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O "uber" cancelou a corrida? É a 1ª greve global da Era dos Apps, explica Mathias Alencastro

Cientista político do Cebrap: alta da gasolina e festas de fim de ano não motivam a falta de motoristas. Há uma queda de braço entre empresa e os trabalhadores

Reprodução | Reuters
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Para Mathias Alencastro, o caráter global da crise dos motoristas de aplicativos de transporte, genericamente chamados de “ubers” em razão da empresa pioneira na área ser a Uber, deixa claro que a crise tem explicações e razões mais profundas que a alta dos preços dos combustíveis e a alta sazonal de demanda ocorrida no fim do ano. Segundo ele, “alegando que o trabalho é financeiramente inviável, os motoristas estão aceitando um quinto das viagens que lhes são oferecidas em países como o Reino Unido”. 

Em artigo publicado no jornal Folha de S Paulo, diz ainda Alencastro: “viagens triviais a partir dos aeroportos de Los Angeles, Mumbai e Paris podem custar o preço de uma passagem aérea. O mesmo drama se repete nas principais cidades brasileiras, seja em São Paulo, Rio, Brasília, Belo Horizonte, Recife, Salvador ou Fortaleza, além de tantas outras: solicitar carros por aplicativos de viagens virou uma loteria – não se sabe se o motorista aceitará, ou não, as corridas; e, se aceitar, é incerto que o preço negociado pelo aplicativo seja mantido. O sistema de regulação pública dos serviços de aplicativos inexiste nas cidades brasileiras e jamais houve dedicação política para que ele fosse criado.

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“O CEO da Uber, Dara Khosrowshahi, está sendo obrigado os mantras da corporação, buscando diálogo com autoridades municipais, com quem a empresa sempre optou pela relação de força no passado, e até formando parceria com os táxis amarelos de Nova York, símbolos do “velho mundo” que ela tinha prometido transformar em relíquia de outro tempo”, pontua.

Alencastro classifica a escassez de motoristas de aplicativos, que perturba o funcionamento das cidades em diversos países do mundo, como sendo a primeira greve global da era digital. “Na última década a Uber transformou o mercado de transporte criando uma ilusão de modernidade para o trabalhador informal, elevado pela empresa à categoria inovadora e elegante de empreendedor digital”, escreve o cientista político. “O ambiente político era particularmente favorável a essa revolução cultural. Em 2016, o governo Temer vinculava a Reforma Trabalhista às oportunidades de ‘uberização’ enquanto o premiê indiano Narendra Modi fazia da Uber a principal parceira da Start Up India, um dos programas-bandeira de seu governo”.

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A pandemia expôs a dura realidade da servidão digital: transformados à força em trabalhadores essenciais, os motoristas constam entre as principais vítimas econômicas e sanitárias da pandemia ao redor do mundo. O trauma os teria levado, crê o cientista político, a se aproximarem dos mecanismos tradicionais de contestação política.

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