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Roberto Ponciano

Escritor, mestre em Filosofia e Letras, especialista em Economia. Doutorando em Literatura Comparada

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Y Pablito se fue, cantando, bailando y luchando

Cantor e compositor cubano Pablo Milanés (Foto: Claudia Daut / Reuters)
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 Ontem a América Latina, na verdade, o mundo, ficou mais triste e pobre. Morreu Pablo Milanés, um dos maiores compositores e cantores dos séculos XX e XXI. Talvez quisessem que eu começasse o texto com algo piegas como “agora está cantando no céu com Gal”, ainda mais num Brasil que cada vez mais fica cafona e deísta. É bom lembrar que o céu é só o infinito que nos circunda e que o paraíso é nossa missão construí-lo aqui na terra, antes que o Brasil vire definitivamente um tosco evangeliquistão, com curandeiros pilantrópicos de quinta disfarçados de pastores. Prefiro gritar, Pablo, presente! Recordar do dueto fantástico que ele fez com Gal em vida, em “Amame como soy”, num disco que celebrava seus 50 anos de carreira e no qual foi homenageado por deuses da música de toda a América.

 Estranhou-me e me causou certo fastidio um certo silêncio e indiferença de parte da esquerda à morte de Pablo, talvez causados pelas diferenças que ele tinha com os caminhos da Revolução Cubana. Veja, não preciso concordar com as críticas de Pablo para não considerar que ele não tenha propriedade de as fazer. Milanés foi preso e, entre um campo de concentração e uma prisão para dissidentes se passaram 2 anos perdidos de sua vida. Reabilitado, nunca se lhe pediram perdão pelo “contratempo”. Não sou daqueles que amaldiçoa as revoluções pelos seus descaminhos. O socialismo não é uma avenida ampla e reta, como a rua Direita no Rio de Janeiro, é uma subida íngreme e tortuosa numa via escarpada. O fato é que Pablito foi reabilitado e morreu sem que nunca tivessem, ao menos, pedido desculpas. Entre as causas da tal prisão, uma das suspeitas, é o boato sobre uma suposta bissexualidade do cantor, tema que sempre foi tratado como delicado e que ficou na controvérsia. O cantor nunca assumiu que fora bissexual ou homossexual, mas também nunca refutou que a prisão possa ter ocorrido por uma simples denúncia ou boato sobre sua sexualidade.

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 Cuba tem tentado reparar esta mácula histórica, o filme Morango e Chocolate (Fresa e Chocolate) retrata este momento da Revolução, assumido publicamente hoje pelo Partido como um equívoco de condução. Quem não assistiu, o deveria fazer. É um belíssimo filme, no qual um jovem (David) dos CDRs se enamora de uma mulher mais velha (no filme fica a indicação de que ele pode ser prostituta e receber bens do mercado negro) e conhece a Diego, a quem investiga. Diego é um artista, gay e visto como dissidente. David começa uma inusitada amizade com ele e entende que Diego está longe de ser um contrarrevolucionário, só necessita de que o regime aceite sua forma de aceitar a sexualidade e sua arte.

 Cuba é uma ilha cercada de imperialismo por todos os lados, hoje milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo, nenhuma delas é cubana. Assim, toda e qualquer crítica ao regime, por vezes, é vista como traição e deserção. E isto pode levar inclusive a que não entendamos as contradições de qualquer processo político revolucionário.

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 Pablo Milanés foi um defensor de primeira hora da Revolução, suas músicas ajudaram a defender e expandir o socialismo cubano, junto da liderança de Fidel e da imagem carismática de Che. Foi um camarada que sempre defendeu a luta anti-imperialista e os movimentos de esquerda no continente e sempre esteve do lado certo da história. Ter críticas ao regime cubano, sem nunca ter defendido a contrarrevolução, não o tornam um traidor.

 É necessário cantar sua música e celebrar sua memória. Do homem que chorou os mortos no golpe militar contra Allende: “Eu pisarei as ruas novamente, do que foi Santiago ensaguentada, e numa formosa praça Liberal, me porei a chorar pelos ausentes”, música dedica a Miguel Henriques, militante comunista do MIR-Chileno, morto em combate nas ruas de Santiago. Ou lembrar de como ele profetizou que derrotaríamos todas as ditaduras da América Latina: “O nascimento de um mundo se atrasou por um momento, por um breve lapso do tempo, do universo um segundo. Entretanto parecia que tudo ia acabar, como a distância mortal que separou nossas vidas”. Um camarada que, se não militou de fuzil na mão, fez de seu violão um fuzil. 

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 E foi além disto, não se conformou em apenas ser o cantor da Revolução, Ámame como soy, Para vivir, Yolanda, La Magdalena, todas as faces, enganos, desenganos do amor e da vida, num cantor polifacético, iluminado, humano e que nunca teve ilusão de estrela aos holofotes, seguiu sendo um militante político declarado até o fim, nunca renegou a Revolução Cubana.

 É honra dos que ficam celebrar sua memória, de outra forma é absurdo!

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