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Roberto Bueno

Professor universitário, doutor em Filosofia do Direito (UFPR) e mestre em Filosofia (Universidade Federal do Ceará / UFC)

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A entrevista de Lula na Rádio Gaúcha como metáfora do padrão da mídia corporativa

"Quando a Rádio Gaúcha realiza programa de 1h de duração com o ex-Presidente Lula tendo como pauta quase exclusiva a reiteração de acusações de corrupção a empresa está a refletir os valores da elite nacional", constata o professor Roberto Bueno

Entrevista de Lula à Rádio Gaúcha (Foto: Reprodução | Ricardo Stuckert)
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Neste dia 09.07.2020 o ex-Presidente Lula aceitou convite e foi entrevistado por três jornalistas em programa da Rádio Gaúcha (POA), empresa historicamente alinhada aos interesses da Rede Globo, algo observável durante a 1h de entrevista. Os termos gerais da entrevista foram anunciados sob a promessa inicial de tratamento cordial – “não seremos mal- educados” –, vocalizados pela jornalista K. Matos, anunciando que lhe alcançaria o favor concedido aos demais entrevistados na qualidade de ex-Presidentes, como foi o caso de Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso, Michel Temer, oscilando entre a falsa descontração inicial temperada por inocências e a agressividade programada.

Neste generoso espaço é inviável retomar mais do que alguns aspectos da instigante entrevista cujo valor reside, sem embargo, no papel desempenhado por Lula, mais do que pelos entrevistadores, cujas intervenções foram endereçadas a reforçar a percepção da criminalidade do partido do entrevistado ao tempo que sugerir a sua própria. Absolutamente nenhum dos sessenta minutos da entrevista foi dedicado à análise dos programas sociais concebidos e que trouxeram tanto bem-estar ao povo brasileiro e que lograram o singular êxito de retirar 40 milhões de brasileiros da pobreza e da miséria. Nenhuma palavra sobre esta façanha de dimensões universais, talvez equiparável ao prodígio operado pelo Plano Marshall, equipado com massivos recursos externos norte-americanos e aplicado com êxito sobre o devastado território europeu. Rigorosamente, nem sequer um mísero segundo da entrevista foi dedicado para analisar como a administração petista pode retirar o país do mapa da fome sem causar qualquer revolução nem sequer instabilidade social. Acaso seria esta pauta importante quando o país está sendo novamente reinserido no mapa da fome e que a crise sanitária e econômica em escala planetária conjugada com a política econômica norte-americana de extração aplicada por Paulo Guedes (ancorado pelo regime militar-bolsonarista) promete impor ao Brasil?

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Corriam 12min. da entrevista quando o jornalista L. Potter afirmou restar provado que o Partido dos Trabalhadores (PT) participara de “conluio”, e que o Poder Judiciário fez com que condenados regressassem aos cofres da União bilhões. Eis aqui o primeiro argumento que poderia oscilar entre a ignorância e a má-fé, apenas de não ser evidente, quando então já de ignorância não poderíamos falar. Não cabe desinformação do jornalista quanto a diferença oceânica existente entre a ação de indivíduos dentro da estrutura de partido ou Governo e uma ação coordenada para realizar a apropriação criminosa de recursos públicos. A afirmação do jornalista é de que o PT participou de esquema criminoso que qualificou de “conluio”, sobre o que afirmar a falsidade é o mínimo, argumento inserido na tentativa política de instrumentalizar o Poder Judiciário, revestido que é de manto de auréola de legitimidade orientado a excluir o PT da órbita de disputas eleitorais, vale dizer, as opções políticas populares, sobretudo em matéria de política econômica que deve ser contida em suas opções desenvolvimentistas e afirmadoras da soberania, conforme Lula e o PT praticaram.

No mesmo questionamento o jornalista L. Potter insistiu em delimitar o campo de respostas do entrevistado para que dissesse objetivamente se o PT participou do processo de corrupção, praticando “desvios éticos que rompiam com o programa que o PT criara lá em 1980”. Este era o campo, específico, sobre o qual o jornalista propunha que o Presidente respondesse, e justificava a sua pergunta, afirmando que “isto foi comprovado”, ou seja, desvios éticos e, embarcada, a corrupção. “O que aconteceu Presidente, porque o PT se meteu nesta?” O Presidente Lula organiza a sua resposta a partir do elogio inicial ao papel que a Lava Jato poderia ter desempenhado no combate à corrupção, recordando que os governos petistas investiram enormes recursos e estímulos institucionais e apoio político para que as investigações corressem livremente, sem interferências.

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Lula foi incisivo em sua defesa dos ataques reiterados de corrupção ao partido, sublinhando que o Presidente da Petrobrás, Sergio Gabrielli, era do PT e não esteve citado nem foi condenado no escândalo de corrupção; que o Presidente do Conselho da Petrobrás era do PT e não esteve envolvido; que o Conselho da empresa não estava envolvido; que, isto sim, dois diretores estiveram envolvidos, e eram pessoas concursadas na Petrobrás com 30 anos de serviço, além de pessoas da oposição que ocupavam postos. Lula certamente poderia ter ainda citado que os processos de corrupção na empresa remetiam à gestão de Fernando Henrique Cardoso, mas também aos tempos da ditadura militar, tal como informava o General Hugo Abreu em seu livro “O outro lado do poder”. Lula priorizou destacar a possibilidade de ocorrência de desvios tais como aqueles que hoje testemunhamos, e que sempre há “ovelhas negras” nos partidos, e que agora mesmo observamos como José Serra foi apanhado com R$40 milhões na conta em um dia, mas no dia seguinte já sumiu da imprensa. Lula chamou a atenção para o fato de que parte da responsabilidade de que certos indivíduos permanecessem ativos ali na Petrobrás era, em verdade, do próprio Sérgio Moro, que já tinha ordenado manter o doleiro Youssef sob escuta e tinha os seus contatos já bem conhecidos desde operações anteriores, como o caso Banestado.

Como vem ocorrendo em certos setores da falsificação da construção ideológica do “centro democrático” no Brasil ao tentar isolar Bolsonaro e Lula como “extremistas”, o jornalista Potter, incisivamente, logo secundado pela jornalista Matos, realizou a aproximação entre Lula e Bolsonaro em suas críticas à Rede Globo. Não se tratava ali realmente de pergunta a entrevistado, mas de dupla função ideológica e de defesa da empresa de comunicação contra as posições do entrevistado reconhecidamente crítico da linha ideológica e de política econômica da Rede Globo com a qual a Rádio Gaúcha é afinada. Nesta medida cabe perguntar sobre a condição de Lula: entrevistado? Lula respondeu ao nervoso inquérito jornalístico afirmando que não persegue a Rede Globo, mas que esta trata de forma diferente as pessoas, sublinhando que a empresa não gosta de Bolsonaro mas que adora a política econômica de Paulo Guedes, pois ela tem interesse nas privatizações e também em retirar direitos dos trabalhadores. Lula afirma que a divergência com a Rede Globo é política, que ele vem sofrendo acérrima crítica durante anos sem dispor espaço para expor as suas posições e razões. Direto e claro Lula afirmou: “Se alguém que fala que há semelhança entre eu e Bolsonaro é ignorância o má-fé”, logo listando todos procedimentos democráticos com a participação de milhões de pessoas e, logo, as conquistas de seu Governo.

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Sobre a questão judicial que o envolve assim como o PT, Lula diretamente explicitou a verdade aos ouvintes da Rádio Gaúcha: que a Lava Jato foi instrumentalizada para afastar o PT da disputa presidencial assim como também o golpe de Estado contra Dilma Rousseff, e sobre isto as provas começam a se avolumar. Sem embargo, é preciso que o PT tenha a clareza de que sem que a bandeira da tradução destas informações para a grande população, de pouco adiantará a confirmação destas provas para um pequeno grupo de cidadãos informados capazes de dissociar-se da máquina de trituração da verdade em que a mídia corporativa foi transformada por parte do grande capital transnacional de que é braço executor.

Lula foi interrompido pela Sra. Matos reclamando que explicasse as razões pelas quais valores tinham sido devolvidos por indivíduos se não tinha ocorrido corrupção. Rigorosamente, a resposta de Lula em nenhum momento negou o fato da existência da corrupção, mas a desvinculara de articulação por parte do PT, senão que atribuía a responsabilidade aos atos daqueles indivíduos. Ante a reclamação da interrupção por Lula, a Sra. Matos carregada de forte dose irônica disse que “eu sou ansiosa”, “eu tenho a crise de ansiedade”. Desnecessário comentar o desrespeito oceânico e despropositado. Lula completou a resposta afirmando que a imparcialidade do Poder Judiciário, como ocorre em outros países, se reflete na imposição de punição a quem pratique ato ilícito, mas não às empresas, pois isto atingiria indevidamente milhares de trabalhadores que nenhuma responsabilidade tem sobre os fatos ilícitos praticados por pessoas físicas em desfavor da administração da empresa. Lula reiterou desejar instituições policiais cada vez mais fortes, mas também responsáveis, e sublinhou que desde a sua posição de poder nunca orientou as ações da Polícia Federal, sequer quando ela esteve na casa de seu irmão. E para não deixar dúvidas Lula afirmou dirigindo-se aos ouvintes gaúchos: “Quem roubou pague pelo que fez. Você apurou, você provou, e qualquer um que roubou, não tem tamanho, não tem cor [...], vai preso. Agora, quem não roubou não pode ser acusado com falsidade”.

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Lula foi assertivo e encontra equilíbrio tal como requer o tempo presente, sem transpor o rubicão da cordialidade, mas permanecendo no mundo da delicadeza não curvou a espinha à oligarquia encarnada no verbo da imprensa à soldo. Lula criticou a Lava Jato e a Rede Globo na entrevista, reiterando que esta empresa não concede espaço ao político que saiu da Presidência da República com 87% de aprovação, e isto representa nada menos do que a mais cabal mostra de desprezo pela população do país. Lula recordou aos ouvintes que é diuturnamente atacado pela empresa enquanto o seu acusador Moro recebe espaços para dissertar sobre assuntos de sua conveniência sem perguntas incômodas nem ter de explicar sobre temas reveladores como as gravações do The Intercept e por qual motivo os seus telefones não foram até hoje periciados para que a verdade emerja. A posição crítica e assertiva de Lula é veiculada através do tom que os tempos requerem quando o que está em causa são os mais altos interesses do povo, rigorosamente, de vida e morte.

O tema corrupção foi igualmente a opção de pauta do jornalista D. Coimbra, propondo o tema em termos de ausência/presença dela durante a administração petista, se “não houve mancha no PT durante todo este processo”. A orientação da pergunta era conducente a que o entrevistado não pudesse, logicamente, negar a ocorrência de algum caso de corrupção. Permeia o ar a ideia era extrair a todo custo do entrevistado que algo havia ocorrido. A esperteza era o subterrâneo da pergunta, posto que é sabido que inexistem quaisquer administrações públicas, em qualquer latitude, na qual casos de corrupção não ocorram. Portanto, a pergunta jornalística adequada sempre é quais são as medidas adotadas pelo responsável político em caso de corrupção e desvios, e, também, se há casos de participação de indivíduos da agremiação política no poder envolvidos e, ainda, se ademais de quadros há qualquer organização setorial de diversos deles envolvidos em atividades destinadas a impor perdas econômicas à população.

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A questão do jornalista Coimbra aponta para apenas um horizonte, a saber, obter a admissão de casos de corrupção para que a população recebesse a tão desejada confirmação. Baixa armadilha, pois angula a questão sobre o pressuposto de que seja possível ocorrer alguma gestão pública sem qualquer ato de desvio deste gênero, e não seja exigível do administrador mais do que não compactuar, ao tempo em que ordenar a devida investigação e, sendo o caso, da devida punição nos termos da lei. O foco da entrevista de Lula à Rádio Gaúcha, sem embargo, foi outro, e mais uma vez, aquele tipicamente imposto pela mídia corporativa brasileira, a saber, de criminalizar o Partido dos Trabalhadores (PT), criminalizar as suas lideranças e, por conseguinte, deslegitimar politicamente e desabilitar juridicamente a ambos, instituição e atores, para futuros pleitos políticos e retardar o seu eventual regresso ao poder.

Recordemos que nos primeiros momentos quando abria a entrevista, e pretendendo apontar para o horizonte a ser percorrido, a jornalista, Sra. Matos, apresentava a Lula a promessa de que “não seremos mal-educados”, assim como ocorrera com os demais ex-Presidentes entrevistados. Sem embargo, não economizou a transigência com os autodeclarados ideais éticos e, atirando o código deontológico para fora do estúdio, de chofre, desembainhou a peixeira contra a dignidade do homem que ao concluir seu mandato presidencial contava com 87% de avaliação positiva do povo brasileiro: “Presidente, o senhor roubou?” Como ouvinte a primeira pergunta que me fiz foi: O que faria esta repórter quando não tivesse prometido tão solenemente o tal “não seremos mal-educados”? Realmente, me questionei do que seria ela capaz de lançar mão para cumprir seus fins profissionais? No limite, me perguntei em que poderia incidir quando realmente fosse mal educada.

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Do que pode ser ainda capaz a imprensa brasileira encarnada em espíritos jornalísticos como os da Sra. Matos ou da Sra. V. Magalhães? Espíritos jornalísticos homólogos ainda à solta na mídia corporativa brasileira reiteram a sua capacidade de dar curso ao insustentável empenho de maximizar fatos com magnitude tal a ponto de ocultar montanhas de cadáveres e de recursos públicos que poderiam tê-los salvo. Seguem estas figuras ocupadas da operação de salvação das reputações de suas empresas a expensas das suas próprias relegadas a plano secundário. Estas são forças midiáticas que dão continuado testemunho histórico de esforço em triturar a vida de dezenas de milhares de brasileiros(as). Será a estultice apenas a única amarra ao ódio que conduz o ânimo profundo de gente que não logra atracar o seu pensamento no porto do real?

A repórter desembainhou a dúvida sobre “roubo” do Presidente Lula quando este atacou incisivamente a Lava Jato, quando questionou os reais interesses que moveram a operação, apontando que estava orientada para promover a destruição da indústria civil e naval brasileira. Lula sublinhou que eram grandes empresas que trabalhavam em todos os continentes, e aqui estava localizado o interesse dos Estados Unidos. Lula foi taxativo: “Deltan mentiu, Moro mentiu, não foi juiz, foi cabo eleitoral, e continua mentindo até hoje”. Nestes termos é preciso ter clareza sobre quão imperioso é que o PT assuma o compromisso de expor cruamente a verdade a céu aberto ou tanto esta como as próximas gerações continuarão colonizadas pelas acusações de que o partido roubou o país, de que as suas lideranças o traíram, mantendo a falsificada narrativa sobre a condenação de Lula, possível apenas em face da manipulação em diversas esferas do Poder Judiciário através de estratégias que proximamente as profundezas da inteligência norte-americana trará à luz em face dos movimentos de reorganização do poder naquela nação para que, como diria Tomasi di Lampedusa em seu Il Gattopardo, tudo continue da mesma forma, malgrado sob a efusividade geral de que novos tempos chegam.

A entrevista foi conduzida sob a pauta única das acusações e busca de alternativas momentâneas para dar curso ao argumento de que o entrevistado era homem a quem os tribunais haviam julgado corretamente e não havia ponderação ou razões de sua parte que merecessem ser devidamente analisadas desde a sua ótica. Os entrevistadores brandiam versão dos fatos e a brandiam contra o entrevistado como se se tratasse de borduna. Lula teve a sua honorabilidade colocada sucessivamente em dúvida sem rubor nem contenção. Ao parecer, a ordem era o ataque, continuando todos cobertos sob o manto do combate à corrupção que, como temos observado nestes tempos, é daquele tipo de veste bastante curta.

Tamanha inquietação com a corrupção, sem embargo, não foi suficiente para levar algum dos três jornalistas a perguntar ao ex-Presidente e experiente político onde podem ter ido parar os R$1.45 trilhão que foram retirados das arcas do Estado brasileiro recentemente e entregues aos bancos em parcelas de R$1.25 e R$200 bilhões. Dinheiro sumido nas fundas e gulosas gavetas da banca privada brasileira que divide lucros entre acionistas e repassa prejuízos ao Estado sob a bandeira de “mais capitalismo e mais competição”. Reiteremos: a astronômica quantia de R$1.45 trilhão não alcançou os necessitados brasileiros(as) todos com encontro marcado com a morte enquanto os dedicados repórteres não economizam tempo para atacar dar azo à sanha anti-PT. Tampouco manifestaram interesse por perguntar a avaliação do ex-Presidente sobre o fato de que os desvios não geraram devoluções superiores a, aproximadamente, R$5 bilhões. E da casa de quantos bilhões foram os prejuízos impostos às empresas? Nenhuma curiosidade. Os jornalistas não solicitaram a opinião de Lula sobre os valores da casa de aproximados R$10 bilhões que a Petrobrás foi obrigada a pagar aos investidores norte-americanos, assim como tampouco lhe foi solicitada avaliação sobre o famoso fundo que a Lava Jato pretendia gerir, a magnífica importância de R$2.5 bilhões e que foi impedida tão somente devido a intervenção da PGR na gestão de Raquel Dodge para que, tão somente agora, Deltan Dallagnol diga que “talvez tenha sido um erro”. Nada sobre isto.

O declarado interesse e virulência no combate à corrupção por parte dos jornalistas da mídia corporativa é, no mínimo, muito curioso, pois toda atenção concedem ao desvio de valores cuja escala de grandeza é infinitamente menor do que outros que perturbam gravemente a vida nacional a ponto de conduzir brasileiros(as) à morte, ou alguém duvida quantas vidas poderiam ser salvas durante a presente pandemia com o R$1.5 trilhão entregue sem condições aos bancos? Absolutamente nenhuma palavra dos dedicados repórteres da Rádio Gaúcha, como tampouco da grande mídia corporativa brasileira, que reiteradamente aborda a escassez de recursos para tantos gastos sociais indispensáveis neste momento de crise e também ao tratar da necessidade de realizar privatizações como declara o Ministro Paulo Guedes volta a insistir.

Lula explicitou ao público ouvinte diversas vezes o que estava em causa relativamente à Rede Globo, este genuíno câncer que atropela a consecução da história de afirmação da liberdade do povo brasileiro, do desenvolvimento e de sua soberania. Lula foi claro sobre aspectos não mencionados por Haddad em sua entrevista no programa Roda Viva neste dia 07.07.2020. Não se trata de questão de estilo, mas de o partido estabelecer mínimas linhas discursivas e de prioridade para intervenções públicas, algo que pode ser dispensável, mas não em tempos nos quais o acesso à mídia corporativa está, praticamente, censurado. É preciso que o partido esclareça à população quem são os atores que operam contra os seus interesses, e a Rede Globo é empresa que encarna historicamente os interesses da oligarquia nacional, que hoje passa a operar duplo eixo midiático em conflito, mas com interesses econômicos comuns.

Lula aproveitou a rara oportunidade e foi ao grão citando o FBI, a interferência dos EUA nos assuntos internos brasileiros e, por fim, na própria soberania nacional, e também explicou como pode o desmanche das empresas nacionais através da Lava Jato. É disto que se trata, é este o objetivo maior a cumprir neste momento quando o campo popular consegue espaços na grande mídia corporativa. Lula compreende que a melhor opção de que dispõe a esquerda é desbravar o caminho de acesso à entorpecida consciência nacional dada a atordoante intervenção da mídia corporativa casada até há pouco com as massivas campanhas de redes sociais embebidas em notícias falsas.

As atividades de manipulação também foram perceptíveis na entrevista a em face do silenciar quanto a revelações comprometedoras da soberania nacional e que expunham o interesse norte-americano como a presente no Wikileaks, que apresentava as posições de Temer e Serra quanto ao petróleo nacional, mas também a omissão dos entrevistadores quanto às recentes revelações das gravações do The Intercept, como tampouco foram mencionadas pelos jornalistas as últimas revelações sobre a intervenção do FBI junto à Lava Jato em Curitiba, malgrado Lula os tenha provocado ao citá-las. Tudo isto aponta para o fato de que a grande mídia corporativa brasileira constrói uma narrativa que precisa isolar certos elementos da realidade, evitar problematizar, ir aparando arestas pois apenas assim consegue manter a mínima higidez e plausibilidade de sua estória.

É de extrema importância compreender que esta é a metáfora da imprensa corporativa brasileira que oscila entre silenciar os representantes legítimos da população brasileira, algo que remete a, no mínimo, de ¼ da população, e, quando muito, conceder espaço para armadilhar. Isto é absolutamente inaceitável. São sucessivos os testemunhos deste desapreço da mídia corporativa pela população brasileira, mas se propusesse uma síntese, diria que poderia encontrar bom resumo em um ponto: Lula, ex-Presidente de amplo sucesso e reconhecido internacionalmente, não foi questionado sobre quais seriam as suas alternativas para reverter o atual grave quadro da economia nacional e da situação do mercado laboral que aflige toda a nação.

Quando a Rádio Gaúcha realiza programa de 1h de duração com o ex-Presidente Lula tendo como pauta quase exclusiva a reiteração de acusações de corrupção a empresa está a refletir os valores da elite nacional cujos interesses não coincidem com o futuro da nação brasileira. A abordagem da empresa que traduz o estado de ânimo da elite mostra preocupação com falsificar a construção de falso centro ao isolar, por um lado, o “radical corrupto” e, por outro, o “extremista de direita”, para viabilizar o parto do novo centro. A realização deste movimento neste preciso instante apenas evidencia a grave indiferença da elite com a aflição do povo acerca da real ameaça de extermínio.

E para que não reste qualquer dúvida, na entrevista com Fernando Henrique Cardoso nenhum dos repórteres perguntou se o tucano era ladrão, malgrado seus diversos apartamentos mundo afora, sítios e muitos etc. Ao menos em vida nunca existirá conjunto suficiente de indícios que levem à suspeita de FHC que já foi descrito por Moro como aliado a quem não se pode “constranger”. Este é o momento em que estamos. O mundo que perdemos recentemente foi construído pelo esforço de todos nós sob a liderança de Lula e da estrutura petista recheada das virtudes e das mazelas que todo fazer humano necessariamente contém. O que precisamos reconquistar foi desenhado por Lula em sua entrevista ao comentar as tentativas da segurança da Presidência da República de evitar que comparecesse a determinado evento por temer abordagens que avaliavam arriscadas, ao que ele respondeu: “E seu algum travesti me beijar, eu também beijo, eu não tenho este preconceito”. Este foi o Brasil de Lula e do PT ontem, logo ali no tempo, há pouco, e ele era leve, futuroso e também soberano, livre, mas que está aqui hoje ainda latente em algum lugar, e deve ser o nosso horizonte para reconstruir o amanhã.

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