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Brasília

Arthur Lira pactua "silêncio obsequioso" de bolsonaristas até sua reeleição na Câmara

Objetivo de Lira é se reeleger com votação maior que João Paulo Cunha, em 2003. Cunha teve 434 votos e isso tonificou o poder de negociação que teve no 1º mandato de Lula

Arthur Lira e João Paulo Cunha (Foto: Agência Brasil)
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Por Luís Costa Pinto, da sucursal do Brasil 247 em Brasília - Ex-ministro de Jair Bolsonaro, o ex-presidente da República auto exilado num condomínio de luxo na Flórida (EUA), um parlamentar caminhava com ar preocupado na pista de cooper do Parque da Península no início da manhã desta quarta-feira 25/01.

O parque faz fronteira com os jardins das residências oficiais dos presidentes da Câmara dos Deputados, do Senado, dos comandantes das três forças armadas, de alguns empresários e do governador afastado do Distrito Federal Ibaneis Rocha (MDB). 

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Trajando camisa cor de tijolo, visivelmente acima do peso - resquícios indeléveis dos bons tempos de banquetes palacianos pagos com o cartão corporativo bolsonarista - e boné enfiado na cabeça até a altura das orelhas, o ex-ministro almejava passar despercebido. Não conseguiu. Viu-se obrigado a cumprimentar o jornalista, a quem conhecia havia anos e com quem travara batalhas conceituais sobre Democracia, corrupção, genocídios nos últimos tempos, durante a Era da Loucura sob o jugo de Bolsonaro no governo federal.

“Folgo em vê-lo, ainda livre”, provoquei. Um sorriso sorrateiro foi dado de volta antes de o parlamentar se recompor para seguir a conversa.

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“Está tudo muito ruim, né?”, respondeu. “Vocês têm culpa integral disso”, ouviu de volta. “Quando é que você vai voltar a falar? Era tão falante publicamente? A política precisa voltar a ser feita com cérebro e propósitos, e não com o fígado e discurso de ódio”. O parlamentar bolsonarista aquiesceu, concordando. “É verdade. A gente precisa voltar a falar. Mas, o Arthur pediu que nenhum de nós falasse nada até a reeleição dele”, devolveu.

O Arthur em questão é o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), candidato a uma reeleição quase certa como presidente da Câmara dos Deputados para a Legislatura 2023-2025. A eleição se dará no próximo dia 1º de fevereiro, Lira construiu até aqui um improvável arco de apoios partidários que vão do PT do presidente Lula ao PL do ex-presidente Jair Bolsonaro. 

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Até agora, apenas um candidato anti-Lira surgiu na cena brasiliense, o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ). É pouco provável que Alencar ultrapasse as três dezenas de votos, em que pese ele ser um deputado federal de posições historicamente aguerridas e consequentes que retorna à Câmara depois de ter ficado fora do Congresso por quatro anos.

Silêncio de bolsonaristas renderá votos

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“Arthur quer o nosso silêncio porque o objetivo dele é ter uma votação consagradora para a presidência da Mesa. Nada pode atrapalhar”, explica o ex-ministro bolsonarista. “Ele quer receber mais votos do que João Paulo Cunha, em 2003, no primeiro ano do primeiro governo de Lula. Aí ele se fortalece para comandar a composição das comissões da Câmara, para impor sua força”.

João Paulo Cunha, ex-metalúrgico, hoje advogado em Brasília e em São Paulo, foi o primeiro presidente petista da Câmara dos Deputados. Em 2003, saiu da liderança do PT para a presidência da Mesa Diretora com consagradores 434 votos já no primeiro turno da disputa. Nem antes, nem depois de João Paulo, ninguém havia obtido tantos votos já em primeiro turno ao disputar o cargo que é a terceira cadeira na escala sucessória da República. 

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Na estratégia traçada por Arthur Lira, o silêncio obsequioso dos radicais bolsonaristas é uma tática no jogo de cabala pela tal votação consagradora. Na surdina e jogando duro com o poder que detém para liberação de emendas orçamentárias, ele também articula o esvaziamento da candidatura do também ex-ministro bolsonarista Rogério Marinho (PL-RN) à presidência do Senado. 

O empenho pela remoção de Marinho não se dá porque o presidente da Câmara goste excessivamente do senador Rogério Pacheco (PSD-MG), candidato à reeleição na outra Casa do Congresso. Mas, porque deseja chegar próximo dos 450 votos em sua reeleição. Tamanho balaio de votos seria capaz - pensa Lira - de lhe conferir poder suficiente até para trair o PT na promessa de conceder ao partido do presidente Lula as presidências da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e a presidência da Comissão de Orçamento do Congresso. 

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Traição ao PT poderá vir na esteira da reeleição

Ao longo dos próximos dois anos, reeleito para o posto, será Arthur Lira quem conduzirá a designação dos relatores das matérias mais caras ao governo na Câmara. Emendas constitucionais e medidas provisórias, por exemplo, começam suas tramitações pela Câmara dos Deputados e, em geral, quando chegam ao Senado para serem votados necessariamente espelham as negociações e os relatórios negociados pelos deputados. 

“O Palácio do Planalto do presidente Lula, de quem gosto muito, perdeu muito tempo e muita bala na negociação com o Senado”, reclama um deputado reeleito do MDB. “Esqueceram da Câmara, deixaram a articulação na Câmara nas mãos de Arthur Lira. Agora, o governo corre o risco de dar a Lira um poder que nem João Paulo Cunha teve no passado: o de trair o PT e deixar os petistas calados. Eles não sabem que Arthur Lira sabe ser ainda mais vingativo que Eduardo Cunha”.

Entre experientes parlamentares que retornam à Câmara ou que conseguiram se reeleger em outubro passado há um consenso: nem a CCJ da Câmara, nem a Comissão de Orçamento do Congresso serão entregues a deputados do PT. Blocos transitórios estão sendo negociados, formalmente e informalmente, em meio à disputa pelos cargos da Mesa da Câmara. Líder do governo na Casa, o deputado José Guimarães (PT-CE) é visto como um nome próximo demais de Arthur Lira, e dependente da estrutura de administração orçamentária, para preservar os desejos palacianos nas negociações. Lideranças de outras legendas, contudo, conservam a esperança na força de imposição que os deputados Zeca Dirceu (PT-PR), líder da bancada petista, e Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente do partido, saberão manter ante o rolo compressor que Lira vai acionar depois de ser reeleito.

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