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Marcelo Zero

É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado

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Zelensky foi buscar armas, mas Biden falou de paz

'Sem assegurar objetivos estratégicos, a Rússia não vai se retirar da Ucrânia, mas o caminho é investir em paz; não em guerra', escreve o colunista Marcelo Zero

Presidentes da Ucrânia, Vladimir Zelensky (à esq.), e dos EUA, Joe Biden, na Casa Branca, em Washington (EUA) (Foto: REUTERS/Kevin Lamarque)
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Além de receber Zelensky na Casa Branca e no Congresso norte-americano, num show midiático destinado a demonstrar integral apoio, os EUA vão presenteá-lo com mais US 45 bilhões em ajuda para continuar a guerra.

Desse total, US$ 20 bilhões irão para a compra de armamentos e US$ 6,2 bilhões serão destinados para aumentar a presença de forças militares norte-americanas no Leste Europeu. 

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Além disso, Biden anunciará uma ajuda imediata de US$ 1,8 bilhão para dotar a Ucrânia de mísseis Patriot, o mais avançado sistema de defesa antiaérea de base terrestre.

Com esse novo pacotão bilionário, os EUA já somam mais US$ 100 bilhões em ajuda à Ucrânia, desde o início da guerra. Dinheirão que, em grande parte, vai para alimentar militarmente a fogueira insensata do conflito. Um conflito que poderia ter sido resolvido em maio deste ano, não fosse a oposição do EUA aos termos do pré-acordo de paz.

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Embora cerca de dois terços dos estadunidenses apoiem essa ajuda, ao redor da metade considera que os EUA deveriam pressionar Zelensky para negociar a paz no prazo mais breve possível. 

Esse número dos que desejam a paz cresce nos EUA e no mundo. A guerra vem perdendo popularidade. 

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Pudera.

Além de prejudicar toda a economia mundial, de provocar o aumento da fome e de acentuar a crise energética, a guerra, com as sanções draconianas a ela associadas, não terá solução militar convencional. Assim, muitos, especialmente na Europa, mas também nos EUA, se perguntam se vale a pena continuar a apoiar um inútil e nababesco esforço de guerra, em detrimento dos interesses de vastas parcelas da população mundial e ante o concreto perigo de sua nuclearização.

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Observe-se, a esse respeito, que a ideia de que a Ucrânia estaria ganhando a guerra, apregoada pela mídia ocidental, é equivocada. A Ucrânia não tem a menor condição de ganhar essa guerra, embora o recente recuo tático da Rússia possar ter dado essa falsa impressão. Nem Biden acredita realmente nisso, apesar da retorica inflamada em contrário.

A Rússia, até agora, não utilizou nem 20% de seus recursos militares no conflito. Tem à disposição uma reserva de 1,2 milhão de homens, ao passo que a Ucrânia tem somente 200 mil soldados mobilizados. Além disso, a Rússia não usou, até agora, suas armas convencionais de ponta, como os mísseis supersónicos e os bombardeiros estratégicos. 

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Apenas os EUA e a OTAN teriam condições de enfrentar militarmente a Rússia, mas isso implicaria o alargamento e a perenização do conflito, e até mesmo o sério risco de uma guerra nuclear. Nem a Europa nem os EUA querem uma guerra com a Rússia.

De forma irresponsável, a Ucrânia de Zelensky vem flertando com a hipótese do alargamento. A possível utilização de uma “bomba suja” radioativa, fácil de construir, poderia dar ensejo a uma escalada extremamente perigosa. A tentativa recente de atingir bases militares russas, nas quais há aviões bombardeiros estratégicos com armas nucleares também se insere nessa estratégia de intentar alargar e intensificar o conflito. 

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Por isso, Zelensky pressiona por armas ofensivas, notadamente misseis de longo alcance, o que os EUA, como acentuou Biden na entrevista, jamais fornecerão.

Para complicar, a prevista ofensiva de inverno da Rússia deverá consolidar as posições russas no sul e leste da Ucrânia e tornar inoperante a infraestrutura desse país. Mesmo hoje, os bombardeios russos na Ucrânia já comprometeram o suprimento de energia em Kiev. Neste inverno, a capital deverá ter, no máximo, 5 horas de energia por dia. 

Nesse contexto, a ofensiva, se exitosa, poderia propiciar à Rússia bases mais consistentes para negociar uma paz favorável, o que Biden quer evitar. Quer, obviamente, que uma eventual negociação de paz seja feita com base nas posições militares atuais ou ainda melhores para a Ucrânia. O novo fornecimento de armas defensivas para a Ucrânia é basicamente para isso; não para “ganhar” a guerra. Mas, de qualquer forma, Biden admite, agora, desejar a paz. 

Com efeito, embora os EUA ainda mantenham, em linhas gerais, sua estratégia ofensiva de encurralar a Rússia e de provocar, em última instância, uma mudança de regime em Moscou, o elevado custo da guerra, sua crescente impopularidade e o perigo de seu transbordamento geográfico e geopolítico estão estimulando Washington a admitir buscar “uma paz justa” para a Ucrânia, como disse Biden, de modo muito significativo, no encontro na Casa Branca e na conferência de imprensa, horas depois. 

Zelensky, visivelmente a contragosto, concordou.

Dessa maneira, Zelensky, que foi buscar armas nos EUA, e que não falou muito em paz, poderá voltar ao seu país instado a admitir abrir canais de negociação com Moscou no momento oportuno, algo que a aliança da OTAN deseja ver concretizado. Resta ver, porém, o que seria uma “paz justa”, nesse quadro. 

Certamente, como disse Biden na entrevista, a Rússia não vai simplesmente se retirar da Ucrânia, sem assegurar objetivos estratégicos básicos. A distância entre as posições de Moscou e Kiev é, por óbvio, muito grande. Quaisquer negociações serão árduas e complicadas.

Mas esse é único caminho razoável para todos os envolvidos e para o mundo. Investir em paz; não em guerra.

Afinal, como disse Benjamin Franklin, nunca houve uma boa guerra nem uma paz ruim. 

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