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Marconi Moura de Lima Burum

Mestrando em Direitos Humanos e Cidadania pela UnB, pós-graduado em Direito Público e graduado em Letras. Foi Secretário de Educação e Cultura em Cidade Ocidental. Trabalha na UEG. No Brasil 247, imprime questões para o debate de uma nova estética civilizatória

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A (anti)comunicação de Bolsonaro e a ressurreição do Messias

Não há democracia quando um lado da ideologia aceita (e até deseja) a morte dos sujeitos diferentes

(Foto: Reprodução/vídeo)
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É Páscoa! Termo do hebreu “pessach” que significa “passagem”. O povo, antes escravizado, agora é liberto do trabalho cruento e servil. Moisés, perto de 1.220 a.C., faz a divisão das águas (do tempo) e o povo avança num novo caminhar. O Messias ressuscitou – em 33 d.C. E sua comunicação propõe ao mundo (todos os sujeitos) uma vida nova, de paz, fraternidade e amor, a saber, um novo caminhar...

Feita essa homenagem ao evento histórico-simbólico da Páscoa, hora de falar de algo contrário ao todo deste significante.

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Então! Embora saibamos que Bolsonaro (2.019 d.C.) é bem menor que o bolsonarismo e que este é a “jabuticaba” piorada do fascismo clássico – por isso é maior que seu personagem principal –, não podemos nos furtar em admirar capacidades táticas. Coloquemos aspas em “admirar”, pois um talento pode ser usado para o bem da humanidade, ou para seu mal crônico, caso típico da monstruosidade de Jair Messias.

Bom, vamos transladar o texto ao que interessa. Existe algo muito difícil – intransponível no curto prazo – que é romper da cognição social a conquista de Bolsonaro quanto (no domínio simiológico) ao imaginário de certos indivíduos (aproximadamente, 30% da população brasileira, e destes, sua esmagadora maioria pessoas que professam a fé evangélica).

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Bolsonaro, não apenas conseguiu mentir para estas pessoas sobre o que ele é (não sendo), como encobriu o que verdadeiramente é (sendo). Parece confuso? Sim! Não é tão simples de fato. E por isso vamos simular um caso concreto a fim de melhor elucidar os fatores.

Messias, o do mal, atribuiu para si o papel de seguidor do Messias, o do bem. Ocorre que água e óleo não se misturam. É improvável e impossível, na verdade. Jesus foi torturado brutalmente. Bolsonaro defende com todas as forças de sua alma a tortura e ele mesmo pratica a semântica da tortura em muitos de seus discursos históricos ou casuais. Logo, como pode um evangélico querer seguir ao mesmo tempo estes dois “Messias”, o Jair e o Cristo? (Lembrando que o Menino de Belém está no rol da história como um dos sujeitos que mais foi vítima de gente como o miliciano de Glicério.)

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A resposta parece realmente inconciliável. Entretanto, há um fator que não nos atentamos. A comunicação de Bolsonaro (não é bem dele, mas das inteligências por trás do projeto fascista em questão) precisa transitar em quatro vias simultâneas. Vejamos:

A primeira é produzir uma narrativa (para cada fato social) que cole em certas mentes – provavelmente já tendenciosas a certas crenças e culturas – a fim de estabelecer um padrão moral-comportamental. Isto é, dizer a um sujeito (exemplifico) evangélico que é inconciliável o Evangelho de Cristo, melhor dizendo: a espiritualidade forjada a partir de interpretações normalmente equivocadas das Palavras, Fazeres e Viveres do Nazareno com (outro exemplo) a liberdade de orientação sexual. Vamos dar “nomes aos bois”: na cabeça de um evangélico típico, Jesus não aceita o sujeito gay. Embora o Emanuel nunca tenha dito isto em suas pregações, ao imaginar um crente que a família típica é a que tem o pai José, a mãe Maria e a criança Jesus, e que outras fontes derivadas para a construção deste dogma religioso reforcem um modelo de família “correta”, logo, quem está fora deste padrão é “impuro”, é “pecador” aos olhos de Deus. Destarte, a comunicação bolsonarista opera aos moldes do método de Skinner (estímulos, reforço e repressão) para plantar na mente destes sujeitos uma (pseudo) verdade inegociável.

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A segunda meta é “fabricar” o “herói” defensor destas causas infalíveis. Isto é, quem seria, na Terra, o representante de nossas crenças, costumes, moral? Insiste-se em alguns personagens como Bolsonaro. E novamente, no forjar estímulos comunicativos, usando multimeios de fácil acesso (embora inverossímeis) para afixar o conteúdo e “programar” a mente receptora acerca deste tipo de “salvador” de nossas “causas impossíveis”, o “guerreiro” contra as pseudos ameaças à sociedade do “bem” (relativamente parcial). Aquele a quem a ideologia cristã guarda com seu próprio corpo e sangue. O poder das comunicações, rústicas (e “caseiras” muitas vezes), elevou ao imaginário destas pessoas o Bolsonaro. E é muito difícil desgrudar da cognição este ser que, quem estava vacinado, ou havia tomado um antídoto contra esse veneno poderoso, sabe que é abjeto, cruel, hipócrita e promíscuo. Os demais, creditam-lhe um ser santo.

A terceira ordem comunicativa se conecta como antagônica à primeira e segunda. Se de um lado é fundamental forjar (ou reforçar) uma cultura, um costume, uma moral, do outro, é essencial que se destrua no senso comum personalidades que divergem, ou criticam, ou ponderam acerca da verdade fabricada. Para resumir uma hipótese: digamos que a vereadora Marielle Franco, vinda de uma manjedoura simples como a do pequenino de Belém, represente uma voz dissonante ao estabelecido acima, portanto, é fundamental investir em produções comunicativas que pichem esta liderança perante a sociedade, com recorte à sociedade foco da sedução anterior. Daí, quanto mais coisas ruins, sejam elas mentiras absurdas sobre o sujeito Marielle, ou acerca de suas defesas, contudo, apresentada sob o viés da adulteração de conteúdo, do enviesamento proposital e parcial do contexto (com ênfase nas fake news), mais potência terá a fabricação do “inimigo” da fé, da igreja, ou de qualquer semiologia social para a bolha investida.

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A quarta e última dimensão comunicativa é a que cria um escudo de proteção contra as “mentiras” (verdades) sobre a vida e obra do “herói” fabricado. Portanto, não basta apenas confeccionar o cenário cultural, nem submergir um “deus do olimpo” desta pós-verdade, tampouco, se contentar em destruir o “inimigo” daquela crença. É fundamental usar métodos de linguagem que, quase sempre, forjando o fato real, ou blindando o quanto possível para que a informação verdadeira sobre o sujeito, não influencie aquele segmento (parcela da sociedade cooptada). Contudo, mesmo que a informação verídica sobre o “herói” fure a bolha, estes elementos todos somados já terão causado tão destruição da capacidade crítica do sujeito que ele rejeitará o fundamento e retornará à veneração de seu núcleo costumeiro: a sua cosmoanomia [1].

Diante destas dimensões, poderíamos perguntar: então não há esperanças para que o Governo Lula transponha esse imaginário e “traga” estas pessoas[2] à realidade dos fatos e da sociedade em disputa? Seria um ato de respeito à democracia simplesmente ignorar estes sujeitos em seu modo de pensar e agir assim?  

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Quanto à última pergunta: não há democracia quando um lado da ideologia aceita (e até deseja) a morte dos sujeitos diferentes, os que não estão em seu grupo. E a morte não é apenas física, mas simbólica. Trata-se de atitude fascista o não-respeito à diversidade e à existência do livre caminhar do outro. Além disso, há clara sabotagem deste grupo quanto à própria democracia e, consequentemente, à liberdade de governança programática do projeto vencedor nas eleições. Não é oposição convencional, todavia, terrorismo semiótico.  

Ademais, o Governo pode sim reconquistar o espírito de fraternidade entre os divergentes. Avocar, não para impor uma aliança ou uma (outra) narrativa, contudo, para que impere a disputa na arena da verdade, sem fake news e sem birutas a espalhar o vento do ódio Brasil afora. Todavia, as inteligências do Governo haverão que recomeçar. Não basta partir do ponto de uma certeza, entretanto, dar o primeiro passo ciente de que habita a areia movediça das comunicações líquidas destes tempos modernos (como melhor explica Zygmunt Bauman). Se os membros do Governo teimarem em: i) fingir que nada está acontecendo; ou ii) arvorarem sua sapiência como a mais potente, e não (re)aprenderem a comunicar, continuaremos sem visitar (na Páscoa de cada dia) os nossos parentes antagônicos, e o Brasil continuará com esse fantasma entre o limbo e a ressurreição[3]...

……………………

[1] Denominemo-lo por mundo efêmero (espaço-vivência), sem regras claras, apenas costumes voláteis e incoerentes com uma ética coletiva e global. Um universo egoísta, unilateral e decrépito; translúcido! Pertencente a uma ideologia enviesada, confusa, torpe. Em síntese, seria algo como uma cosmovisão, entretanto, diante de um mundo inverossímil e paralelo.

[2] Lembrando que o segmento evangélico é o que, sem uma racionalidade de coerência, mais tem disseminado conteúdos radicalmente contrários ao Lula. E de quando em vez, com uso de mentiras.

[3] Reitere-se que a ressureição do Messias semita foi fundamental para se disseminar uma mensagem de altruísmo (vida que se doa aos outros, particularmente aos pobres, em geral). Contudo, o Messias genocida, este desejamos que sua passagem seja imediatamente para a carceragem da Polícia Federal (#SemAnistia) e ao colocarem uma “pedra” sobre seu “túmulo” (político), lacrem a passagem para que por lá permaneça o resto de sua vida pagando pelos crimes, entre os quais, as 700 mil pessoas mortas na COVID-19 por seus deboches e desmandos e a sua crueza com os povos indígenas, em especial, a dizimação de boa parte dos Yanomami.

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