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Entrevistas

Krenak denuncia crime e garimpo no coração do território ianomâmi: “eles não têm mais uma casa para onde ir”

Líder indígena lamentou relatos de horror nas terras ianomâmi: "ataques armados, incêndio das habitações, assalto nas trilhas dos indígenas, estupro e violência contra as mulheres"

Aílton Krenak e a tragédia dos ianomâmi (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real | REUTERS/Amanda Perobelli)
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Por Regina Zappa, 247 - O ambientalista, filósofo, poeta, escritor e uma das maiores lideranças indígenas no Brasil, Aílton Krenak, afirmou à TV 247 que a situação na Terra Indígena Ianomâmi é agora muito mais grave porque, além dos ataques e destruição de sempre, o crime e o garimpo chegaram ao coração do território. Com um agravante, diz ele: “não são apenas os garimpeiros, como historicamente acontecia. Agora tem o braço do crime organizado atuando ao lado deles e contaminando a vida política da região. Uma parte do território brasileiro já está sendo tomada por organizações criminosas, que destroem a floresta e ameaçam o povo ianomâmi”.

Em conversa no Távola, da TV 247, Krenak se mostrou indignado e preocupado com a situação: “estamos nos acostumando com a violência generalizada, que muitas vezes parte dos próprios agentes do Estado, como foi no governo passado, com militares e civis, com ministro mandando abrir a porteira. A fronteira norte da Amazônia, a partir do Vale do Javari, encostando na Venezuela e Colômbia já está dominada por criminosos".

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Em junho passado, Krenak esteve nas terras ianomâmi, convidado por Davi Ianomâmi, e se reuniu em assembleia com líderes de diversas aldeias. “Cada um relatava o que estava acontecendo em suas áreas. Era um horror o que relatavam. Ataque armado nas aldeias, incêndio das habitações, ataque nas roças, assalto nas trilhas dos indígenas, estupro, violência contra as mulheres", declarou.

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Para Krenak, é provável que entre 20 e 30% de toda a população ianomâmi, que agora está sob os cuidados das agências do governo brasileiro, esteja doente e possa estar experimentando uma espécie de pandemia, sendo que alguns grupos podem se extinguir: "existe uma variação linguística e quando um grupo específico sofre um dano desses, ele pode desaparecer".

Krenak afirma que, para além da ajuda emergencial que agora se faz urgente, é preciso fazer uso de toda tecnologia existente para “curar” a região: "para que o povo possa se reerguer é preciso usar tecnologia, meios e conhecimento para abordar todas as áreas que estão contaminadas com mercúrio para, por exemplo, demarcar as áreas com veneno nas águas e fazer todas as ações de controle desse contágio. É preciso, depois, evitar que os ianomâmi voltem para esses locais contaminados. Eles não têm como saber para onde escorre o veneno que atinge as águas, as plantas e os animais".

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Segundo ele, “não dá para achar que vão resolver o quadro de saúde deles e devolvê-los para casa. Eles não têm uma casa para ir agora.”

Krenak falou da importância do governo brasileiro recorrer às novas relações com a Europa ou Estados Unidos para ajudar a ir a campo, detectar o material, ver a gravidade desse contágio e a possibilidade de ele se disseminar depois da retirada do garimpo.

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“Vivo perto do Rio Doce, contaminado pelo rompimento da barragem. Vamos ficar mais de 10 anos sem poder usar o rio. Os Krenak daqui da beira do Rio Doce compartilham agora da mesma desgraça dos ianomâmi. Não se pode mergulhar, beber ou pescar nessas águas. É uma situação gravíssima. Como uma desgraça nuclear", lamentou.

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“Do ponto de vista ambiental, estamos em uma desgraça total. O Brasil é agora o hotpoint da tragédia ambiental. Todos, incluindo ONU, deviam ser convocados a botar o que eles sabem na mesa. No sentido global, estamos instalados numa espécie de caos. Todo consumo, o modo de habitar nossas cidades, a produção de energia, de alimento são uma peste".

Krenak acha que é preciso envolver a OMS (Organização Mundial da Saúde) na questão brasileira: “uma economia rendida pelo neoliberalismo mata rios e florestas porque quer ganhar dinheiro, mas sabemos que tem outra maneira até de ganhar dinheiro, sem destruir tudo. Só um burro destrói tudo. É como a história da galinha dos ovos de ouro; destruir a floresta no momento em que ela é um ativo planetário é uma burrice. Não é que os europeus subitamente estejam preocupados com os ianomâmi. Estão preocupados com o pulmão do mundo. Os rios e a floresta amazônica prestam um serviço ambiental.”

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“Na Amazonia, estão em condição de conservação 120 milhões de áreas de floresta que são áreas indígenas, reservas extrativistas, etc... São habitantes que não destroem a floresta ao viver lá dentro", acrescentou.

Krenak também reagiu aos comentários do governador de Roraima, Antonio Denarium (Progressistas): “só um negacionista estúpido como o governador de Roraima pode dizer que os indígenas vivem feito bicho no mato".

O ambientalista rechaçou também a declaração do ex-deputado Aldo Rebelo (PDT) de que os próprios indígenas, ou muitos deles, participariam do garimpo: "o comentário de Aldo Rebelo sobre índios trabalhando em garimpo é irresponsável. Só falta dizer que os indígenas estão convidando garimpeiros para montar garimpos nas suas terras. Aldo Rebelo odeia o povo indígena, ele é um mentiroso, escrevia coluna no jornal contra a Marina Silva".

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