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Entrevistas

Laura Astrolábio: “temos que capacitar as mulheres para o jogo político”

A advogada é uma das criadoras do projeto “A tenda das candidatas”, que defende e promove a inserção de mais mulheres na política

Laura Astrolábio (Foto: Arquivo Pessoal | Mídia NINJA)
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Por Ricardo Nêggo Tom, 247 - Segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e da ONU Mulheres, o Brasil encontra-se em 9º lugar, entre 11 países da América Latina, no que se refere à paridade política entre homens e mulheres. Apesar de possuir 52,5% do eleitorado no país, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas eleições de 2020, as mulheres ainda precisam superar o machismo estrutural para ocupar o seu espaço na política. Pensando no combate a essa sub-representatividade feminina nos parlamentos, a advogada, pesquisadora e escritora Laura Astrolábio idealizou “A tenda das candidatas”, e explicou à TV 247 como surgiu o projeto.

“A história da tenda é uma história de ação e de ética do agir. Nós estávamos em meio a uma pandemia, e foi a primeira eleição após o assassinato de Marielle, quando as mulheres, sobretudo as mulheres negras, estavam se organizando para colocarem os seus corpos em uma campanha eleitoral, após aquele brutal assassinato. Depois de fazer uma pesquisa sobre a sub-representação feminina na política, eu pensei do que adiantava ficar lendo, escrevendo e elaborando tanta coisa se não fosse para colocar a mão na massa”.

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Laura conta que já havia sido colaboradora voluntária de uma candidatura feminina nas eleições de 2018, quando nas eleições de 2020 decidiu oferecer a sua consultoria para mais candidatas. “Em 2020 eu coloquei nas minhas redes sociais que gostaria de ser voluntária em 10 candidaturas de mulheres, sobretudo negras e trans. Fui procurada e comecei a dar esse auxílio a essas mulheres. Chegou um momento em que eu não conseguia mais atender a todas aquelas demandas. Eram mulheres já com um histórico de luta e de liderança em suas comunidades, mas que precisavam aprender a jogar o jogo eleitoral partidário. Porque a campanha eleitoral é um jogo que envolve capital financeiro, político e social. E as mulheres, principalmente as negras e periféricas, conseguem mobilizar pessoas, mas não conseguem movimentar dinheiro porque no Brasil tem classe, tem cor e tem gênero. Foi aí que entrei em contato com a Hannah Marucci, uma companheira de luta que é cientista política e já tinha atuado comigo numa incidência legislativa por mais mulheres na política, e ela topou em me ajudar a tocar esse projeto”.

A pesquisadora explica que foi aberto um processo seletivo para a escolha das candidaturas a serem contempladas com a assessoria voluntária e que o grande número de inscrições evidencia a demanda que existe em torno dessa sub-representação. “Tivemos quase 500 inscrições pelo Brasil todo. Isso é uma prova de que as mulheres estão precisando desse apoio”. Laura explicou ainda como o seu projeto, além de oferecer essa assessoria voluntária, também pretende potencializar as candidaturas de mulheres pretas.

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“Temos que capacitar essas mulheres. Em 2020 nós oferecemos 17 aulas, quando trabalhamos com 10 candidaturas durante a campanha. Nesse período, essas mulheres iam recebendo orientações e auxílios da nossa parte, ao mesmo tempo em que elas assistiam a essas aulas que eram transmitidas ao vivo pelo canal da tenda no YouTube. As mulheres que se inscreveram, mas não foram selecionadas, porque só podíamos comportar dez mulheres por não termos nenhum tipo de aporte financeiro para o projeto, também puderam assistir a essas aulas, fazer perguntas e esclarecer suas dúvidas. A tenda das candidatas ensina mulheres a fazer campanha eleitoral partidária e a jogar o jogo eleitoral, com uma metodologia totalmente diferente da utilizada pelo homem branco cis hétero que predomina na política. Inclusive, utilizando estratégias ancestrais para poder dialogar com pessoas que precisam desse conhecimento”.

A escritora, que é autora do livro “Vencer na vida como ideologia: meritocracia, heroísmo e ações afirmativas”, lembrou da importância dos movimentos feministas para que as mulheres pudessem ter direito a voto. “As mulheres exerceram a sua cidadania e fizeram um movimento coletivo que conseguiu aprovar esse direito com organização política. Porém, é importante lembrar que quando o direito ao voto feminino passou a ser obrigatório, ele era destinado a mulheres servidoras públicas. E qual era a cor das mulheres que em 1934 eram servidoras públicas? Onde estavam trabalhando as mulheres negras em 1934? As respostas a essas perguntas nos permitem entender que esse direito ao voto não chegou de forma consistente para as mulheres negras. E eu ainda quero levantar uma questão que é polêmica. Muita gente fala que o feminismo é branco. Mas não é. Existem vários tipos de feminismo e várias correntes do feminismo. Existe o feminismo negro, que é interseccional, e o feminismo interseccional que vem do feminismo negro. Não existe um feminismo oficial. Feminismo negro é aquele que é antirracista. No entanto, ele luta contra todas as formas de opressão. Capacitismo, gordofobia, racismo, machismo, misoginia, classismo. Tem ainda o feminismo liberal e o feminismo radical, que, entre todas as suas polêmicas, a maior é não reconhecer as mulheres trans como mulheres”.

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