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Jeferson Miola

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Versão dos militares sobre o golpe é construída com método da Lava Jato

Alvos da PF nas investigações da trama golpista tentam se apoiar na mídia tradicional para se salvar, analisa o colunista Jeferson Miola

Bolsonaro e militares dos Estados Unidos (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino | Shutterstock)
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A construção da versão diversionista dos militares sobre o golpe repete o método Lava Jato de vazamentos seletivos a partir de recortes de partes de investigações sigilosas que são “plantadas” na mídia com o objetivo de produzir uma narrativa interessada dos acontecimentos.

Alguns jornalistas e colunistas de veículos de comunicação são selecionados para receberem informações de fontes em off com o objetivo de agendarem a notícia no debate público a partir do viés dos interessados e com o enquadramento do assunto dentro da moldura pretendida.

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Depois do depoimento do general Freire Gomes à PF, vigorou uma ordem unida nas editorias dos grandes meios de comunicação com a versão diversionista dos militares sobre os acontecimentos. Nem mesmo portais contra-hegemônicos ficaram imunes.

Os veículos da mídia hegemônica propagam a versão salvacionista e heróica de que o ex-comandante do Exército não prevaricou, porque teria “se omitido ativamente”, com o objetivo de impedir que Bolsonaro perpetrasse o golpe.

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A favor desta versão romantizada não há, contudo, uma única imagem, vídeo, áudio; um único comunicado reservado ou um único documento entregue a alguma autoridade na época para que o general Freire Gomes pudesse comprovar que de fato ele agiu como diz ter agido.

Há, no entanto, fortes evidências que enfraquecem a versão propagada pela imprensa. A começar pela notável coesão das cúpulas das Forças Armadas em torno do empreendimento golpista e a conduta solidária do general Freire Gomes com seus pares.

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Isso ficou evidenciado, por exemplo, no comunicado ameaçador de 11 de novembro de 2022, no qual os comandantes do Exército, da Marinha e Aeronáutica endossaram o questionamento de bolsonaristas ao resultado eleitoral e não aceitaram cumprir a ordem judicial para desativar os acampamentos que começavam se formar nas áreas dos quartéis como sintoma da reação inconformada da família militar com o resultado eleitoral.

Freire Gomes também participou do ato coletivo de insubordinação dos comandantes das três Forças, que decidiram renunciar antes da assunção do governo Lula para não serem obrigados a bater continência ao eleito pela soberania popular como comandante supremo das Forças Armadas.

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Pesa ainda contra a versão heróico-salvacionista do general Freire Gomes a decisão dele de impedir, no dia 29 de dezembro de 2022, a apenas dois dias do final do governo anterior, a desmontagem do acampamento no QG do Exército.

O general alegou que impediu a desmontagem do acampamento no antepenúltimo dia de governo porque temia a reação do Bolsonaro. Ora, é uma alegação duvidosa, para não dizer cínica, pois Bolsonaro abandonaria o país rumo aos Estados Unidos em algumas horas.

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Mas, se faltam evidências e provas para colocar em pé a versão do Freire Gomes, incrivelmente sobram convicções dos ministros do STF a respeito desta tese heróico-salvacionista.

Também em off, e também para um veículo hegemônico de comunicação, um ministro da Suprema Corte declarou [5/3] que o depoimento do general Freire Gomes à PF “é melhor e mais valioso do que uma delação”. Na visão deste ministro pauteiro da mídia, o depoimento de Freire Gomes “consolidou o quadro probatório”.

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Como assim, tamanha convicção se o inquérito é sigiloso, assim como a delação do Mauro Cid? Além disso, o depoimento do general é recente, de 1º/3, e decerto sequer tenha sido transcrito na íntegra.

Apesar disso, entretanto, um ministro do STF sente-se à vontade para emitir um juízo peremptório acerca do conteúdo de um processo cujo conteúdo ele desconhece, e em relação ao qual ele ainda terá de se posicionar durante o julgamento no Supremo.

Como se observa, a construção da versão diversionista dos militares sobre o golpe está sendo feita segundo as técnicas do método Lava Jato, que consiste em seguir o itinerário jurídico que leva ao objetivo previamente traçado.

Neste caso concreto, o objetivo é a construção de uma narrativa para blindar a instituição militar e criar um cordão sanitário em torno das cúpulas das Forças Armadas e de determinados militares.

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