Yes, nós temos bananas!

“Babanas pra dar e vender – er – er!”  

Os recentes acontecimentos em torno do bilionário Elon Musk e sua arrogância contra a justiça e o governo brasileiros parecem inspirar os piores delírios de Oswald de Andrade no seu clássico O rei da vela. Além das indignações naturais por parte de quem preza e defende o país, a direita parlamentar se entendeu no dever de exibir, entre os seus quadros, provavelmente o que possui de pior. O senador Eduardo Girão se destacou dos demais, ultrapassando as barreiras do bom senso e se dirigindo ao sul-africano, em plenário, com exercícios de iniciantes palmilhando os primeiros passos de um inglês macarrônico. Quis exibir saber – e soltou as rédeas da tolice, tornando-se objeto de ridicularia do norte ao sul onde contou com expectadores...

 Ele já exerce cotidianamente um misto de religiosidade direitista vazia, para ninguém botar defeito. Agora, sem freios, envergonhou o mais descrente dos seus eleitores. Os lances do espetáculo tenebroso, no entanto, não se interromperam aí. Em debate, achava-se também a licença ao Supremo Tribunal para manter em prisão preventiva um dos envolvidos na morte de Marielle Franco. O tal do Chiquinho Brazão, à maneira do irmão, segundo testemunhas, aprontava há muito nos bastidores das milícias, responsáveis por vítimas de assassinato. Tratava-se de um modo de fazer política para afastar embaraços e adversários no caminho para o sucesso e o mandato parlamentar. Não se supunha que, com uma trajetória semelhante à dele, contasse com adeptos em larga escala na Câmara dos Deputados. 

Na hora do vamos ver, os partidários da prisão ganharam em número e competência. Mas os que votaram não registraram com letras garrafais as simpatias que guardavam com o velho e desqualificado político. No PT, um apareceu, abstendo-se, com luz em neon: Washington Quaquá. O vice-presidente nacional da agremiação partidária alinhada com o governo e com o rigor da lei! Não encontrou forças psíquicas para enfrentar a oposição ao Brasão e se recolheu numa licença estratégica.  

Que Girão se faça acompanhar de Nicolas Ferreira, Gustavo Gayer e Bia Kicis, não espanta. Mas que o Quaquá se alinhe junto à excrecência da direita, isso se revela difícil de engolir. 

O Executivo brasileiro toma providências legais para impedir que o tristemente famoso bilionário prejudique o andamento das nossas medidas judiciais ou administrativas. Não somos um mercado inexpressivo para que nos busquem subserviência, aquelas tão almejadas pelo burlesco senador e seus acompanhantes. Ficou para trás o tempo em que nossos ministros do exterior tiravam os sapatos ao pisar em solo norte-americano ou, no caso de Bolsonaro, se empertigasse em postura de continência para uma bandeira que não era nossa. 

 Como herança, tomamos ainda as drágeas de um servilismo tupiniquim, graças a Deus no momento minoritário, enquanto nos esforçamos para crescer e nos conservar dignos, na cultura, na economia, na política. Para se fazer presente no mundo, uma nação deve, acima de tudo, se respeitar, cuidar de sua população e criar fatos que lhe garantam a respeitabilidade. De servilismo vira-lata, já conhecemos e não apreciamos o gosto amargo da taça!

* Ronaldo Lima Lins é escritor e Professor Emérito da FAculade de Letras da UFRJ.