a hora de construirmos a nação que ainda não conseguimos formar. 

Como? Através do diálogo, da unidade e do amor, afinal, em meio às desigualdades estruturais da sociedade brasileira, nenhum Brasil existe. 

Essas são as reflexões de hoje.

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