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"Venda de ativos da Petrobras provoca desemprego e redução de salários", dizem pesquisadores

Para pesquisadores, movimento decrescente no mercado de trabalho baiano vem ocorrendo simultaneamente aos desinvestimentos da Petrobras

(Foto: © Fernando Frazão/Agência Brasil)
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247 - Pesquisadores do Centro de Economia Política do Petróleo (Ceppetro) alertam que o desinvestimento e a venda de ativos da Petrobras provocam desemprego e redução de salários. 

"Embora a pandemia possa ser considerada como um dos fatores de destaque para a diminuição nos postos de trabalho, o movimento decrescente no mercado de trabalho baiano é um fenômeno que vem ocorrendo simultaneamente ao início do programa de desinvestimentos da Petrobras", afirmam Rafael Rodrigues da Costa [1], Pedro Gilberto Cavalcante Filho [2] e Claudiane de Jesus [3]. 

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Confira o artigo na íntegra:

Venda de ativos da Petrobras provoca desemprego e redução de salários

No último dia 19/12, matéria publicada no Jornal O Globo informava que a venda de ativos da Petrobras no Nordeste tem resultado em aumento do número de contratações de profissionais, além da elevação dos salários no setor de óleo e gás. Com base em dados da consultoria de Recursos Humanos Michael Page, a reportagem afirmava que entre novembro de 2020 e 2021 houve uma alta de 440% na contratação de profissionais entre média e alta gerência para o setor. E acrescentava que os salários já estão, em média, 10% mais altos do que os registrados antes dos desinvestimentos da estatal e podem subir mais 20%, descontada a inflação, em 2022.

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As informações otimistas da reportagem destoam, no entanto, das estatísticas oficiais. De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE, a média anual dos trimestres de 2021 aponta que o estoque de trabalhadores no setor de óleo e gás no Brasil reduziu 2,4% (de 159.086 postos de trabalho em 2020 para 155.227 em 2021) em comparação com a média do ano anterior.

Só no Estado da Bahia, citado na matéria como um dos exemplos “virtuosos” do aquecimento do emprego após a saída da Petrobras, a contração é ainda maior: a média anual de 2021 registra uma retração de 28,9% em comparação ao mesmo período do ano anterior. Uma perda média equivalente a 7 mil postos de trabalho (de 25.788 em 2020 para 18.328 em 2021).

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Outro fator divergente é a renda. Embora a reportagem tenha afirmado que esses profissionais tenham tido um aumento médio de 10%, dados da PNAD revelam que os trabalhadores do setor de extração e respectivas atividades de apoio sofreram, na verdade, uma redução média nos seus rendimentos de aproximadamente 9,5%. Na Bahia, a queda nos salários do setor de óleo e gás chegou a 22,9%, saindo de um patamar de renda média próximo a R$ 7.180,00 em 2020 para algo em torno de R$ 5.140,00 em 2021.

Esses resultados demonstram que, ainda que possa ter ocorrido algum aumento eventual nas contratações em postos de gerência, incluindo acréscimos salariais ocasionais para esse segmento, as ocupações gerais no setor petrolífero tiveram, na verdade, uma significativa redução tanto no número de postos de trabalho quanto na renda média geral desses trabalhadores, sobretudo nas regiões onde a Petrobras tem se desfeito dos seus ativos. 

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Embora a pandemia possa ser considerada como um dos fatores de destaque para a diminuição nos postos de trabalho, o movimento decrescente no mercado de trabalho baiano é um fenômeno que vem ocorrendo simultaneamente ao início do programa de desinvestimentos da Petrobras. Ou seja, desde o final de 2015, quando a companhia passou a se desfazer de uma série de ativos na região, a exemplo dos campos terrestres na bacia do Recôncavo e da recente venda da Refinaria Landulpho Alves (RLAM) para o fundo árabe Mubadala, agora renomeada por Refinaria de Mataripe.

Ao comparar o estoque de empregos no setor de óleo e gás na Bahia ao programa de desinvestimentos da Petrobras, é possível observar que no 3º trimestre de 2015 o setor empregava até 37.890 mil pessoas. Hoje, o setor petrolífero ocupa menos de 8.760 postos de trabalho na região, de acordo com os dados do terceiro trimestre da PNAD 2021.

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Os dados em tela, portanto, trazem à tona importantes questões para o debate público brasileiro. Em primeiro lugar, os números revelam que, ao contrário do que querem acreditar alguns analistas de mercado, a saída da Petrobras de alguns segmentos e a consequente entrada das empresas privadas, ainda não surtiram um efeito positivo nem na geração de novos postos de trabalho, nem no aumento da renda. Pelo contrário, a falta de investimentos públicos, plasmados pela ineficácia da iniciativa privada nesse setor, colocam em dúvida até que ponto a desintegração da Petrobras é benéfica para a economia brasileira. 

Por fim, fica uma pergunta: quem ganha com tudo isso, uma vez que os efeitos negativos dessa política têm atingido não só os trabalhadores desse segmento como também a maior parte dos consumidores brasileiros?

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[1] Sociólogo e Mestre em Ciências Sociais pela Unifesp e pesquisador-visitante da UFBA. É coordenador técnico do Centro de Economia Política do Petróleo (Ceppetro) e pesquisador do Ineep.

[2] Economista e Doutorando em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE/UNICAMP) e Pesquisador do Ceppetro.

[3] Economista e Mestranda em Ciências Econômicas pelo Instituto de Economia da Unicamp e pesquisadora do Núcleo de Estudos Conjunturais (NEC- UFBA) e pesquisadora no Ceppetro.

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