CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
Mundo

'Rússia reagiu contra Ucrânia com atraso de oito anos', diz Miguel Borba

Professor considera que Moscou violou direito internacional, mas em resposta à escalada militar ocidental desde o golpe de 2014

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Opera Mundi - No programa 20 MINUTOS INTERNACIONAL desta quinta-feira (03/03), o jornalista Breno Altman entrevistou Miguel Borba de Sá, professor de Relações Internacionais da Universidade de Coimbra, que analisou o conflito na Ucrânia.

Segundo ele, a guerra era previsível há, pelo menos, oito anos, quando ocorreu o golpe de Estado em 2014 que depôs o então presidente Viktor Yanukovich, “porque não queriam deixar a Ucrânia fazer acordo com os dois lados [Rússia e Europa]”. Nesse sentido, “a guerra começou em 2014, só que agora a Rússia reagiu, com um atraso de oito anos, que deu um giro qualitativo no conflito”.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

“Temos que entender por que a guerra começou. Em 2014, o apoio militar russo me pareceu justo, porque havia ali uma tentativa de limpeza étnica com a presença de forças externas, uma certa privatização da guerra. A situação atual, ainda não posso dizer se se trata de uma guerra justa, porque não parece ter a ver com aquele primeiro motivo. O que está acontecendo agora é uma temeridade, é de uma completa irresponsabilidade, e fruto de políticas agressivas da OTAN e dos EUA que buscam implementar uma supremacia ocidental e tomam atitudes que só levam à escalada do conflito”, ponderou o professor. 

Ainda que entenda os motivos da Rússia, ele reforçou que a guerra viola o direito internacional e que, mesmo que agora esteja se verificando o uso comedido da força, pode ocorrer uma tragédia. Para ele, ainda há o risco de uma guerra nuclear ou envolvimento militar da OTAN e dos EUA — o que acaba dando mais razões a Vladimir Putin.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

“Na Europa fala-se muito em paz, mas se alimenta a guerra. Temos que agir politicamente para desescalar ações militares. Me assusta que as pessoas, mesmo alguns repórteres, têm cobrado entradas frontais na guerra, contra a Rússia, ou a favor de armar ucranianos para uma guerra que ninguém tem coragem de lutar sozinho e que ninguém tem coragem de vender contra a Rússia. Isso tudo é um grande aviso para a Europa repensar suas estratégias”, defendeu Borba.

Além de condenar veementemente o envio de suposto auxílio militar à Ucrânia, ele também criticou a implementação de sanções contra a Rússia, afirmando tratar-se de uma agressão que configura uma guerra econômica e é ilegal do ponto de vista do direito internacional.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Escolhendo um lado

Crítico em relação a todos os lados do conflito, Borba alertou para a hipocrisia por trás da “escolha de um lado” ou, em concreto, das demonstrações de solidariedade à Ucrânia: “qual é a qualidade da nossa democracia no mundo ocidental? Proibir redes de televisão e agências de notícias russas como a RT e a Sputnik é censura. Há um interferência política na democracia no próprio Ocidente. E quem são os ucranianos na Europa? São os trabalhadores, reprimidos e racializados, que pegam os empregos que ninguém quer. Aqui em Portugal, um ucraniano foi espancado à morte pelas autoridades no aeroporto. Não houve nenhuma solidariedade na época”.

O professor explicou que não se pode ser ingênuo ao apoiar campanhas de solidariedade e questionou as intenções dessas campanhas, como por exemplo de crowdfundings, para enviar armas para os ucranianos “lutarem numa guerra que ninguém quer lutar”.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

“A Ucrânia está sendo vítima de estratégias ocidentais que não se importam com a população. Não é discutido um cessar-fogo, por exemplo. Apela-se para o emocional das pessoas para fazer um chamamento às pessoas para lutar e vai-se prolongando essa guerra infeliz”, reforçou.

Na opinião dele, a demonização de Putin e a visão maniqueísta que está sendo estimulada sobre o conflito apenas contribui para sua despolitização, impedindo sua resolução.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Por isso, ele afirmou que não iria a uma manifestação contra Putin ou contra a guerra na Ucrânia sem refletir muito antes: “É bom saber quem está convocando a manifestação. Eu sou a favor da paz, iria em uma manifestação pela paz e ainda me perguntaria que paz é essa pela que se está protestando. Será que é uma manifestação mais interessada em provocar o adversário? Esse suposto pacifismo tem que ser visto com muita cautela”.

Borba lembrou que guerras não são raras e que esta não é a primeira ruptura da ordem. Ele denunciou, por exemplo, que o apartheid contra o povo palestino provocado por Israel não gera a mesma comoção. Chamou a atenção, também, para como muitos refugiados ucranianos estão sendo recebidos de braços abertos na Europa, o que não acontece com refugiados não brancos, e para o fato de que pessoas não brancas vivendo na Ucrânia, que não estão conseguindo sair do país, tampouco estão recebendo o mesmo apoio.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

“Pessoas brancas merecem mais solidariedade? Isso revela muito. Somos mesmo solidários? Só podemos lutar por uma solução política para tudo isso e esperar que o conflito termine o mais rápido possível com o arranjo mais realista possível”, concluiu.

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Carregando os comentários...
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO