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Carlos Alberto Mattos

Crítico, curador e pesquisador de cinema. Publica também no blog carmattos

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Vladimir e Giocondo

O mestre documentarista Vladimir Carvalho é personagem em "Quando a Coisa Vira Outra" e diretor em "Giocondo Dias – Ilustre Clandestino".

(Foto: Divulgação)
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Um conto de dois irmãos

Enfim um filme sobre Vladimir Carvalho que dá realce à relação de vida e cinema entre ele e o irmão Walter Carvalho. Marcio de Andrade e sua equipe usaram essa fraternidade como base narrativa para construir uma síntese da obra de Vladimir, mas citando também alguns trabalhos de Walter. De certa maneira, é um filme de Walter para "Vlad", uma manifestação de reconhecimento pelo irmão-pai que o introduziu nas imagens em movimento. São falas de Walter, por sinal, que dão o título do filme, Quando a Coisa Vira Outra, o subtítulo "Um encontro entre imagens dos irmãos" e uma definição lapidar do trabalho de Vladimir: "um cinema da desigualdade". Leia-se contra a desigualdade social.
Ambos comentam filme por filme, das primeiras tarefas no clássico Aruanda, de Linduarte Noronha, ao penúltimo longa vladimiriano, Cícero Dias, o Compadre de Picasso. Os irmãos se complementam mutuamente em comentários separados – e é curioso que não se encontrem diante da câmera. São duas formas de inteligência diferentes, mas que têm em comum a expressão eloquente e o calor com que aquecem as palavras.

Walter relembra seu aprendizado no documentário fazendo a fotografia de filmes de Vladimir, enquanto este recorda os cuidados com o irmão 13 anos mais novo. Enquanto Vlad permanecia sempre fiel ao documentário, embora experimentando uma poética e toques de ficcionalização em meio ao real, Walter vem alternando os dois registros como marca de sua carreira. Apesar dos rumos muito distintos que cada um tomou no universo da produção, é justo dizer que o humanismo essencial do mais velho não deixou de plantar raízes na consciência do mais novo.

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Esse documentário traz exemplos vívidos da atuação do documentarista em entrevistas e em dispositivos diversos, além de dar o devido destaque à sua Fundação Cinememória, que guarda relíquias do cinema brasiliense à falta de uma cinemateca local. Eu, que já fiz um livro com Vladimir sobre sua obra, sei que não é fácil organizar uma súmula do seu trabalho entre o Nordeste e Brasília, a política e a arte, a inquirição e a experimentação. 

Essa dificuldade transparece em Quando a Coisa Vira Outra na forma de um roteiro um tanto errático. As referências a Rock Brasília, por exemplo, aparecem completamente deslocadas em seguida à rememoração das funções de Vladimir em Cabra Marcado para Morrer. Se a abordagem não era cronológica, como sugere o início, tampouco percebi, em boa parte do filme, quais eram os critérios que levavam de uma coisa à outra. Fica também evidente que Cabra Marcado para Morrer tinha cópias bem melhores que as utilizadas, assim como A Bolandeira e A Pedra da Riqueza deveriam ter sua proporção de quadro corrigida na edição.

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>> Quando a Coisa Vira Outra está nas plataformas Claro Net, Sky, Vivo TV e Oi TV

O trailer:

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Aproveito para comentar o longa mais recente de Vladimir Carvalho, que está na plataforma Now.

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Tributo ao grande articulador

O veterano Vladimir Carvalho rende nesse seu novo documentário um tributo a alguns ícones do Partido Comunista Brasileiro, ao qual ele próprio foi filiado e do qual continua admirador. A seu pai, a quem dedica o filme, que também se juntou às fileiras do Partidão nos anos 1930 e 1940. A outros integrantes e ex- históricos do PCB, que participam do filme, como Ivan Pinheiro, Régis Frati, Roberto Freire e Aloysio Nunes (este, quem diria, já foi motorista e guarda-costas de Marighella). E acima de tudo, é claro, a Giocondo Dias, considerado o grande articulador da legalização do partido e um de seus mais habilidosos dirigentes. 

Vladimir pretendia que seu filme fosse objeto de discussão junto com o Marighella de Wagner Moura, uma vez que o PCB se opunha visceralmente à opção pela luta armada. Não foi o caso. O modesto documentário não tem a força da obra pregressa do mestre.

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A pouca exposição social do personagem deve explicar a rarefação de materiais visuais sobre ele. Assim, a longa vida de Giocondo na clandestinidade depois de participar como militar da Aliança Libertadora Nacional, a escapada para Moscou via Argentina, sua atuação que suscitava ciúmes de Prestes e suas atitudes memoráveis no interior do partido são narradas em depoimentos extensos, às vezes detalhados demais. Daí a impressão de estarmos diante de uma coleta de história oral sobre a trajetória de Giocondo. 

A dificuldade em contextualizar o papel do personagem no roteiro e na montagem acaba encerrando o filme numa redoma de autorreferência. Mais que tudo, ressalta uma defesa da postura do PCB de aguardar por um "movimento de massas" que, mais dia, menos dia, haveria de derrotar a ditadura. Também aqui, não foi o caso. 

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O trailer:

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