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Hélio Rocha

Repórter de meio ambiente e direitos sociais, colaborador do 247

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Por que agredir um país amigo?

Resta ao jornalismo, além de acompanhar o caso, discutir as causas que levam a este tipo de atitude e demonstrar o quão vazias são quaisquer razões para temer ou rejeitar a presença da China na cultura, na economia ou nas relações diplomáticas do Brasil

(Foto: Reprodução)
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Publicado na China Radio International

No último dia 16 de setembro, um homem se aproximou do consulado da China no Rio de Janeiro e fez um ataque a bomba, tendo suas imagens registradas pelas câmeras de segurança. O artefato era pequeno e os danos não foram graves, mas sintomáticos de um momento difícil vivido pelo Brasil, em que a divisão política, alimentada pelo mau entendimento sobre orientações ideológicas e relações econômicas e diplomáticas, conduz as pessoas a decisões erradas. Repudiando o fato, esta reflexão busca explicá-lo e entender por que o estranhamento à China não é saudável ao Brasil e não condiz com o comportamento e os planos internacionais do Governo e do povo chinês.

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Eram quase 22h de quinta-feira quando o homem ainda não identificado, vestindo roupas pretas, aproximou-se da sede do consulado e atirou o explosivo, sem ferir pessoas e causando pequenos danos materiais, mas ofendendo um dos principais parceiros econômicos e diplomáticos do Brasil. Segundo a 10ª Delegacia de Polícia Civil do Rio de Janeiro, no bairro de Botafogo, que ficou responsável pelo caso, já foram realizados exames periciais pelo Instituto de Criminalística e pelo Esquadrão Antibomba, além da audição de testemunhas.[1]

“A ocorrência está a cargo da 10ª DP (Botafogo). Exames periciais foram realizados pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) e pelo Esquadrão Antibomba. Agentes requisitaram e analisam imagens de câmeras de monitoramento que registraram a ação para identificar o autor. Testemunhas estão sendo ouvidas. As investigações estão em andamento”, informou, em nota, a Polícia Civil.[2]

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O Consulado da China publicou uma nota pedindo investigação minuciosa e punição do culpado[3]. “A parte chinesa espera e tem a convicção de que o governo brasileiro tomará medidas concretas para proteger as missões diplomáticas e consulares e seu pessoal no país, como prevê a Convenção de Viena, garantindo a segurança e a integridade das instalações e de seu pessoal”, afirmou o órgão. A Embaixada publicou na rede social Twitter, agradecendo a solidariedade dos demais embaixadoras e embaixadores e reforçando que as missões diplomáticas devem ser respeitadas[4].

Resta ao jornalismo, além de acompanhar o caso, discutir as causas que levam a este tipo de atitude e demonstrar o quão vazias são quaisquer razões para temer ou rejeitar a presença da China na cultura, na economia ou nas relações diplomáticas do Brasil. Desta forma, cabe começar pelo entendimento de onde começa essa relação negativa.

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Pessoas que dizem não gostar da China, certamente, têm ótima relação com sua cultura, com seu pensamento, mesmo com suas doutrinas políticas e econômicas. Afinal, diversos elementos da cultura chinesa são reverenciados no Brasil, como as artes marciais, os pandas, as muralhas, entre outros. O país é famoso por grandes poetas e filósofos. E, mesmo que haja desinformação a respeito do que seja comunismo, todos sabem que a China é um país rico, onde as pessoas têm qualidade de vida, o que prevalece em relação a qualquer discurso ideológico.

A questão é: a ascensão da China pode causar desconforto a alguns oligopólios ocidentais. Em 2011, o ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger, em seu livro Sobre a China, alertou para que, ao longo do século XXI, o Ocidente pudesse reagir ao surgimento de uma nova potência econômica da mesma forma como a Europa reagiu à Alemanha no final do século XIX. Isto é, com o incentivo ao nacionalismo vazio que chega ao cidadão médio, sem tempo de estudar a política internacional, que apenas apreende o que lhe chega pelos disparos de chat (no passado, jornais ultranacionalistas), recheados de preconceitos e falseamentos.

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Vale reforçar que nada disso é verdade. E dois exemplos são salutares para demonstrar o quanto a China, como oferta a mais de negócios de grande monta para o Brasil, pode ser motor para o desenvolvimento nacional, dentro de uma das principais balizas do capitalismo: a concorrência. Ao não estar preso à possibilidade única de negociar com o bloco das potências ocidentais, lideradas pelos Estados Unidos, o Brasil pode crescer com mais qualidade.

O ano de 2020, mesmo com a pandemia, registrou recorde no setor comercial, com uma corrente de 101 bilhões de dólares em investimentos. O setor de eletricidade atraiu 97% dos investimentos chineses, sendo distribuídos em diversos tipos de obras e serviços, como a construção de usinas térmicas no Rio de Janeiro e eólicas na Bahia, além de outros lugares. [5] Outro exemplo é o da indústria automobilística, em que a empresa brasileira CAOA se uniu à chinesa SAIC, controladora da marca Cherry, para formarem uma joint-venture que criou a primeira montadora de carros nacional, a CAOA-Cherry.[6]

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Portanto, o intercâmbio Brasil-China é fundamental para o crescimento desses países. Na abertura da cúpula do BRICS em Xiamen, em 2017, o presidente Xi Jinping deixou duas palavras importantes. A primeira, sobre a soberania dos países: “Nossos laços cada vez mais estreitos exigem que desempenhemos um papel mais ativo na governança global. Sem a participação dos nossos países, muitos desafios globais prementes não podem ser efetivamente resolvidos”. E, sobre a importância de cada pessoa: “A amizade entre as pessoas é a chave para as boas relações entre os países. Somente com cuidados intensivos, a árvore da amizade e da cooperação poderá crescer exuberante.”[7]

Recorrendo à metáfora de Xi, a árvore da amizade começa naqueles que têm a missão de liderar. Para que os galhos não caiam, é preciso que os líderes cultivem a tolerância e não repitam os erros do passado, como aqueles apontados por Kissinger.

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[1] Poder 360: https://www.poder360.com.br/brasil/homem-joga-bomba-no-consulado-da-china-no-rio-de-janeiro/

[2] Agência Brasil: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2021-09/polic

[3] Consulado da China no Rio de Janeiro: http://riodejaneiro.chineseconsulate.org/pot/zlghd/t1908044.htm

[4] Embaixada da China no Brasil: twitter.com/EmbaixadaChina

[5] Conselho Empresarial Brasil-China: https://www.cebc.org.br/2021/08/05/investimentos-chineses-no-brasil-historico-tendencias-e-desafios-globais-2007-2020/

[6] Xinhua: http://portuguese.xinhuanet.com/2018-03/29/c_137074326.htm

[7] A Governança da China. Volume II. Página 604.

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