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Sudeste

Mais uma agressão por intolerância religiosa: tudo a ver com o nosso histórico racista e escravocrata

Em Nova Iguaçu, candomblecista de 65 anos foi agredida a pedradas na última sexta-feira (18);  Maria Cerqueira da Slva passava pela rua quando ouviu uma vizinha, que reiteradamente lhe dirige ofensas, dizer “lá vem essa velha macumbeira. Hoje eu acabo com ela”; Maria foi tirar satisfações e a vizinha pegou uma pedra no chão e arremessou contra a idosa

Em Nova Iguaçu, candomblecista de 65 anos foi agredida a pedradas na última sexta-feira (18);  Maria Cerqueira da Slva passava pela rua quando ouviu uma vizinha, que reiteradamente lhe dirige ofensas, dizer “lá vem essa velha macumbeira. Hoje eu acabo com ela”; Maria foi tirar satisfações e a vizinha pegou uma pedra no chão e arremessou contra a idosa (Foto: Charles Nisz)
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Do blog O cafezinho - Uma senhora de 65 anos, Maria da Conceição Cerqueira da Silva, foi agredida com pedras na última sexta-feira em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. Leiam o revoltante relato da reportagem do G1:

Migrante nordestina, Maria estabeleceu moradia em Nova Iguaçu há quatro décadas. Candomblecista, passou a sofrer constantes ataques verbais por parte da vizinhança, segundo afirmou a filha dela, a vendedora Eliane Nascimento da Silva, de 42 anos.
A vendedora contou que também recebe ofensas por conta de sua religião. Ao contrário da mãe, ela é umbandista, prática também de matriz africana.
“Eu engulo calada [as ofensas]. A minha mãe não, ela enfrenta. Ela tem sangue nordestino, é uma idosa, semianalfabeta, e acaba revidando as agressões verbais. Só que o que fizeram com ela dessa vez foi uma covardia”, ressaltou.
Segundo Eliane, nesta sexta a mãe passava pela rua quando ouviu uma vizinha, que reiteradamente lhe dirige ofensas, dizer “lá vem essa velha macumbeira. Hoje eu acabo com ela”. Maria foi tirar satisfações e a vizinha pegou uma pedra no chão e arremessou contra a idosa.
“Ela [a vizinha] estava com a filha pequena no colo. A menina começou a chorar porque não entendeu o motivo da mãe fazer aquilo. Minha mãe chegou em casa esvaindo em sangue e o meu pai, um senhor de 72 anos, ficou desesperado sem saber o que fazer”, contou Eliane.

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Casos de agressão por intolerância religiosa são recorrentes no Brasil. Em 2015, uma menina de 11 anos também foi agredida com uma pedrada no RJ. No Estado do Rio, o Centro de Promoção da Liberdade Religiosa e Direitos Humanos (Ceplir), criado em 2012, registrou 1.014 casos entre julho de 2012 e agosto de 2015, sendo 71% contra adeptos de religiões de matrizes africanas, segundo matéria da BBC.

A intolerância contra as religiões de matrizes africanas é, evidentemente, um dos refúgios do racismo. No mais recente caso de violência, relatado acima, juntou-se ao preconceito racial o preconceito contra os nordestinos.

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Como o racismo escancarado não é mais aceitável socialmente, ele acaba migrando para comportamentos associados à população negra.

A recente tentativa de criminalização do funk, em projeto de lei apresentado no Congresso, é um exemplo. Em 2015 um projeto de lei apresentado na Assembleia dos Deputados gaúcha tentou proibir o sacrifício de animais em cultos de origem africana. O poder público, que deveria ter o papel de garantir a liberdade religiosa de todos os cidadãos, acaba, muitas vezes, sendo um agente propulsor da intolerância e da violência.

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Para completar, alguns pastores de igrejas neopentecostais instigam o ódio ao associar a macumba com maldade, com o “demônio”, etc. Inclusive por meio de transmissões de cultos na TV aberta, em rede nacional (alô, Ministério Público)!

A origem da umbanda é retrato do pesado histórico racista do nosso país. A inclusão de elementos católicos na religião teve o objetivo de torná-la palatável aos senhores de escravos. A umbanda acabou abarcando um sincretismo religioso incrível, com elementos africanos, católicos e indígenas. É um belo exemplo de como as ricas e diferentes culturas que compõem o Brasil podem e devem conviver em paz.

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Situações tristes e inaceitáveis como a agressão sofrida pela valente dona Maria são, portanto, reflexos do arraigado racismo brasileiro, que vem da nossa origem escravocrata não resolvida. Com a palavra, o sociólogo Jessé de Souza:

As pessoas são montadas, criadas, pelas instituições, e isso é fácil provar. E a instituição básica no Brasil foi a escravidão. Mas o Brasil nunca criticou a sua herança escravocrata. É importante repetir sobre isso porque se um povo não tem memória, ele não reflete sobre o que ele é, de que maneira que a história foi feita. Mas isso é feito com um sentido, para que a gente nunca saiba quem a gente é, quem manda na gente e de que modo manda.

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