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Evilázio Gonzaga Alves

Jornalista, publicitário e especialista em marketing e comunicação digital

48 artigos

blog

A batalha decisiva da 4ª Guerra Mundial em 2022 será no Brasil

A Guerra Fria foi a 3º Guerra Mundial. Atualmente ocorre a 4ª Guerra Mundial, quando os Estados Unidos enfrentam a evolução da história

Lula e Emmanuel Macron (Foto: Ricardo Stuckert)
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Sem entender o mundo não há como compreender o Brasil

Não é possível entender a conjuntura brasileira sem observar atentamente o ambiente geoestratégico mundial. Desde sempre, os acontecimentos políticos nos países periféricos, principalmente nas ex-colônias de potências europeias, ocorrem por decisões tomadas fora dos seus territórios; primeiro nas matrizes no Velho Continente, depois nos Estados Unidos, que assumiram a função de vender proteção ao sistema financeiro que surgiu no século XV, no Norte da Itália, e atualmente tem seus principais centros em Nova York, Londres e Zurique.

A história oficial do século XX conta a saga da descolonização, por um lado, e a entrada dos Estados Unidos na disputa imperial, pelo outro. Alguns autores são importantes, para compreender este movimento, como Negri, Cooper, Moniz Bandeira, Hobsbawn, Lippmann, Chomsky, Frankopan, Fairbank, Goldman, Burbank, Piketti, Kissinger, Kennedy, Hourani, Palmer e, principalmente Arrighi, entre outros.

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A saga do século XX assinala a conquista da independência por civilizações antigas e orgulhosas de sua cultura, como China, Índia, Irã e Vietnã. Porém, registra também a modificação dos métodos do imperialismo, substituiu a dominação colonial direta, pelo estabelecimento de protetorados informais ou estados nacionais submissos, como ocorre em toda a América Latina, África e parte da Ásia.

Os países latino-americanos, africanos e vários estados asiáticos, como os da Península Arábica ou as Filipinas, nunca foram de fato plenamente independentes.

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No Brasil, os dois momentos mais importantes da tentativa de conquista da independência plena ocorreram nos períodos Vargas, Lula e Dilma.

Como na maior parte da África, na Península Arábica, trechos da Ásia e na Austrália; no Brasil a maior parte das elites financeiras e intelectuais nunca tiveram interesse em um projeto nacional e tampouco valorizam de fato a cultura local – procuram simular a cultura dos países centrais e se consideram estrangeiros dentro dos países onde nasceram.

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Na China, Irã, Rússia ou Turquia, países que desenvolveram uma base cultural antiga, sólida e autoconfiante, as elites intelectuais compartilham com seus compatriotas um profundo senso de identidade nacional.

Desta forma, enquanto um país como a Índia possui uma imensa autoconfiança, produzida por uma cultura milenar, a elite brasileira nunca considerou importante romper com o colonizador. A cultura de subserviência das elites brasileiras é tão profunda que provoca o fenômeno da substituição do colonizador. Quando um colonizador perde força, as oligarquias locais se alinham a outro. Assim, a colonização no território que seria o Brasil começou com Portugal; contudo ainda antes da Independência (quando o reino luso passou a ser dependente do Reino Unido), os portugueses foram substituídos pelos britânicos até o final da República Velha, quando houve o hiato Vargas e, após 1945, o controle passou aos Estados Unidos.

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O que houve no Brasil depois de 1945 foi uma consequência do resultado da Segunda Guerra Mundial, que terminou com a emergência de duas superpotências à hegemonia mundial.

Hegemonia dividida

A vitória sobre o eixo estabeleceu uma ordem mundial bipolar, com o planeta dividido em duas áreas cada uma controlada por uma das principais potências vencedoras, Estados Unidos e URSS. A divisão do planeta em áreas de influência ocorreu em negociações de cúpula nos últimos anos do conflito, que ocorreram em Ialta, na União Soviética, e Potsdam, subúrbio de Berlim, Alemanha.

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Apenas três países ficaram fora do tabuleiro das potências. A Suécia, que se manteve neutra no conflito, porém desenvolveu poderoso aparato militar defensivo. A Iugoslávia, por ter conquistado sua libertação do eixo por seus próprios meios e adotou um sistema socialista original, distante do stalinismo. A Finlândia foi o terceiro caso. O país pouco antes da Segunda Guerra Mundial foi atacado pela União Soviética e, apesar de surpreendente resistência na qual impôs humilhantes derrotas ao Exército Vermelho, acabou sendo obrigada pela enorme disparidade de forças a ceder parte do seu território. Quando a Alemanha atacou a URSS, em 1941, os finlandeses se juntaram ao conflito, para recuperar seu território. Mesmo com a derrota nazista, os soviéticos não conseguiram abater os finlandeses, que continuaram combatendo. A resistência atraiu simpatias da opinião pública mundial, o que resultou em um acordo de neutralidade armada para o país, que não se vincularia a nenhum dos dois blocos.

O caos provocado pelo conflito mudou o mundo. Os acordos de cúpula feitos pelas potências imperialistas não tinham mais o poder de redesenhar o mapa do planeta, como ocorrera no encerramento da Primeira Guerra Mundial, quando as fronteiras da Oriente Médio foram desenhadas em um guardanapo, durante um suntuoso jantar. O nacionalismo explodiu em todo o mundo, principalmente nos países de culturas originais milenares, que mesclaram suas tradições com o que consideravam positivo do ocidente. As experiencias de mesclar tradições civilizatórias originais com padrões ocidentais vieram de diversas formas, por exemplo, a China desenvolve um modelo original de socialismo, unindo elementos do marxismo, a NEP leninista, com o confucionismo; enquanto a Índia avança industrial e tecnologicamente, sem conseguir romper na prática com o milenar sistema de castas.  

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O pós-guerra foi um longo período de revoluções nacionalistas pela independência, que modificaram de dentro para fora as fronteiras do Sul da Ásia e África. A rigor, este período durou de 1945 até o final dos anos 1980.  

As revoluções ou os processos de abdicação da soberania imperialista (que ocorreram em uma política de entregar as luvas, para não perder os dedos – como na Índia britânica) tiveram como resultado níveis distintos de independência. Maiores, como no caso da Argélia, em 1969; e Irã, em 1979; complexos, em locais como o Egito ou Indonésia, que mantêm uma política externa oportunista aproveitando as contradições das grandes potências; ou uma independência meramente fictícia, como a Tailândia ou Mianmar, países que não passam de protetorados dos EUA.

A África subsaariana se manteve praticamente abandonada, sendo um território aberto para a pilhagem das corporações transnacionais, interessadas nos ricos recursos minerais e biológicos do continente; até que no século XXI a interesses econômicos chineses começaram a entrar na região, com projetos desenvolvimentistas.

É pertinente lembrar que historicamente as guerras chinesas, exceto quanto o Trono do Céu foi ocupado por estrangeiros (como Kublai Khan, por exemplo), sempre foram defensivas. O historiador Paul Kennedy observa que a chegada de navios chineses nos portos dos Oceanos Pacífico e Índico significavam comércio, conhecimento e prosperidade; enquanto os europeus traziam violência, guerra, pilhagem e dominação.  

No período das revoluções independentistas, enquanto os EUA e seus “aliados” europeus tentavam impedir o curso da história, com guerras inúteis, os soviéticos sempre respeitaram os acordos feitos no final da Segunda Guerra Mundial.

Sempre mantendo uma política agressiva, os estadunidenses frequentemente procuraram brechas para burlar o combinado. Esta equação gerou os conflitos mais amargos do século passado, como na Coréia, Vietnã, Oriente Médio, Angola e Moçambique.

Na Coréia, por exemplo, os soviéticos não apoiaram a invasão da Coréia do Norte ao sul da península, considerando inicialmente o assunto exclusivo dos coreanos; somente vindo a intervir de maneira não oficial, quando as forças armadas dos Estados Unidos entraram no conflito e ameaçaram invadir a China. Mesmo assim, além do fornecimento de armas, os soviéticos participaram apenas com alguns esquadrões de sua força aérea, cujos experientes pilotos destroçaram os aviões estadunidenses que ultrapassavam a linha vermelha, penetrando no espaço aéreo próximo à fronteira chinesa.

Hegemonia dos EUA

Vítima de contradições econômicas e sociais, estabelecidos no período stalinista, a queda da União Soviética mudou o cenário mundial. O planeta entrou sem contestação em uma fase unipolar, sob a hegemonia estadunidense.

A agressiva geopolítica unilateral estadunidense, que dispersou até mesmo decisões da ONU, assim como a adoção de políticas internas que seguiam à risca a receita neoliberal, determinada pelos contratadores do seu poder militar – o Sistema Econômico transnacional; fizeram com que os Estados Unidos iniciassem um declínio econômico, que começou tornar-se evidente a partir do início do século XXI.

O rompimento definitivo com as políticas rooseveltianas, no governo Reagan, teve como efeito a corrosão do que foi o mais potente parque industrial já existente no planeta e levou o país a se transformar no maior produtor mundial de pobreza, o que aquece cada vez mais o caldeirão social no país.

De outro lado, as iniciativas geoestratégicas mal calculadas de estimular a industrialização da Alemanha Ocidental, do Japão, Coréia do Sul e China (após os acordos estabelecidos por Nixon), para servirem como propaganda do sucesso do campo capitalista, produziram poderosos concorrentes econômicos. Todos esses países; que possuíam uma base industrial sólida e antiga tradição comercial; aproveitaram a oportunidade e avançaram em ritmos impressionantes de crescimento. O avanço econômico da Alemanha e, principalmente, do Japão preocupou estrategistas em Washington, quando perceberam que suas marcas industriais tradicionais eram substituídas por estrangeiras, como Volkswagen, BMW, Airbus, Sony, National, Honda e Toyota.

A agressividade japonesa foi a que mais preocupou os formuladores estratégicos dos EUA (o racismo fez parte), quando capitais do Japão começara, a adquirir tradicionais ativos associados aos Estados Unidos, como a maior parte do Rockefeller Center, e grandes empresas da indústria do entretenimento, como estúdios de cinema, essenciais para a política de dominação cultural.

Segundo Cooper, Fairbanks, Arrighi e outros pesquisadores, os Estados Unidos exigiram um recuo do Japão, cuja balança comercial tinha enorme vantagem nas trocas, favorável aos japoneses. Sem disposição para enfrentar os Estados Unidos (que mantinham bases militares no seu território), os japoneses aceitaram as imposições. Passaram a frear sua economia, alterando sem necessidade técnica o valor da sua moeda, para favorecer os Estados Unidos, reduziram as exportações para o território estadunidense, aumentaram sem necessidade suas importações de produtos “made in USA”, adotaram medidas para equilibrar a balança comercial e passaram a contribuir financeiramente para as aventuras militares imperiais – grande parte das guerras do Iraque e Afeganistão foi pago com dinheiro japonês; além de outras medidas.

A partir dessa humilhação, o Japão passou a adotar políticas de longo prazo, para tornar o país mais independente, em termos políticos, econômicos e militares.

Na economia buscaram outros mercados, para se livrarem da dependência dos Estados Unidos, que até a década de 1990 absorvia mais da metade das exportações japonesas. No aspecto militar, começaram aos poucos a comprar menos equipamentos dos EUA, enquanto utilizavam seu alto grau de conhecimento tecnológico, para projetar e produzir seu próprio armamento. Na geopolítica, evitaram fornecer tropas de pelotões de saúde para as guerras estadunidenses.

Os europeus, cuja economia crescia puxada pela Alemanha e o grande mercado formado pela União Europeia, eram tratados com mais cuidado do que o Japão, provavelmente por racismo. Porém, os Estados Unidos nunca deixaram de consideram a Europa um território derrotado, conquistado e ocupado militarmente. Há bases militares dos Estados Unidos em todos os países do ocidente do velho continente, com exceção da França. Portugal, Espanha, Reino Unido, Alemanha Ocidental, Noruega, Bélgica, Itália, Holanda, Grécia e Turquia mantêm instalações militares estadunidenses desde 1945.

Ao avançar para o Leste, Washington rasga tratados

A partir dos anos 1990, a presença militar dos EUA foi estendida para a Europa Oriental, rompendo os acordos feitos com a URSS, no final da Segunda Guerra Mundial.

No avanço para o leste foi destruído o único país independente da Europa Oriental, a Iugoslávia, que foi balcanizada, para impedir que se tornasse uma das mais fortes economias da Europa.

No século XXI, Jacques Chirac, presidente francês, abandonou a política soberana implantada por Charles de Gaulle e, finalmente, a França entrou na OTAN. A submissão da França ao império foi confirmada por Nicolas Sarkozy, quando permitiu a instalação de um importante escritório da CIA no seu país.

Os estrategistas de Washington e do Sistema Financeiro transnacional tentam camuflar a dominação do Japão e da Europa, declarando que essas entidades políticas são “sócias” de uma abstração chamada de “Ocidente”.

Se os japoneses iniciaram uma caminhada cuidadosa e de longo prazo, para retomar o controle do destino do seu país, os europeus têm demonstrado cada vez mais desconforto com a dominação informal à qual estão submetidos desde 1945. Apesar das constantes sabotagens dos Estados Unidos e do Sistema Financeiro transnacional, o projeto da União Europeia avança, vencendo percalços como o Brexit, a polêmica sobre o gasoduto Rússia-Alemanha NordStream, a crise dos imigrantes, e exigência dos governos estadunidenses para que elevem seus gastos militares, ou os acordos com o Irã.

Enquanto convive em uma relação desconfortável com “aliados” insatisfeitos, porém muito cuidadosos”; os Estados Unidos tentam deter as mais potentes ameaças ao seu projeto de hegemonia mundial, que vêm da Rússia (uma potência com arsenal nuclear do mesmo porte do que é mantido pelos estadunidenses), e da China, o país mais rico, industrializado e produtivo do mundo.

No enquadramento da Europa e do Japão, os estadunidenses utilizam a diplomacia (as vezes dura), as contradições políticas (partes das elites desses países apoiam o alinhamento automático), ameaças, o temor psicossocial, cultural e histórico da Rússia e da China – a memória profunda dos europeus mantém a lembrança das destruidoras invasões que vieram das estepes russas, enquanto os japoneses temem que as atrocidades cometidas quando invadiram a China sejam vingadas – e embargos econômicos.

Hegemonia desafiada

No caso da China, Rússia e Irã ameaças e embargos não funcionam e até mesmo podem ter efeito contrário, ao estimular políticas nacionalistas de autonomia industrial, como ocorre na Rússia e Irã.

Percebendo a inutilidade de suas ações desestabilizadoras políticas e econômicas, os Estados Unidos mantêm a ameaça da alternativa militar. Entretanto, no poderio bélico os EUA não mantêm a vantagem que obtiveram nos anos 1990 e início do século XXI.

Ao longo dos anos, o poder militar dos Estados Unidos acabou sendo vítima das políticas neoliberais gananciosas, impostas por seus patrocinadores do Sistema Financeiro transnacional. Priorizando os lucros, o complexo financeiro/industrial/militar, denunciado pelo presidente Eisenhower, nos anos 1950, levou as forças armadas estadunidenses a investir trilhões de dólares em equipamentos cada vez mais tecnológicos, modernos e, principalmente, caros, todavia sem eficiência comprovada.

Na época de fartura os equipamentos ruins eram simplesmente descartados ou empurrados para os aliados, como no triste caso do F 104 Starfighter, batizado pelos pilotos alemães ocidentais de “fabricante de viúvas” ou “caixão voador”, pelo perigo de pilotar um deles.

A opção de equipar seus exércitos com equipamentos bilionários, de difícil operação e manutenção complicada, funcionou contra países médios ou primitivos, como foram os casos do Iraque e Afeganistão, com precárias condições de defesa.

Provavelmente as novas classes de armas dos EUA poderiam surpreender até mesmo adversários mais fortes, nos anos 1990, quando mísseis de cruzeiro, drones, bombas inteligentes e os aviões invisíveis ao radar eram uma novidade. Além disso, naquela época as forças armadas russas estavam completamente desorganizadas, desmoralizadas e tiveram muita dificuldade até mesmo em conflitos contra pequenos países, como a Geórgia. A China, por seu lado, naquela época ainda engatinhava na modernização do seu aparato militar.

O cenário atual é outro. Como revela a longa Guerra da Síria, os armamentos mais modernos do arsenal estadunidense já não surpreendem, pois soluções eficientes e baratas para combatê-los foram desenvolvidas.

Desta forma, os Estados Unidos, cujo orçamento militar de US$740 bilhões (divulgados – provavelmente há verbas secretas) supera os investimentos dos 18 países que o seguem no ranking de despesas bélicas, gasta muito, porém não consegue obter uma vantagem decisiva contra seus principais adversários.

Isso porque Rússia e China se recusaram a entrar no modelo de corrida armamentista proposto pelos Estados Unidos e adotam uma estratégia defensiva – ao contrário da geoestratégia ofensiva de projeção de poder dos EUA. A diferente concepção estratégica de Rússia e China determina o projeto de equipamentos mais baratos, porém eficientes e adequados à função, que é superar defensivamente caríssimo arsenal estadunidense.

Há que considerar ainda, que chineses e russos dispõem de poder nuclear suficiente para limpar os Estados Unidos do mapa.

Psicossociologia imperialista dos EUA é estrutural

Mesmo conscientes das dificuldades, a mentalidade imperial dos Estados Unidos não recua. Em boa parte, a recusa ao recuo provém da disputa entre as diversas oligarquias estadunidenses.

Gramsci definiu que os Estados Unidos mantinham um regime de partido único, dividido por nuances em duas alas, os republicanos e os democratas. Na época que o teórico italiano escreveu essa era a realidade, porém mudanças sociais e culturais na sociedade estadunidense determinaram mudanças importantes.

Os republicanos tradicionais sempre tiveram como principal preocupação os negócios. A política externa, para este grupo, tinha a função de abrir espaço para as empresas do país. O Oriente Médio, para os republicanos, sempre significou petróleo, energia e dinheiro. As guerras para a oligarquia republicana sempre foi um grande negócio, desde, pelo menos, a Guerra Civil, quando os empresários do Nordeste estadunidense viram sua riqueza explodir, vendendo suprimentos para os exércitos do Norte.

O Partido Republicano, no passado, representava principalmente os industriais do Norte e foi um republicado, Abraham Lincoln, o presidente que assinou a Lei da Abolição da Escravatura.

Ao perder a guerra, o antigo Partido Democrata foi extinto e um novo, com o mesmo nome, foi criado para representar os estados derrotados e ocupados do Sul. Desta forma, o novo Partido Democrata, ao longo do tempo passou a ser o estuário dos oprimidos estadunidenses e daqueles que criticavam o sistema. Assim, mesmo representando os brancos do Sul, o Partido Democrata foi aos poucos se constituindo na sigla dos críticos ao regime (na época, os pretos, mesmo libertos não participavam da política por diversas restrições e os bancos do sul se consideravam oprimidos pelos magnatas do norte). Assim, os democratas traíram liberais, intelectuais, trabalhadores sindicalizados, pequenos proprietários rurais, e setores da esquerda dos diferentes estados do país, cujos partidos foram proibidos por leis autoritárias.

Foi este Partido Democrata que chegou ao poder, com Wilson e Roosevelt.

A presença de intelectuais passou a ter grande peso no partido, desde a virada dos séculos XIX e XX, o que atraiu os herdeiros dos magnatas estadunidenses, que conviviam com grandes pensadores nas universidades de elite dos Estados Unidos. O fenômeno produziu um caldo de cultura que define o perfil médio da elite democrata.

Muito mais do que os republicados, mais interessados nos negócios, os democratas cultivam o mito da excepcionalidade estadunidense e esta característica faz com que valorizem com vigor maior o projeto do império informal dos Estados Unidos.

O cerne intelectual e ideológico da elite democrata representa a oligarquia da Costa Nordeste dos Estados Unidos, embora o partido atraia os setores progressistas da política estadunidense – principalmente por suas políticas internas mais inteligentes.

Uma oligarquia singular

A Oligarquia da Costa Nordeste dos Estados Unidos, que compõe hoje o núcleo de inteligência do Partido Democrata, é a mais singular de toda a América, do Alasca à Terra do Fogo. Diferente dos demais migrantes que viajaram para a América, cujo objetivo primário era fazer fortuna e voltar para a metrópole (o que somente uma minoria conseguiu); seja Portugal, Espanha, Holanda, França ou Reino Unido; os protestantes calvinistas, que desembarcaram nas praias inóspitas do Nordeste da América do Norte, saíram da Europa movidos por uma utopia, em direção a uma terra prometida, para fundar um mundo novo.

Três marcas definiram a população inicial desta colônia tão diferente: os pioneiros calvinistas fugiam da perseguição em seu país (e queriam fundar outro); mantinham a crença religiosa de que eram um povo escolhido, o que influenciou o conceito de excepcionalidade estadunidense; e a ênfase na educação que contribuiu para a formação de uma elite extremamente sofisticada – para exemplificar, os imigrantes chegaram a atual Massachussetts em 1620 e o que seria a prestigiosa Universidade de Harvard foi fundada em 1636, apenas 16 anos depois.  

A conjunção dos três elementos formadores forjou o desejo de independência prematuro e o ímpeto imperial, para espalhar a excepcionalidade pelo mundo – este último um aspecto nunca assumido plenamente, em função de uma hipócrita ética protestante e um iluminismo rasteiro.

Porém, como registram Cooper e Burbank (Impérios), um dos motivos da declaração da independência das 13 Colônias, foi o desejo imperial de avançar sobre as populações indígenas a oeste, eliminando os povos originários que viviam naqueles grandes espaços da América do Norte. Quando a coroa britânica se opôs a este projeto e definiu que as tribos indígenas seriam tratadas como entidades políticas, os colonos se rebelaram, de livraram da coroa e iniciaram o avanço para o Oeste, que é o maior genocídio registrado na história e ocorreu os séculos XVIII e XIX, com um extermínio maior do que houve nas conquistas espanhola e portuguesa juntas.  

Após conquistar um imenso território, que ia do Oceano Atlântico ao Pacífico, exterminando as populações nativas, comprando da França a enorme Louisiana, que corresponde a um terço da área atual estadunidense, e tomando em guerras desiguais mais da metade do México; os Estados Unidos já estavam prontos para entrar na corrida imperialista no final do Século XIX.

O projeto de conquistar o mundo

O oportunismo comercial republicano provocou a primeira flexão dos músculos estadunidenses, quando na presidência de William McKinley os EUA declararam guerra à decadente Espanha, para obter suas primeiras colônias, embora formalmente nunca assumissem a condição de colonizadores. Os maiores territórios conquistados foram Cuba, sob a justificativa de que os Estados Unidos haviam apoiado a luta dos patriotas cubanos, contra seus colonizadores opressores (na prática o país se tornou um protetorado); e as Filipinas, onde foi utilizada narrativa semelhante, porém as ilhas passaram a ser administradas diretamente por funcionários de Washington, como uma colônia.

Os Estados Unidos entraram no século XX como potência imperial, porém de segunda classe quando comparada com as potências europeias, apesar de já ter alcançado o posto de maior economia da Terra. O mundo de ainda era eurocentrado.

As grandes guerras do século XX encerraram a era europeia.

A participação dos Estados Unidos nas duas guerras mundiais foi iniciativa democrata Wilson e Roosevelt), sendo que os republicanos resistiram ao envolvimento nas questões europeias – provavelmente esperando lucrar com ambos os lados. A elite da costa nordeste percebeu que o conflito traria profundas alterações na ordem mundial, estabelecendo vácuos que seriam ocupados pelos Estados Unidos.

Objetivos além de derrotar o eixo

A elite intelectual, extremamente erudita, que assessorava o presidente Roosevelt considerou necessário entrar na Segunda Guerra Mundial, para obter alguns objetivos estratégicos: derrotar a concorrência industrial e tecnológica da Alemanha, para dominar os mercados globais; eliminar a disputa colonista com o Japão no Sul da Ásia, assim como na Oceania; e extinguir o Império Britânico. Este último objetivo, evidentemente nunca foi assumido, porém a negativa em apoiar o Reino Unido na sua tentativa desesperada de manter suas colônias e a humilhação imposta aos britânicos na crise do Suez, em 1956, não deixam dúvidas das intenções de Washington.

No projeto original, os EUA emergiriam da guerra com a hegemonia mundial, porém os estrategistas de Washington não previram que um país considerado subdesenvolvido, como a URSS, poderia sair tão poderoso militarmente do conflito.

De acordo com o historiador Kuznick, no livro que assina com Oliver Stone, Roosevelt tentou manter canais abertos com a liderança russa e integrar a União Soviética em um sistema de nações, liderado pelos Estados Unidos. Porém, após a morte do criador do Newdeal, seu sucessor, Truman, entusiasmado com o recém obtido poder atômico de seu país, adotou uma diplomacia imperial tosca e agressiva, o que originou a Guerra Fria.  

No período da Guerra Fria, as mais sangrentas guerras travadas pelos Estados Unidos foram iniciativa dos democratas, entre elas na Coréia, Vietnã e Iugoslávia.

A guerra de Bush contra o Iraque; que quebra o padrão, além de ser um conflito que envolveu a ONU e teve o apoio de países, como China, Rússia e Síria; pretendia manter uma ordem mundial, ainda sólida na época. Embora as tropas dos EUA fossem o núcleo das forças combatentes, inúmeros países se juntaram ao conflito, para enquadrar o ditador Saddam Hussein, um criminoso contra a humanidade perigoso, que havia atacado o Irã e provocado uma sangrenta guerra, que durou 10 anos; perpetrou um genocídio das populações curdas com armas químicas proibidas; antes de invadir o Kuwait.

A metamorfose republicana

A comparação dos democratas com os republicanos estadunidenses é pertinente para compreender o mundo atual e, consequentemente, os impactos das decisões de Washington sobre todos os países.

Tradicionalmente, os republicanos surgiram da oligarquia industrial, comercial, naval e bancária da Costa Leste dos EUA. Na virada do século XIX para XX, uma nova burguesia que surgiu dos negócios centrados em Chicago (metalurgia, transportes ferroviários e commodities rurais, basicamente), provenientes da expansão para o Oeste; começou a dominar o partido. Este grupo foi reforçado por bilionários do petróleo, que apareceram no Texas, em função das descobertas naquele estado e, também, pelos latifundiários, responsáveis pela remessa das commodities alimentícias para beneficiamento na região dos Grandes Lagos. Os novos bilionários, que dominaram o Partido Republicano durante a maior parte do século XX, sempre privilegiaram os negócios.

Perdendo espaço, para uma nova burguesia considerada tosca, aos poucos as oligarquias mais tradicionais passaram a migrar para o Partido Democrata.

Nos anos 1960, ocorreu uma nova mudança importante que afetou o perfil dos partidos estadunidenses. Foi quando o presidente democrata Lyndon Johnson; pressionado pela incontrolável crise social que se abatia sobre o país, tendo como principais motores os protestos contra a Guerra do Vietnã e a luta contra o racismo; decidiu promulgar a Lei de Direitos Civis, que proibiu a discriminação racial nos Estados Unidos. De acordo com o historiador Peter Kuznick, a decisão provocou uma debandada dos brancos sulistas do Partido Democrata, em direção ao Partido Republicano. Na época da instituição da legislação, na média o eleitor branco do Sul era preconceituoso, porém apoiava as políticas sociais, pois vivia em estados mais pobres, com menor renda familiar.

Direita religiosa abala a estratégia imperial

A mistura do caldeirão foi completada com a adesão da direita religiosa fundamentalista, liderada por bispos evangélicos com imenso poder de comunicação.

A influência dos bispos evangélicos fundamentalistas sobre o Partido Republicano cresceu em decorrência do empobrecimento da população dos EUA, provocado pelas políticas neoliberais extremistas. A rápida queda na qualidade de vida afetou a psicologia social das comunidades brancas, que em números cada vez maiores eram empurrados para bolsões de pobreza, que foram se formando no país. Essa base popular foi atraída pela minoria reacionária, que sempre existiu nos Estados Unidos, como por exemplo, os defensores do porte indiscriminado de armas.

A história assinala que o maior partido nazista fora da Alemanha foi organizado nos Estados Unidos e somente foi extinto, quando o país entrou na Segunda Guerra Mundial.

Os bispos que são, em geral, grandes oradores produzem um discurso extremista coerente, que dá sentido aos ressentimentos da enorme população empobrecida dos Estados Unidos. Os políticos ligados a esta nova direita, chamados de neoconservadores, ou neocons, passaram a dominar o Partido Republicano, superando até mesmo a burguesia tradicional, cujos candidatos somente se elegem com o apoio dos grupos nazistas, reacionários e fundamentalistas religiosos.

Os neocons têm como prioridade no plano da política internacional a aliança com Israel, pois os líderes religiosos com ampla influência no partido interpretam literalmente a profecia bíblica de que é necessário reconstruir o Templo de Salomão, para preparar a volta do Messias.

O poder dos neocons fundamentalistas na política dos Estados Unidos pode ser medito pela adoção do ensino criacionista na maioria dos condados (uma espécie de superprefeituras que reúnem um grupo de cidades próximas). Há também retrocessos em diversos aspectos da vida, como restrições cada vez maiores ao aborto e a ressurgência do racismo, pois os pastores dizem que Deus castiga os negros pelo crime de Caim.

As posições radicais dos neocons os levaram a uma aliança com o poderoso lobby israelense, pois as propostas de ambos os grupos coincidem para o Oriente Médio.

A reconstrução do Templo de Salomão exige a demolição da Mesquita de Al Aqsa, a segunda mais sagrada para o Islã, que foi erguida no mesmo local, onde ficava o antigo santuário judeu. O espaço estava vazio desde que os romanos haviam destruído o templo, pouco depois da época de Cristo, em uma das revoltas judaicas. Os árabes, que têm Jerusalém como um dos seus lugares santos construíram a mesquita, quando tomaram o território dos romanos bizantino, no século VII d.C.

Os neocons fundamentalistas defendem a expulsão dos árabes palestinos do território, para a constituição do Grande Israel e a reconstrução do Templo. O lobby israelense apoia plenamente esta proposta lunática.

Essa visão esdrúxula do mundo presente em um dos dois maiores partidos da maior potência militar do planeta tem importante efeito na política exterior estadunidense. O antigo pragmatismo, voltado aos negócios que caracterizava os republicanos no passado, perde espaço para um fundamentalismo antiquado, que prejudica a posição internacional do país. Um exemplo é a questão do Irã. Como argumenta o historiador britânico Peter Frankopan, desde a desgastante guerra entre o Irã e o Iraque, que durou dez anos, entre 1980 e 1990, a liderança iraniana que possui poder de fato procura um entendimento com os Estados Unidos.

Porém, após Barack Obama abrir uma porta para esta possibilidade, ao assinar o chamado grupo P5 + 1 – cinco membros do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha – que aceitou encerrar as sanções ligadas ao programa nuclear iraniano, em troca de seu desmantelamento; Donald Trump unilateralmente e sem qualquer justificativa desconheceu o documento.

A atitude de Trump atende aos interesses de Israel, que pretende evitar a emergência de uma potência concorrente no Oriente Médio; sendo, no entanto, prejudicial aos Estados Unidos, que perdem a cada dia mais espaço na região energeticamente mais rica da Terra – o território que vai do Mar Negro ao Himalaia contém as maiores reservas de petróleo, gás e carvão do mundo. Um acordo com o Irã poderia estabilizar a região e assegurar recursos inestimáveis para os EUA.  

Biden tenta retomar o acordo, porém o ambiente político nos Estados Unidos está tão rebaixado, que mesmo as decisões mais lógicas são extremamente difíceis.

Bannon é mero agitador

Trump foi eleito, aproveitando com oportunismo os movimentos neocons, entretanto ele não é um fundamentalista evangélico. O milionário é um especulador financeiro e político. Provavelmente ele nem mesmo é alinhado com o ideário fascista pregado, também de forma oportunista, por seu ex-assessor Steve Banon.

Como Trump, Banon é um aventureiro. Utiliza, com muita probabilidade sem acreditar, a estética do fascismo para dar estofo às suas manobras, cuja única intenção é vender uma estratégia de conquista do poder através do voto. As movimentações do marqueteiro da direita estadunidense podem chamar muita atenção e obter vitórias, como a de Trump, no Brexit ou no Brasil, porém sua cartilha; exceto no que diz respeito às técnicas de propaganda; é uma onda passageira, pois são ideias rarefeitas que não contêm um programa com soluções para a humanidade. Afinal, o que Banon propõe para a sociedade, além da tomada do poder por alguns malucos?

Nunca houve um período nos EUA de política externa tão confuso, como nos anos Trump. Exatamente por suas fragilidades estruturais programáticas, Trump e Banon não possuem conexões com o Deep State, o poder oculto nos Estados Unidos, que pode ajudar, mas também atrapalhar e, até controlar os presidentes.

No caso do Brasil, Trump elogiou e recebeu o gangster Bolsonaro, porém não tomou nenhuma medida concreta, para beneficiar o governo miliciano.      

Biden é o Deep State imperial

Biden, por outro lado, mantém relações estreitas com o Deep State. Ele é um político antigo e experiente. Como todo democrata tentará fazer alguma política pública favorável à população empobrecida do seu país. Esbarrará nos interesses das corporações, o que manterá a curva de decadência dos Estados Unidos.

Porém, na política externa, Biden retoma o estilo imperial agressivo dos democratas. As provocações nas fronteiras da Rússia, principalmente na Ucrânia, que concentrou mais da metade do seu exército no Leste, em posições que ameaçam Moscou; e os movimentos irresponsáveis no Mar da China, principal rota do comércio chines, são atitudes muito perigosas.

Aparentemente os estrategistas de Washington querem dar a lição aos russos ou chineses, provocando uma pequena guerra controlada em Dombas ou Taiwan. O plano provável é que ucranianos ou taiwaneses sejam usados como buchas de canhão. Os Estados Unidos tentariam se manter mais distantes, posicionando apenas pequenas tropas no solo e disparando de longe seu imenso poder de fogo. Desta forma, pretendem esmagar chineses e russos, como fizeram com os combalidos exércitos de Saddam Hussein, a fim de forçar negociações com os inimigos humilhados. O cálculo provável de Washington é que essa sequência de movimentos possa subjugar os dois grandes países, reafirmando a ordem unipolar estadunidense.

Como dizia Churchill, é possível saber como uma guerra começa, mas não como acaba. Iniciar uma guerra contra China, Rússia ou mesmo Irã pode ter um desfecho imprevisível. Os problemas, para obter os objetivos pretendidos são vários e a imprevisibilidade é ainda mais terrível, em se tratando de potências atômicas. Além disso os EUA podem se meter em um conflito em duas frentes e a história recente revela que esta armadilha é um caminho para a derrota.

Uma guerra entre potências desse porte sem dúvida alguma trará problemas ao Brasil, assim como para todos os países do planeta.

Desorganizar o Brasil é maior vitória dos EUA desde a queda da URSS

O jogo imperial dos Estados Unidos tem como objetivo é um mundo unipolar sob a hegemonia de Washington. Neste cenário não cabe o avanço de um país com o potencial do Brasil. Com seu imenso território, uma população que está entre as maiores do mundo, a força da economia que chegou a ser a sexta do planeta e a abundância de riquezas biológicas e minerais; se o Brasil for deixado para seguir sua trajetória, chegará muito rápido ao clube das maiores potências.

O governo dos Estados Unidos opera para deter a possibilidade de ter um poderoso concorrente no seu próprio hemisfério. Contando com a traição de uma das oligarquias mais atrasadas, vira-latas, antinacionalistas, coloniais e gananciosas da Terra, os operadores de Washington obtiveram no Brasil a sua maior vitória geoestratégica, desde a queda da União Soviética.

Se os Estados Unidos são capazes de ir à guerra, para obter seus objetivos particulares e contrários aos interesses da maioria da humanidade, pensar que não seriam capazes de fazer o mesmo com o Brasil, um potencial competidor, é de uma ingenuidade abissal.

Contudo, é possível virar o jogo. Há ventos novos soprando na conjuntura mundial e contradições, até mesmo dentro da elite estadunidense, além disso o que o golpe e a traição ofereceram ao povo brasileiro foi tragédia, miséria, fome e morte. A dor ensina e Lula é esperança.

Porém, a virada de jogo em um ambiente de guerra híbrida, invisível, porém extremamente destrutiva, não será fácil. É preciso que todos os brasileiros e suas lideranças tenham a estatura exigida nos grandes momentos históricos e não se neguem à necessária reunião de forças, para entrar no principal campo de batalha do atual momento da luta de classes no Brasil.

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